Menos poeira e muita cultura com diversão e arte, o mês de outubro promete ser uma grande festa em Itabira
Imagem: Reprodução/ Divulgação
Por Carlos Cruz
Com as bem-vindas chuvas prazenteiras antecipadas na Primavera, como se o Verão estivesse furando fila, outubro começa no domingo (1), com Itabira mais uma vez em festa e colorida, já se preparando para celebrar os seus 174 anos de emancipação política, na segunda-feira (9).
A programação preparada pela Prefeitura é intensa e extensa. Inclui a abertura das comemorações do Centenário de Daniel Grisolia (1923-70), com a inauguração de busto do ex-prefeito na avenida que leva o seu nome, além de exposição memorialística no Museu de Itabira.
Outra inauguração será do jardim e do busto do escritor Cornélio Penna (1896-1958), com o prefeito Marco Antônio Lage (PSB) atendendo a um pedido de Carlos Drummond de Andrade, formulado em 1958, na crônica Imagens da Terra, Itabira e Romance:
“Não sei se Itabira prestou ou prestará qualquer homenagem ao romancista falecido há pouco, mas se alguém já mereceu de uma cidade um busto no jardim ou pelo menos dar nome a uma rua, esse é Cornélio Penna. Nasceu em Petrópolis por um desacerto entre temperamento e registro civil. Na verdade, nasceu, viveu e morreu interiormente em Itabira”, escreveu o poeta itabirano ao sugerir a justa homenagem prestes a ser realizada.
A homenagem a Cornélio Penna, com a inauguração do jardim e do busto, esculpido pelo artista Genin Guerra, assim como é também de sua autoria o busto de Daniel, será na Semana da Comunidade, na praça da rua Major Paulo, ao fundo do Museu de Itabira, onde também haverá exposição com parte de seu acervo literário e ilustrações (gravuras).
Para saber mais sobre Cornélio Penna, acesse:
A arca literária de Cornélio Penna e de Itabira
Um causo de Cornélio Penna, contado por Peregrino Júnior
Murais
A cidade de Itabira já está colorida com as flores dos ipês e quaresmeiras, mas ficará ainda mais com os desenhos e as pinturas dos artistas-grafiteiros itabiranos e famosos nacionalmente como Zéh Palito, Mag Magrela e o italiano Millo.
Eles virão à cidade para participar da primeira Mostra de Arte Pública (MAPA), um presente da Prefeitura de Itabira e da Associação Cultural Casinha aos itabiranos e visitantes, com produção e curadoria da Pública Agência de Arte e parceria do Consulado da Itália em Minas Gerais.
Segundo os idealizadores, o objetivo é potencializar a arte e a cultura por meio de pinturas em paredes laterais (empenas) de edifícios e instalações públicas, lançando novos olhares e cores sobre o patrimônio cultural de Itabira, criando-se uma galeria a céu aberto.
Itabira literária
Após os festejos do aniversário da cidade, outra festa se prepara com a realização do 3º Festival Internacional Literário de Itabira (Flitabira), que acontece entre 31 de outubro (aniversário de Drummond) e vai até 5 de novembro.
Na prática, a festa literária e artística já teve início com a exposição Portinari Negro, instalada na Praça do Areão, composta por 42 reproduções de telas de Candido Portinari – e também a com abertura das inscrições para o tradicional Concurso de Redação, mobilizando a comunidade estudantil do município.
O concurso acontece consonante com o tema do festival deste ano (Arte, Literatura e Correspondências), em mais uma homenagem ao escritor itabirano Carlos Drummond de Andrade, que além de poeta e cronista, foi também um célebre e contumaz missivista.
Drummond gostava de escrever aos amigos extensas cartas com a sua letra miúda, depois datilografadas, com temas diversos sobre o tempo presente e as suas inquietações sociais e filosóficas. Ele também respondia a todos que lhe escreviam, sem deixar nenhum missivista sem resposta, um gentil homem, como diria Baudelaire.
Troféu Juca Pato
Para esta edição, a programação do 3º Flitabira reserva boas e já anunciadas novidades, que darão um toque especial a mais nesse festival que já vira tradição na cidade que já foi toda de ferro.
Uma das grandes atrações já anunciadas será a entrega do Troféu Juca Pato de Intelectual do Ano, concedido pela União Brasileira dos Escritores, à escritora mineira Conceição Evaristo, um acontecimento literário de repercussão nacional.
