Rejeito, documentário do cineasta Pedro de Filips, aborda o terrorismo das barragens-bomba contendo lama de minério

Lama de minério na barragem do Pontal, em Itabira, Minas Gerais

Foto: Reprodução/
Rejeito

Se Minas são várias, também são muitas, e assustadoras, as barragens existentes no estado, sendo as mais ameaçadoras as estruturas que contêm rejeitos de minério, a lama assassina que matou moradores em Bento Gonçalves, Mariana, e em Brumadinho, causando mortes com destruição continuada e permanente por onde passou.

“É o único lugar no mundo onde existem centenas de barragens de rejeitos de mineração com milhões de pessoas abaixo delas. Estamos vivendo, na realidade, ameaçados por bombas-relógio. Não podemos aceitar simulado numa área em que não há chance de se salvar. Se o mundo souber o que está acontecendo aqui, o mundo vai ficar estarrecido”, diz uma voz de mulher em off, na abertura do documentário Rejeito, produzido e dirigido pelo cineasta Pedro de Filips.

O documentário, o primeiro longa-metragem do cineasta, aborda o que chama de “terrorismo” de barragens, situação que Minas Gerais passou a viver principalmente depois do rompimento, em 5 de novembro de 2015, da barragem de rejeitos de Fundão.

A barragem era operada pela mineradora Samarco, uma joint-venture da multinacional brasileira Vale e da anglo-australiana BHP Biliton. A lama que escorreu destruiu a vila de Bento Rodrigues, em Mariana, provocando 19 mortes, deixando um rastro de destruição permanente e continuada em 230 municípios da bacia hidrográfica do rio Doce, em Minas Gerais e no Espírito Santo.

Se não bastasse toda essa tragédia ambiental e humana, em 25 de janeiro de 2019 ocorre outro crime anunciado, ainda sem punição, em Brumadinho, com o rompimento de barragem de rejeitos da mina de Fundão, essa operada exclusivamente pela mineradora Vale e que era classificada como de baixo risco de ruptura.

O triste e trágico saldo desse crime ainda sem castigo foi a morte de 270 pessoas, entre trabalhadores, moradores e turistas, sendo que três vítimas ainda estão desaparecidas, soterradas pela lama que continua causando estragos ambientais e humanos ao longo do rio Paraopeba, na bacia do rio São Francisco.

Fonte: Reprodução/Atlas do Problema Ambiental Brasileiro

Ameaça permanente

Foi quando Minas Gerais descobriu que está sob ameaça permanente das barragens-bomba, principalmente Itabira, que tem no entorno da cidade mais de 15 estruturas – as maiores do estado, e que estão mostradas no documentário.

No território mineiro estão instaladas 364 barragens, sendo que 350 são de rejeitos. Dessas, 48 foram construídas pelo método de alteamento a montante, considerado menos seguro, como se alguma dessas estruturas fosse totalmente segura, ou por método desconhecido.

Só a mineradora Vale dispõe de 82 barragens em Minas Gerais e outras 15 no estado do Pará, de um total de 134 estruturas. Em um processo lento de descaracterizado, a empresa já extrapola os prazos fixados em lei para o descomissionamento dessas estruturas alteadas a montante, sendo que pelo menos uma delas, a de Conceição (Zé Cabrito) está acima de áreas operacionais e administrativas da empresa – e todas acima de muitos bairros da cidade.

A lei também determina a realização de simulados de ruptura com participação de moradores que vivem abaixo das barragens – um ato que muitos consideram de terrorismo para o salve-se quem puder em caso de ruptura, quando a lama arrasta e destrói tudo que encontrar pela frente.

São essas situações dramáticas e assustadoras que o documentário Rejeito está divulgando pelo mundo, abordando “o terrorismo de barragens”.

“Nos últimos dias aconteceu a estreia nacional (do documentário) no Festival Internacional de Cinema Ambiental em Goiás. Levamos o prêmio de melhor direção, o que me enche de força. Também já tivemos as estreias na França e no Canadá”, informa o cineasta Pedro de Filips, para quem o documentário é um instrumento de luta de todos os que se sentem atingidos pela mineração e suas barragens-bomba.

“Foram quatro anos de dedicação de muitas pessoas para que mais uma história de resistência reverbere. Vamos continuar a caminhada! Eu só tenho a agradecer por ter a oportunidade de aprender a me expressar através do cinema, contando histórias que me tocam e com tanto apoio e carinho de pessoas que me inspiram profundamente.”.

O filme Rejeitos está disponível na plataforma do festival FICA por um curto período. Para assistir, acesse: https://ficatv.com.br.

E para saber mais sobre a mineração em Minas Gerais, acesse:

ATLAS_Final_Online_230613_193242-2

Posts Similares

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *