Modelos sociais e tirania do lucro dominam o mundo em permanente crise econômica 

Veladimir Romano*

Nas últimas visitas ao território alemão, verificamos que são muitas as preocupações que incomodam a psicose dos habitantes de um dos países fundadores da União Europeia, economicamente dos mais importantes.

A desigualdade social é histórica e não há perspectiva de acabar: o mundo se torna mais reacionário e concentracionista (Acervo Veladimir Romano)

Se sente por um lado o desinteresse das populações pela política, enquanto se observa, mesmo não sendo um fenômeno novo, o descrédito na lideranças fiáveis, capazes, abrindo portas perigosas quando certa margem do povo encaminha as suas frustrações pelas decisões radicais, com o parlamento e até o governo gerando más energias de  outros tempos causadoras de muita desgraça, tormento e perdição.

Quando na entrada do novo ano de 2019, o ministro [novo, ex-prefeito da cidade portuária de Hamburgo], Olaf Scholz, disse que o tempo das vacas gordas passou. Os habitantes dessa Alemanha ficaram apreensivos, até mesmo mudando sua vontade democrática, assumindo outras atitudes suicidas contra o governo eleito [CDU com SPD], defensor dos apoios aos quantos migrantes em fuga de várias localidades com graves conflitos, na ordem de milhares, protegidos pela bandeira da Alemanha Federal. Esse louvável compromisso virou armas de arremesso dos ultradireita e populistas.

Todo esse processo vem desde a década de 1980. E foram se acentuando sucessivas anemias do conteúdo democrático, do efeito e jeito entendido pela geografia ocidentalizada, incapaz de envolver diretamente cidadãos como reforço do controle democrático.

Com a queda e desfeita completa das nações do Leste europeu, novos caminhos se misturaram [perdendo a realidade política seu cariz ideológico] ao desmando.

Com isso, o oportunismo e a criminalidade financeira em vários níveis cresceram, chegando-se à noção neoliberal do capitalismo descontrolado, carregando seus marginais, com inovações perversas desde então arrastando economias a nível planetário de crise em crise, jamais vistas.

Ganha-se com isso espaço exagerado para suas manobras, mas também anunciando muitos obstáculos.  Afinal, a tão propagada felicidade capitalista em diagnóstico frontal, apenas anuncia gigantesca falência, comprometendo gerações presentes e futuras, adiando qualquer forma de crescimento e superação da crise sem que haja consenso na relação desse dito desenvolvimento entre economistas.

Tudo permanece nas teorias, gira e se reflete em volta do dinheiro e mais dinheiro, generalizando como tem sido a criação de quase uma crença perante diagnósticos meramente identificados na força financeira, em domínios dentro da ordem lobista minada, destruindo ou desarmando modelos sociais.

Definitivamente, o poder global das multinacionais encaixam liberdades ilimitadas ao mercado, o que gera ondas de alta violência, silenciosa ignorância. Pela maneira como foram geridas essas economias, estabeleceu-se a perigosa programação conflituosa para a elite, escondida dentro do sistema dos mercados, a baralhar em favor único do sistema.

A crítica é crucial para despertar consciências adormecidas, na fila d’alguma possível esperança risonha pela valorização humana. É bom reter na pedagogia atual sobre o momento que essa globalização não queira ser o equivalente, por partes, em igualizar oportunidades ou aprofundar tais economias quando se vê cada processo solidário da base social sendo dissolvida. É quando entram novos modelos onde miséria, pobreza, fome e fracasso da justiça generalizam. Chega-se ao lado bizarro, até suicida do sentimento humano, com o consentimento de teorias convenientes da minoria dominando o panorama.

Mais uma e tantas vezes, o sistema de capitais e produção favorecem posições pela elaboração entre transformações da riqueza, ainda não compreendidas nem o resultado desastroso confirmado nas diferenças negativas da “economia global”.

O resultado desastroso é o elevado índice de desemprego geral em várias regiões do planeta, arruinando sociedades, levando outras ao nível paupérrimo de bens preciosos, chegando-se ao nível dispendioso a preços proibidos noutras sociedades, onde créditos são concedidos para consumo. Criam-se assim ciclos viciados quando dividendos nunca terminam: é a forma especuladora ganhando.

Assim, se por um lado denota esta gula econômica desesperada no comando destrutivo do sistema social, a escassez doutros é a outra parte dessa história colocada como desafio ao mundo, onde o medo já se mistura com notícias falsas ou fabricadas no propósito justamente das geografias mantidas fiéis ao subdesenvolvimento.

Desastres ambientais e mortes são recorrentes e ficam impunes, como os de Mariana e Brumadinho: resultado do lucro desenfreado (Foto: CBMG)

Os EUA continuam em expansão, mas países do mesmo continente ao sul, os latino-americanos, seguem em regressão. Protegidos pela influência direta da economia chinesa, os asiáticos se desenvolvem crescendo, equilibrando diferenças sociais, dividindo melhor suas receitas.

Desse modo, praticam justiça social, ainda que os salários sejam baixos, aparecendo com maior segurança quando comparado com outras nações do “ranking”, contam palpitações de uma certa classe dirigente.

A extensão do sistema onde essa maneira de fazer democracia abre portas a tudo quanto julgamos ser de realidade democrática, mas que tem sido historicamente o exato e revelador desastre mais tarde percebido, com a combinação de múltiplos dramas falsificados na sedução duma clara ruptura entre o consciente tomado pelo inconsciente num mundo desentendido.

Sucessivamente se observa o despreparado, quando se chegam a desastres naturais, com essa situação suscitando mudanças para as quais estamos levando tempo demais para entender.

Contudo, o maior desastre será aquele que seres humanos andam causando em suas sociedades, destruindo processos sociais apenas pelo prazer de alguns quantos desejarem manter suas mordomias, baralhando o benefício social que ajudou na construção da paz, harmonia e confiança entre povos pela evolução humana.

Veladimir Romano é jornalista e escritor luso-caboverdiano

 

 

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