Será, sem dúvida, o ponto alto do festival, no sábado (4 de novembro), às 21h, com direito à mesa de debate com participação também ilustre da ministra Carmen Lúcia, do STF, especialmente convidada.
Mais visitas ilustres
Durante os sete dias do festival literário, não será surpresa se o itabirano e visitantes encontrarem com escritores consagrados, quando estiverem seguindo outro conselho de Baudelaire, como um “‘flanêur”, um “espectador apaixonado” andando pela rua Tiradentes, no centro histórico, fazendo parte também das atrações do festival literário de Itabira.
Assista o vídeo abaixo para conhecer a montagem do Flitabira no Centro Histórico de Itabira:
Na Semana Drummondiana, como convidados do Flitabira, devem passar por Itabira cerca de 100 escritores e escritoras, que participarão de palestras, debates, aulas-espetáculos e sessões de autógrafos para todas as idades (infantil, infanto-juvenil e adultos).
Entre esses escritores e celebridades convidados estão Aílton Krenak, Alexandre Amaro, Andréa Pachá, Carmen Lúcia, Conceição Evaristo, Danilo Miranda, Eliana Alves Cruz, Estevão Ribeiro, Eugênio Sávio, Fabrício Carpinejar, Fabrício Conde, Flávia Rocha, Ivan Vilela, Jamil Chade, Jefferson Tenório, João Carrascoza.
Devem vir também a Itabira João Candido Portinari, José-Manuel Diogo, Leo Cunha, Kakay, Lívia Sant’Anna Vaz, Márcia Kambeba, Márcia Tiburi, Marco Lobo, Marcello Dantas, Marcos Assunção, Maria Ribeiro, Mariana Paz, Paloma Jorge Amado, Pasquale Cipro Neto, Paula Pimenta, Pedro Drummond, Raquel Cané, Rejane Dias, Ricardo Prado, Ricardo Ramos Filho, Roberto Corrêa, Rodrigo Lacerda, Rogério Robalinho, Rosiska Darcy de Oliveira, Rosa Freire D’Aguiar, Sérgio Abranches, Silvana Gontijo, Simone Paulino, Tino Freitas, Trudruá Dorrico, Wagner Schwartz entre tantos outros convidados e que já confirmaram presença.
Os eventos serão exibidos pelo YouTube, com sessão de leituras de cartas por atores, atrizes e escritores. Paralelamente, no Twitter, acontecerá o Concurso Nacional de Palíndromos CDA, o #desafiopalindromoCDA121, sob a curadoria de Leo Cunha e Ricardo Cambraia, experts no assunto. Tudo porque 121 é um palíndromo. O professor Pasquale Cipro Neto foi convidado para ser jurado.
Lugar de memória
Para esse grande encontro literário acontecer seguindo a geografia e os caminhos históricos da terra natal de CDA, lugar de memória e de vida que ainda pulsa, será montado um circuito cultural que se estenderá do histórico paredão da rua Tiradentes/praça Eurico Camilo, em frente ao Banco do Brasil, até a praça do Centenário, em frente à Casa de Drummond e o Museu de Itabira.
“Eu acredito que festival literário que se preza é aquele que consegue mexer com a geografia da cidade”, diz o jornalista Afonso Borges, idealizador e organizador do Flitabira. “O turismo é uma vocação da cidade, Itabira tem essa vocação de museu de território”, complementa como proposta cultural, o que incluem também os Caminhos Drummondianos, que precisam ser revitalizados até a abertura do festival como parte do circuito cultural e literário.
Do circuito participam também estabelecimentos de gastronomia e artesanato, palco onde se apresentarão músicos de viola caipira, além de uma grande livraria com espaço para crianças, auditório em frente à Casa de Drummond, onde o poeta residiu com os seus pais e irmãos até a adolescência.
O encerramento do Flitabira, no domingo, dia 5/11, será totalmente dedicado à programação infantil e infanto-juvenil, com debates, recreação, lançamentos de livros e muitas brincadeiras na Praça do Centenário, tendo como estrela principal a escritora Paula Pimenta.
Como a se vê a programação é intensa. Como se dizia em Itabira no tempo do Onça, e do Cometa, “quem perder é mulher do padre”. Não do padre Fábio de Melo, que não será dessa vez que virá à terra de Drummond para participar do Flitabira, mas de quem não aprecia a literatura e a arte, achando que tudo é balbúrdia, festa pagã sem se reconhecer na cultura que anda efervescente na cidade, que respira poeira, mas também poesia.