A Europa que não esquece do horror de duas guerras mundiais teme a volta do fascismo

Veladimir Romano*

Com sucessivas realizações eleitorais pela Europa, na soma geral dos números, o testemunho é flagrante: se sente que a Europa não esqueceu seus períodos mais conturbados quando ditaduras fascistas ocupando privilegiado espaço político, criaram a pior de todas as épocas sociais que a Humanidade acabou conhecendo

Não é exagero e só parece normal a quem realmente tenha esquecido o passado do território europeu onde nasceram duas guerras de âmbito mundial, morrendo milhões de vítimas das loucuras de uns quantos. Com a construção da Comunidade Econômica Europeia [CEE], estabelecendo estratégia preventiva a mais conflitos tão sangrentos e desumanos, sempre se pensou que esse crescimento e a construção de mais nações juntas numa união, esses males teriam seus dias contados; mas assim não demonstra atualmente, eleição após eleição, do quanto de suicida ainda mora no inconsciente de alguns membros da sociedade europeia.

Protesto em Viena contra o partido fundado por ex-nazistas (Foto: Heins-Peter Bader/Reuters)

Depois das conturbadas eleições francesas, holandesas e alemãs; com holandeses arrumando a casa doze meses depois e os alemães somente agora depois de cinco meses procurando solução amigável entre os maiores partidos [totalmente antagônicos: conservadores e progressistas] mas, como falou Martin Schulz dos sociais-democratas [SPD]: “A necessidade de assegurar um governo com a CDU para o país, é maior que o egoísmo partidário”; levou ao entendimento, evitando assim a nova Aliança para Alemanha [AfD]com tendência neofascista, de chegar no poder.

A influência de uma moda derrotista parece não incomodar quem chega na caixa dos boletins e vota sem convicção política mas antes com raiva e ódio da velha classe política e do muito das crises que a sociedade padece no presente. Com a modelagem psicótica alterada e o egoísmo acelerado dos tempos modernos onde níveis consumistas quase andam transformando pessoas em zumbis automatizados, não surpreende o que vai acontecendo.

Basta seguir o diário do Reino Unido e apreciar a tremenda confusão instalada nas terras de sua majestade por causa do famoso Brexit, que agora muitos rejeitam. Mas ninguém indaga os venenos irresponsáveis dos líderes do novo partido populista UKIP, que foram lançando na sociedade, agora escondidos, calados, evitando a imprensa.

Nas eleições austríacas [decorrentes em outubro de 2017], mais uma vez a força do populismo neofascista reapareceu em grande estilo, dando vitória com 37% para o novo Partido Popular [OVP]. E o que vem pagando o pato, é outra vez a questão xenófoba contra migrantes, refugiados, estrangeiros e a lenga-lenga mal cheirosa de sempre.

Com tantos problemas sociais ocupando preocupações dos povos europeus, desemprego, fugas financeiras bilionárias atraiçoando o sistema fiscal, crime organizado crescendo, traficância de pessoas indefesas, conflitos bem perto do continente que vão influenciando a grande massa humana em desespero querendo fugir da catástrofe. E os novos candidatos a políticos nada mostram de novo, a não ser velhas divisas, semântica favorecendo a frustração social, aumentando mais ainda a insegurança daqueles que somente pensam no singular.

A etapa legislativa italiana deste mês de março reforçou essa clara ideia de quanto descontrole psicológico arrematou na urna um diálogo que nem o surdo mais atento irá compreender. Como sempre, a Itália, mostrou-se como um dos países pilares dessa união sem fronteiras, nunca se entende quando chega na hora certa.

A confusão reina ainda ao ponto que a singular sugestão, dita como possível, faz alguns anos, quando Matteo Salvini, líder sindicalista dos mais ativos em favor dos operários e renhida defesa de todos os trabalhadores em geral, aparece agora liderando o partido da Liga Norte [LN], absolutamente última geração pró-fascista [toda uma campanha doentia favorecendo nacionalismo do pior extremismo possível].

Não surpreende também o novo e bem plastificado antigo primeiro-ministro Silvio Berlusconi [com 81 anos], liderando a já conhecida Força Itália [FI]. Isso enquanto a surpresa da eleição do Movimento 5 Estrelas [M5S], do comediante Beppe Grillo, aparece subindo descontroladamente na fasquia eleitoral; hoje eles mesmos se indagam como não sendo peixe nem carne. Afinal, o que serão?

Embora não pareça, é todo um território politicamente descontrolado, desiludido, fugindo do seu desígnio humanista e pró-social esgotando oportunidades, colocando no prato da balança uma outra espécie de mediocridades nacionalistas, populismos doentios oferecendo a quantos incautos ou ignorantes uma outra Europa que a maioria já deveria ter enterrado para bem de todos.

Não obstante, ficam perguntas… muitas, na relação profunda do pensamento, de tanto escutar, verdadeiramente, ainda ninguém falou de como a população europeia chegou até aqui? Perdeu ideologia? Uma Europa que mantém afinidades com seu ponto mais nevrálgico, reacionário, exterminador, racista e perdidamente fora do contexto; largando balastro onde seres humanos demonstrem serem efetivamente civilizados e evoluídos.

*Veladimir Romano é jornalista e escritor luso-caboverdiano, colaborador deste site Vila de Utopia

 

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1 Comentário

  1. A Europa anda meio confusa ultimamente face à grande massa humana que tem migrado para lá.
    E por conta disto, agora vemos a extrema direita ir ganhando eleições por vários países e até mesmo com sobra de votos.

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