O grande suicídio da civilização

Veladimir Romano*

Terríveis abusos sem qualquer qualificação estão limitando tarefas sobre uma quantidade de jornalistas que não pode nem deve ser ignorado; andam no topo dos dias aberrações, se caso publicamente alguns responsáveis políticos e militares do mundo global subindo fasquias violentas: daqui, não sabendo nós como anda a liberdade quando se coloca o jornalista na linha da frente cumprindo suas tarefas.

A última das piores notícias vem desde Malta, pequeno Estado situado no mar Mediterrâneo, local quase despercebido mas de relevância histórica. A ilha foi bombardeada ao longo de novecentos dias; seja, quase tanto tempo quanto aquele que levou a Segunda Guerra mundial. Ali foi morada em diferentes ocasiões várias bases navais inglesas e até no passado longínquo, portugueses com suas caravelas também figuram na lista dos residentes casuais.

Depois da independência do regime colonial britânico, Malta, pertence ao grupo das nações com entrada na União Europeia ainda que sendo local de lavagens financeiras, pavilhão marítimo de conveniência [bandeira protegendo armadores fugindo das taxas, seguradoras e obrigações laborais], refúgio alegre de várias organizações criminosas, lugar de muito turismo, como virou famoso cemitério de embarcações náuticas de todo o tipo.

Ilha de Malta, pequeno Estado situado no mar Mediterrâneo: perseguição e assassinato de jornalistas (Fotos: Google)

Poderia ficar por aqui; mas não, aos poucos desde finais dos anos 70, a crescente ordem criminosa foi dominando tudo até atingir forças do poder. Assim, nova promiscuidade enreda hoje chefes governamentais, empresários, polícias e comissários da lei. Das últimas manifestações de rua que foram contagiando nações, a Itália é aquela que mais tem respondido, daí algum impacto está tendo a recente demissão do maior responsável policial: Lawrence Cutajor, que nega responder [mesmo afastado das funções] sobre o assassinato da jornalista investigadora: Daphne Caruana Galizia, assassinada faz semanas.

O forte desta investigação estava sobrando faz vários anos quando a mesma jornalista descobriu contrabando de petróleo vindo da Líbia com receita favorecendo grupos islâmicos terroristas dominando a região de Bengazi. Atraindo o serviço de inteligência italiano da luta contra o crime organizado, a inspetora Rosy Bindi, afirmou ser esta também, infelizmente, boa oportunidade das forças policiais juntarem estratégias contra este crime igualmente vitimando jornalistas no cumprimento da sua missão.

Faz anos que Malta anda sendo vigiada quando se transformou em campo fértil das atuações da máfia italiana. Daqui, tanto interesse das autoridades judiciais italianas manterem severo controle nas 221 milhas marítimas [355klm] separando a Itália desta ilha, tanto quanto fica o outro lado: a descontrolada Líbia.

Entretanto, várias estão sendo as manifestações de repúdio pelo assassinato da infeliz repórter do jornal “Malta Independent”, onde Daphne Caruana Galizia iniciou seu caminho. Um pouco mais distante, na Turquia, jornalistas e empresas “mídia”, estão tendo uma existência difícil. São 150 jornalistas detidos [incluindo outros intelectuais] sem culpa formada ou qualquer acusação válida, mas com penas abusivas até 15 anos [hppt://newssafety.org] está manchando toda a imagem da nação de Mustafa Kemal Atatürk.

Foi aumentando este clima terrorista projetado pelo governo fanático do agora presidente Recep Tayyp Erdogan. Arrasando o erário público quando decidiu construir palácio presidencial nas colinas de Ankara onde gastou 21 bilhões de reais na emblemática construção trinta vezes maior que a Casa Branca. A Turquia, nos seus 78.665 milhões de habitantes, conserva 17.11% em nível abaixo da pobreza, segundo dados da Indexmundi de 2008.

Ainda na Turquia, depois da grande manifestação em Istambul no dia 26 de junho de 2016, ninguém esquece as mais de duas mil e quinhentas pessoas ligadas às mídias, acusadas de “traição à Turquia”, foram encarceradas sem mais explicações; desde então, 160 empresas de comunicação espalhadas pelo país também estão fechadas. Os próprios juízes mandando libertar vários jornalistas, mais tarde foram expulsos dos tribunais por decreto presidencial envolvendo quatro mil juízes, advogados e outros membros regionais ligados na justiça.

Foto da ilha de Malta, via satélite

Contudo, o Instituto Internacional de Segurança dos Jornalistas, identifica na Colômbia, México, Honduras, Iraque, Afeganistão, Síria, Líbia, Níger, Sudão; os países mais perigosos na existência quotidiana de qualquer jornalista. Em 2016, foram assassinados 115 repórteres, onde treze nações reservam como primazia na impunidade grosseira outra forma violenta caindo contra quem procura cumprir suas tarefas através das reportagens.

A pergunta é óbvia: quem tem medo do Jornalismo? Ora, o mesmo instituto [INS] informa que nos dez anos últimos, perto de 30% dos assassinatos nem chegaram na justiça para qualquer obrigatório julgamento. Novamente assim: Bangladesh, Nigéria, Paquistão; depois entre Somália, Filipinas morreram mais 65 jornalistas, enquanto na Síria morreram 17, no Brasil 15 e 9 na Rússia.

Tanto a Comissão da Proteção dos Jornalistas [Commitee to Protect Journalists], como outras abrangendo direitos humanos, não conseguem ultrapassar limitações tanto ingratas quanto traiçoeiras pela defesa absoluta dos repórteres no mundo. Voltando à corajosa Daphne Caruana Galizia, trinta anos de trabalho árduo, ingrato, mas feito com muita valentia, saber e exemplar profissionalismo, criaram montanhas de inimigos que ela foi desprezando, acreditando mais na justiça do seu trabalho, nunca acreditando no lado perverso da corrupção.

Em temas recentes publicados na imprensa, ela acusou o primeiro-ministro: Joseph Muscat e sua mulher, como a porta-voz governamental: Keith Schembi e o ministro da energia: Konrad Mizzi; todos ligados a companhias ilegais lucrando bilhões, juntando a tantos negócios mais vendas de passaporte maltês por 2.275 milhões de reais à unidade, a governamentais do Azerbaijão. O governo de Malta também foi ajudando na lavagem financeira várias multinacionais, drogas e armas, avaliado em mais de 54 bilhões em moeda brasileira. Tudo está bem detalhado e esclarecido quando em 1996, começaram denúncias e, desde então, a montanha não mais deixou de parir ratos carregados de moléstia.

Mais: vários jornalistas anônimos igualmente divulgaram já em 2008 ligações de políticos e governantes da ilha ao Panamá… conexões perigosas que pelos vistos serão apenas conjuntura ameaçadora a quem pretenda executar suas responsabilidades profissionais em dia. O exemplo não é virgem e jornalistas continuarão sendo vítimas pelo defeito idealista de querer uma civilização melhor, mais realizadora no bem, combatendo aqueles que procurando avidamente o suicídio da nossa civilização, julgam ser esse o caminho.

* Veladimir Romano é jornalista e escritor luso-caboverdiano, colaborador deste site Vila de Utopia

 

 

 

 

 

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