Todos contra a reforma da Previdência e o corte de verbas da educação ganham a avenida João Pinheiro em Itabira

Em todo o país, a manhã desta quarta-feira (15) foi de protesto contra a reforma da Previdência e do bloqueio anunciado pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub, que reduziu em 30% as verbas destinadas às universidades federais, além de bloquear recursos para as bolsas de pesquisa.

Em Itabira, a manifestação reuniu um grande número de estudantes, professores, trabalhadores do ensino, metalúrgicos, mineiros e aposentados unidos contra a política neoliberal do presidente Jair Bolsonaro (PSL).

Estudantes protestaram contra a reforma da Previdência e corte nos orçamentos das universidades (Fotos: Carlos Cruz e Reproduçao)

Ao retornar dos Estados Unidos, onde encontrou várias portas fechadas, mesmo bajulando a política do ultranacionalista liberal presidente Donald Trump, Bolsonaro fez pouco caso das manifestações.

“É natural que haja protestos, mas a maioria dos (participantes) é militante. Se for perguntado a algum deles qual é a fórmula da água, a maioria não vai saber responder”, desdenhou o presidente, para quem os manifestantes fazem parte de uma “minoria espertalhona que compõe o núcleo das universidades federais”, classificou.

“São uns idiotas úteis, massas de manobra”, rotulou, numa reação que pode servir para colocar mais combustível e ampliar a paralisação geral convocada pelas principais sindicais do país para o dia 14 de junho.

Caras-pintadas contra Collor (Foto: O Globo)

Foi algo assim que aconteceu com o movimento dos (as) caras-pintadas, em 1992. O histórico movimento tomou conta das ruas de todo depois que o ex-presidente Fernando Collor (1990-92) pediu apoio da população contra o seu impeachment.

Resultado: virou o maior movimento de massa já registrado no país depois da campanha pelas Diretas Já, no início dos anos 80, que exigia eleição direta para presidente.

A emenda Dante Oliveira (PMDB), que reestabeleceria a eleição direta suprimida pela ditadura militar, foi derrota. Mas a campanha foi decisiva para o fim do regime militar (1964-85).

Manifestações

Reconstrução da UNE foi frustrada pela repressão ao III Encontro Nacional de Estudantes, em 1977, impedido de ocorrer em BH pela repressão (Reprodução)

Em Itabira, a campanha contra a reforma neoliberal do governo reuniu, sobretudo, universitários e servidores do campus da Unifei, que entraram em greve aprovada em assembleia nesta terça-feira (14).

Só para a Universidade Federal de Itajubá, que inclui o campus de Itabira, o bloqueio de recursos previstos é da ordem de R$ 10,8 milhões. Em todo o país o bloqueio já está acima de R$ 7,4 bilhões.

A manifestação teve início às 10h, com concentração em frente à estação Rodoviária, no parque da Água Santa. Seguiu pela avenida João Pinheiro até a praça Acrísio de Alvarenga.

“Quem tem medo de formiga, não mexe no formigueiro.”

“Todos os direitos que conseguimos foram alcançados com muita luta e sangue derramado”, discursou o representante do Departamento Estudantil da Unifei, Marcos Vinicius de Souza, para quem permitir esse ataque do governo contra a Previdência e o bloqueio de recursos da educação é uma desonra pela luta do passado. “Estamos lutando pelo nosso direito e das futuras gerações”, disse ele, conclamando estudantes e trabalhadores para a greve do dia 14.

O vice-presidente do sindicato Metabase, Carlos “Cacá” Estevam Gonzaga, lembrou que nenhuma conquista do trabalhador foi obtida sem lutas. “Nunca o capital defendeu o direito dos cidadãos. O corte do governo nas universidades não é para fazer economia, é para tirar o direito de o trabalhador estudar, e de quebra beneficiar as universidades privadas”, acusou. “Conseguimos parar a reforma da Previdência de Temer e vamos derrotar a reforma de Bolsonaro.”

