Vale lucra US$ 995 milhões no segundo trimestre e diz ao mercado que mineração em Itabira continua com disposição de rejeitos nas Minas do Meio

Carlos Cruz

Em comunicado divulgado nessa quarta-feira (29) ao mercado, a mineradora Vale informa que lucrou US$ 995 milhões no segundo trimestre deste ano, depois de amargar prejuízo de US$ 239 milhões no trimestre anterior.

Para a empresa, diferentemente do que ocorreu em outros setores econômicos, a pandemia com o novo coronavírus não causou tantos estragos em sua produção e na exportação de minério. Isso por não ter ocorrido interrupção de sua produção, depois que a mineração foi reconhecida como sendo de “utilidade pública” pelo governo federal.

“Nos seis primeiros meses de 2020, o impacto da pandemia da Covid-19 nos custos e despesas da Vale foi de US$ 112 milhões, sendo US$ 85 milhões em despesas com iniciativas para combater a pandemia, tais como doações de testes rápido e equipamentos de proteção individual aos governos federal e estaduais e apoio a hospitais e unidades de saúde locais, e US$ 27 milhões no aumento de custos nas operações”, informa o diretor-presidente da mineradora, Eduardo Bartolomeo, em nota distribuída ao mercado.

O lucro no segundo trimestre foi obtido, principalmente, com a alta do preço internacional do minério de ferro, cotado a US$ 93,3 a tonelada para o teor ferrífero equivalente a 62%, como é o caso do pellet-feed produzido em Itabira, além da hematita de Carajás (PA), que não precisa ser concentrada.

Pesou também no balanço favorável a forte valorização do dólar frente à moeda brasileira. Outro fator importante foi a recuperação do mercado global de minério de ferro, principalmente na China, o seu principal comprador.

Segundo a mineradora, o momento crítico para o mercado de minério de ferro parece ter ficado para trás. E que a demanda já começa a se recuperar, ainda que lentamente, já a partir deste semestre, principalmente com as medidas de estímulo à construção civil, altamente demandante de aço, implementadas pelo governo chinês.

Barragens

A promotora Giuliana Fonoff abriu vários procedimentos, inclusive para a Vale proteger os aquiferos e assegurar o seu legado para Itabira (Fotos: Carlos Cruz)

A Vale informa também ao mercado que a produção de minério em Itabira está assegurada, mesmo tendo havido a interrupção das obras de alteamento da barragem do Itabiruçu.

Para isso, as usinas do complexo Conceição já estão utilizando a filtragem e disposição de rejeitos nas cavas Onça e Periquito.

A alternativa é apresentada como sendo de curto prazo, depois que foi impedida de dispor rejeitos na barragem que está com as obras de alteamento suspensas. Para isso, já obteve licença ambiental Leia mais aqui e aqui.

A disposição de rejeitos na barragem do Itabiruçu foi suspensa em outubro do ano passado, por decisão judicial, que acatou pedido do Ministério Público Estadual. Segundo informou a promotora Giuliana Talamoni Fonoff a este site, a empresa está autorizada a realizar, neste ano, somente as obras de reforço da barragem.

“As obras em Itabiruçu serão realizadas somente para reforçar a sua estrutura. O novo maciço subirá até a altura atual da barragem, sem ampliar o nível e a sua capacidade de armazenamento”, disse a promotora em entrevista a este site.

Ainda de acordo com a promotora, após a execução das obras de reforço é que será avaliada a possibilidade de a empresa dar continuidade ao projeto de alteamento da barragem. Leia também aqui.

Aquíferos

Acesso às águas dos aquiferos foram prometidos pela Vale como grandes legado da mineração após a exaustão das Minas do Meio

Para não comprometer o legado da mineração para Itabira, após a exaustão das Minas do Meio, que seria a disponibilidade dos recursos hídricos (cerca de 1,2 mil litros por segundo) dos aquíferos, a Vale terá que adotar uma série de medidas mitigadoras. Leia aqui.

E para assegurar, já de imediato, o suprimento de água na cidade, a mineradora deve assinar, em agosto, um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público. Por esse TAC, a Vale irá arcar com os custos da transposição de água do rio Tanque para abastecer a cidade – e atrair novas indústrias para se instalar no município.

Com isso, fica suspenso o processo de transposição de água do rio Tanque, como projetava o prefeito Ronaldo Magalhães (PTB), para quem a condicionante da água havia sido cumprida pela mineradora.

“É a alternativa definitiva para o problema da falta de água em Itabira”, anunciou. “Se for o caso, depois cobramos da Vale pelo investimento”, justificou na ocasião do anúncio da PPP como panaceia, que seria paga pela população por meio de aumento da tarifa, para a falta de água na cidade. Leia aqui e aqui. 

Alternativas para disposição e processamento de minério a seco

Disposição de rejeitos nas Minas do Meio já foi iniciada como medida provisória até o desenvolvimento de novas opções para esse fim

A Vale está desenvolvendo meios alternativos para a disposição de rejeitos a seco em pilhas, a exemplo do que já ocorre com o material estéril retirado das minas para extrair minério de ferro de suas lavras. O processamento (concentração) a seco é outra alternativa que está sendo pesquisada e desenvolvida pela mineradora.

Para isso, uma segunda planta-piloto de concentração magnética de minério de baixo teor – como é o caso do que resta em Itabira – foi instalada no Centro Tecnológico de Ferrosos (CTF) da Vale, em Nova Lima (MG). A primeira planta-piloto já se encontra em operação na mina de Fábrica, em Congonhas.

A planta-piloto instalada em Nova Lima foi desenvolvida pela New Steel, empresa adquirida pela Vale no fim de 2018. Terá capacidade de concentrar 30 toneladas por hora de minério a seco, utilizando a tecnologia de separação magnética, feita por meio de imãs de terras raras.

A mineradora informa que é o primeiro passo para a construção de uma planta industrial, que se espera venha a ser implantada em Itabira, inclusive para o reaproveitamento de parte das reservas antropogênicas constituídas pelos rejeitos, com teor de ferro acima de 30%, depositados em suas barragens

“A New Steel coloca a Vale na vanguarda dos investimentos em tecnologia de processamento de minérios. Vamos continuar buscando soluções que aumentem a segurança de nossas operações”, afirma diretor-executivo de Ferrosos da Vale, Marcello Spinelli.

Já para 2024, a Vale projeta beneficiar 70% de sua produção a seco ou a umidade natural, com a nova tecnologia, sem adição de água no processo. E o que é mais importante, sem depositar rejeitos nas perigosas e ameaçadoras barragens de contenção.

Atualmente, a empresa informa que 60% da produção de minério já é processado a umidade natural, em Carajás (PA). O investimento previsto para o processo de filtragem e empilhamento a seco, nos próximos anos, é de US$ 1,8 bilhão.

“As primeiras unidades a utilizar a técnica serão as operações de Vargem Grande, em Nova Lima, Pico, em Itabirito, Cauê e Conceição, em Itabira, e a mina de Brucutu, em São Gonçalo do Rio Abaixo”, adianta a mineradora.

 

 

 

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1 Comentário

  1. Itabira tem voz de poeta! Itabira tem grande mineradora! Itabira não tem povo que ama a sua terra. A Cidadezinha sobrevive na memória (aqui na Vila tem duas plataformas: Dívida história e Drummond). Itabira, a cidade ainda em pé está perdida no tempo. Triste sina.

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