Uma forte e perigosa adição ao carbono…
Veladimir Romano*
Talvez seja da competência de cada gabinete político, com seus responsáveis pelo Ambiente, criar alertas e objetivos concretos escoltando respostas inclusivamente parlamentares, preparativos como do lado de um desejado mensageiro trazendo a notícia boa, pronta de esperança…
Como adiantou Hugo Morán, secretário ambientalista interino do improvisado governo espanhol: «20 dos países mais ricos provocam 78% das emissões e assim temos o aquecimento do clima crescendo a três graus quando deveria apenas chegar em um e meio».
Mario Rodríguez, diretor da Greenpeace espanhola, falou impressionado de como nunca havia assistido a uma tão consistente manifestação nos últimos trinta anos… «A luta ambiental é uma maratona e estaríamos muito pior acaso não insistíssemos através destas manifestações».
Vamos escutando ao azedume dos onze mil cientistas mandando provas e muita matéria que a maioria não consegue digerir. Apanhados de surpresa: existem 35 mil toneladas de lixo químico escondido na Normandia, coisa que vários governos da França nunca souberam dessa existência ao longo dos últimos vinte anos.
Mais: junto da costa marítima do Atlântico Norte, em cálculo estão nos fundos 34 bilhões de múltiplos armamentos militares desde tempos das duas guerras [lembro que na última reunião sobre oceanos em Monte Carlo, ficou aflorada a que o mar pudesse ser “patrimônio da humanidade”] entre resíduos químicos…. incrédulos ficamos perante tamanho feudalismo político!
Repentinamente, alguém na grande sala improvisada em redação central comunitária grita, levantando braços e afirma: «Claro, é isso mesmo, descobrimos agora que afinal foi nos motores de Babel onde começou toda a nossa poluição…».
Muita frustração, até raiva no falar dos representantes ambientalistas. Faltou pouco para afirmativamente dizer que todas as organizações mundiais em defesa desesperada pelos bens que a natureza nos deu, renascendo como cogumelos, aplicaram nas suas criticas, apresentaram propostas esclarecidas, mas que poucos governos querem escutar.
O desafio é gigantesco e o dinheiro para estas ocasiões, nunca aparece, não chega, é complicado quando muito dessas verbas ficam escondidas nos milhares de pequenos oásis fiscais espalhados pelo nosso insignificante universo terráqueo.
Não é sem surpresa que se adivinhava desfecho ruim no final da conferência. O Brasil dificultando, aumentou níveis derrotistas ao processo, contudo não morou sozinho na situação; Austrália, Estados Unidos, Egito, Estados Árabes, Arábia Saudita e mais quantas nações marginais complicaram em várias formas a Direção pelo Clima, desesperados e sem saber como fazer com qualquer possível oportunidade pelo cuidado que o planeta e alteração climática está prometendo.
Poucos escutaram assim o apelo urgente dos povos ilhéus do Pacífico onde se lê agonia, incerteza, submissão e muito medo pelo futuro.
Já nem vale a pena apontar números pela quantidade vazia dos conteúdos deixados pelo sistema financeiro do jeito que coloca suas teorias cínicas quando ainda não acabando uma conferência, já adiantam soluções [enganadoras] datando Glasgow na Escócia do próximo ano com nova conferência para continuar dançando este tango suicida.
Muito se debate, entretanto, pouco se assume ou nenhuma realização se concretiza nesta que já se nota como uma forte e perigosa adição ao carbono… uma droga da qual o sistema capitalista não consegue aplicar antídoto.
Profundamente lamentável tanto dinheiro [mais de 500 milhões de reais foi quanto custou a COP-25] aplicado numa cúpula internacional finalizando assuntos importantes para todo o mundo. E o que se viu foi certas elites, inclusive do Brasil, diplomaticamente boicotando, desprezando, tomando partido de certos irresponsáveis governamentais, servindo-se a interesses reservados na escuridão.
*Veladimir Romano é jornalista e escritor luso-caboverdiano
Foto: Nacho Doce/Reuters