O professor universitário Leonardo Reis, ativista do Comitê Popular dos Atingidos pela Mineração em Itabira e Região, disse que, com o corte de recursos na universidade, o governo quer acabar com as instituições de ensino, com a pesquisa nas universidades. “Nós, trabalhadores e estudantes estamos de volta às ruas para defender um patrimônio que é do povo, que é a universidade brasileira”, discursou ainda em frente da rodoviária.

Professores também engrossaram a manifestação contra a política de Bolsonaro

“Queremos construir uma universidade necessária não para as empresas, paras as elites, mas para o povo brasileiro”, reivindicou o professor, que pediu uma universidade democrática e participativa.

“O que lutamos é por uma universidade que construa conhecimentos para apoiar os atingidos pela mineração, para melhorar a saúde do trabalhador, para apoiar a agricultura familiar, camponesa, que é esmagada pelo agronegócio”, defendeu o ativista e professor universitário.

“Não podemos aceitar esse corte na educação e devemos dizer não à reforma da Previdência, que quer que você trabalhe até morrer”, conclamou o professor Felipe Ferreira, do Sindicato Único dos Trabalhadores de Ensino em Minas Gerais (Sindi-Uti).

“Estamos maravilhados de ver vocês, estudantes, na luta com os professores da educação pública. Educação não se trata com chocolate”, disse o coordenador sindical, ironizando a comparação infeliz feita pelo ministro da Educação ao tentar justificar os cortes anunciados.

A luta continua

Ana Gabriela Chaves Ferreira, professora e moradora do bairro Joao XXIII, disse achar bonita a participação da juventude e conclamou os estudantes a continuar na luta mesmo depois que for revertido o corte nas universidades.

Ana Gabriela, professora: a luta é também pela qualidade do ensino básico

“Vocês estarão juntos com a gente contra os cortes do Fundeb (Fundo Nacional de Educação Básica)?”, ela quis saber, lembrando que a educação é direito de todos garantido pela Constituição Federal, da creche ao ensino superior. “É responsabilidade compartilhada de todos.”

O sindicalista Auro Gonzaga, presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Servidores Públicos Municipais de Itabira (Sintsepmi), classificou a manifestação como um dos movimentos mais bonitos e participativos que ele já viu em Itabira. “Político só respeita os nossos direitos quando o povo está nas ruas. Vocês são os responsáveis pelo futuro do país”, disse ele, dirigindo-se aos estudantes.

Tuani Guimarães, “louvou” Bolsonaro por reunificar a luta de trabalhadores e estudantes

A cientista social e ativista do comitê Popular dos Atingidos pela Mineração, Tuani Guimarães, “louvou” Bolsonaro por ter reunificado a luta dos trabalhadores e dos estudantes.

“Já derrotamos a reforma da Previdência em 2017 do governo Temer e vamos derrotar a reforma do Paulo Guedes (ministro da Fazenda). Educação não é mercadoria que se vende na Bolsa de Valores.”

Roberto Fernandes Silva, presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Metalúrgica de Itabira, lembrou que a redução de 30% na educação e a reforma da Previdência prejudica toda a classe trabalhadora.

Eustáquio Liberato: luta permanente e histórica

“Infelizmente, muitos sindicalistas não estão cumprindo o seu papel e ainda têm esperança com esse governo Bolsonaro, que é tão bandido que está comprando votos de deputados que também são bandidos. São R$ 40 milhões de verba que serão distribuídos para os parlamentares votarem a favor da reforma da Previdência”, denunciou.

Representando os pais de alunos, o aposentado Eustáquio Liberato, recordou as lutas do passado como ativista das Comunidades Eclesiais de Base (Cebs), que surgiram dentro da Igreja Católica, na década de 1960, como forma de organização do povo em sua luta por melhores condições de vida.

“Sou aposentado e ganho pouco mais do salário mínimo. Mas meu filho estuda na Universidade federal de São João Del Rey onde faz jornalismo. No futuro ele vai reportar toda a covardia que esse desgoverno está fazendo contra as universidades, contra o trabalhador e o aposentado.”

 

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