Sem solução imediata, vai faltar água em Itabira na estiagem, prevê engenheiro do Saae, que reforça projeto do rio Tanque
O engenheiro Jorge Borges, ex-diretor técnico do Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Itabira (Saae), e atual coordenador pela autarquia da comissão encarregada de acompanhar os trâmites para viabilizar o projeto de transposição de 600 litros por segundo (l/s) de água do rio Tanque, descartou outras alternativas de captação de água, em palestra virtual realizada nessa quarta-feira (10) pelo Rotary Clube Itabira Cauê.
Para os próximos 30 anos, a demanda da cidade, conforme constava no projeto de parceria público-privada, que estava para ser executada até a Vale assinar Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com a mineradora Vale, era de um reforço de 200 l/s.
Esse volume se somaria à produção atual de cerca de 400 l/s captados no córrego Pai João (ETA Gatos), poços profundos das Três Fontes e Areão, além dos mananciais Pureza e Rio de Peixe (atualmente dos poços profundos da mina Conceição).
Com o projeto de transpor 600 l/s, como está no TAC, a Vale poderá fazer uso da água excedente para concentrar itabiritos em suas usinas de concentração.
A outorga deverá ser obtida pelo Saae. “O nosso grande desafio hoje é encurtar o tempo previsto de seis anos para concluir o projeto rio Tanque”, considera o engenheiro do Saae.
O período elástico de tempo é atribuído à necessidade de se obter, preliminarmente, a outorga pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), como também as respectivas licenças ambientais prévias, de instalação e de implantação, para só depois o Saae dispor da licença de operação.
Essas concessões podem ser dificultadas por se tratar de transposição de bacia. A previsão é que esse processo leve até quatro anos – e dois anos subjacentes seriam o prazo previsto para execução das obras de captação e adução até a estação de tratamento dos Gatos, que terá de ser mais uma vez ampliada.
O investimento previsto para a Vale alocar na transposição até a ETA Gatos é da ordem de US$ 30 milhões – cerca de R$ 166,5 milhões pelo câmbio desta quinta-feira (11).
Desabastecimento
Na estiagem deste ano, conforme já adiantou o presidente do Saae, José Antônio Lopes, é bem possível que novamente a população de Itabira sofra com a falta de água, como já vem ocorrendo em alguns bairros, mesmo com as chuvas intensas deste ano.
Para a solução dessa escassez, o Saae ainda não tem alternativas. Desde o ano passado, com a contaminação por manganês da água da barragem do Rio de Peixe, que reforçava a ETA Pureza, a Vale passou a fornecer 150 l/s captados em poços da mina Conceição.
O mais certo é que o Saae venha a recorrer, mais uma vez, aos poços profundos da Vale, dos aquíferos que foram prometidos como grande legados da mineração após a exaustão das minas.
“Dequech (ex-superintendente da Vale) dizia que Itabira não precisava buscar outras fontes de abastecimento, pois as cavas exauridas serão grandes reservatórios”, confirmou Jorge Borges o que vem publicando este site Vila de Utopia. Leia aqui.
Esse “legado” agora está comprometido com a disposição de rejeitos nas cavas das minas Periquito e Onça. Leia aqui e aqui.
“Em 2001, descobriu-se que a capacidade desses aquíferos estava limitado a 160 l/s”, disse Jorge Borges. Mas só que ele se refere à produção máxima já alcançada pelos poços artesianos operados pelo Saae nas Três Fontes.
Entretanto, de acordo com estudo apresentado pelo Saae para justificar a transposição de água do rio Tanque, a Vale bombeia atualmente mais de 1,2 mil l/s de poços profundos em suas minas.
Atraso histórico
De acordo com Borges, foi só depois de se constatar a inviabilidade de aproveitar as águas dos aquíferos, armazenadas nas minas exauridas, que Itabira retornou, com atraso de 30 anos, com o projeto de captação de água do rio Tanque. E, como fez o governo passado, ele defende essa opção como sendo a única alternativa viável e definitiva para abastecimento em Itabira.
Para Jorge Borges, as alternativas apontadas pela Fundação Christiano Ottoni, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), não são suficientes para atender à demanda de Itabira.
“Ribeirão São José é bem inferior ao rio Tanque. Tem potencial de apenas 80 l/s e teria que fazer barramentos. Foi descartado mesmo com reforços de outro manancial próximo da Belmont e da cachoeira Santa Cruz.”
Só que ele não citou a alternativa de captação de água do rio Santa Bárbara, que consta do estudos de alternativas da Fundação Christiano Ottoni. Serviria de reforço para o manancial Pureza, que sofre grande pressão da expansão imobiliária na região, além da poluição do Distrito Industrial.
Com o engenheiro do Saae não concorda o ex-secretário municipal de Meio Ambiente Nivaldo Ferreira dos Santos, que participou da reunião virtual do Rotary. Ele se apega às alternativas apontadas pela Fundação Christiano Ottoni, que considerou a opção do rio Tanque como sendo a alternativa mais cara.
“Se somar a produção dos mananciais menores, num sistema integrado, chega-se a mais de 500 l/s. Por que insistir no projeto mais caro e centralizado?”, ele quis saber.
Mas ficou sem resposta, com a reunião sendo encerrada com a promessa de que a pergunta seria respondida por escrito pelos dirigentes do Saae.
Expansão e especulação
Pelo projeto original da PPP do rio Tanque, o manancial da Pureza seria desativado, assim como a captação de água dos poços profundos das Três Fontes e Areão.
Com isso, a região próxima do parque de exposições e do posto agropecuário ficaria liberado para a expansão de Itabira, sem “entraves ambientais.” Bom para os empreendedores e especuladores imobiliários.
E, também, para a Vale que ficaria com as águas dos aquíferos exclusivamente para o seu processo industrial, além do reforço adicional, por muitos anos, da água excedente captada do rio Tanque.
Em uma reunião no ano de 2013 na Câmara Municipal de Vereadores a respeito da água e sua falta em Itabira, já era o governo Damon, o Jorge Borges foi representando o SAAE.
Falaram falaram e eu solicitei a palavra. Disse a respeito do esforço ad aeternum de guerra que Itabira tem de fazer desde a II Guerra Mundial. Disse a respeito da transposição que ocorrerá da bacia do Rio Santo Antônio para a do Rio Piracicaba.
O Jorge respondeu que não existe esse esforço de guerra, desconhecedor da história que ele é, bem como disse que não há problema algum nessa transposição de bacias, por serem os rios regionais.
O antigo secretário de meio ambiente, Nivaldo, sempre foi favorável por essa utilização dos mananciais mais próximos do centro de Itabira, bem como com a preocupação em os reservatórios/represas e tratamentos da água serem descentralizados.
Infelizmente o governo do Damon foi muito desorganizado e não conseguiu determinar esses caminhos para a captação da água e logo depois veio o prefeito Ronaldo Magalhães que sempre pautou grandes obras municipais com seus poupudos orçamentos.
Quem perderá é toda a cidade, pois se der um mínimo problema nessa transposição da água do ribeirão do Tanque, estará comprometido o abastecimento de toda a cidade de Itabira.
Irônico o nome do Rotary Clube Itabira / Cauê/. Usar o nome Cauê para um clube de estadunidenses é uma afronta, é um desaforo…
Continuarei dizendo: Mineração não dá lucro para os territórios onde estão instaladas; a mineração é prejuízo, é destruição e morte.
Mas Itabira é da Vale S/A. Triste fim, sem água