“Itabira está perdendo a guerra da diversificação”, diz ex-reitor da Unifei Renato Aquino

(Reportagem publicada originalmente neste site em 4 de setembro de 2017)

O professor Renato de Aquino Farias Nunes, ex-reitor da Unifei, disse em palestra realizada nesse sábado (2/9), no teatro da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade, que o município está perdendo a guerra da diversificação econômica por falta de vontade política e abandono do objetivo inicial que foi traçado com a implantação do campus de Itabira da universidade federal, do qual ele foi o principal mentor.

Renato Aquino defende que para vencer a guerra, todo esforço deve ser canalizado para a diversificação da economia local (Fotos: Carlos Cruz)

“Numa guerra, quando todas as forças não focam no objetivo (diversificar a economia), os soldados morrem e perde-se a guerra”, adverte. Aquino esteve em Itabira para participar do evento TEDxUnifei, organizado pelos universitários com o objetivo de disseminar boas ideias e propostas edificantes para o município, tendo como tripé a cultura, a mineração e a universidade (academia).

Segundo o ex-reitor, se vontade política existisse, o governo municipal investiria o total do que arrecada com a Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (Cfem), conhecida também como royalty do minério, na implantação do campus universitário. Isso, para ele, não se resume na construção de edificações conforme foi projetado, mas também, e principalmente, incentivando a abertura de empresas incubadoras e na implantação de um parque tecnológico.

Receita extra

“Diferentemente da maioria das cidades brasileiras que estão sem recursos, em plena crise Itabira passa a receber uma parcela maior de royalties (leia mais aqui, aqui e aqui). São recursos para se fazer a diferença, para que o município saia na frente e deixe de ser apenas uma fotografia na parede ou uma maquete de uma universidade em uma sala.”

O ex-reitor diz que o royalty está perdendo o seu objetivo para o qual foi criado

Renato Aquino considera que é possível vencer a guerra, caso os royalties sejam investidos conforme o seu propósito inicial, mesmo tendo o município perdido tantos recursos investidos no custeio da máquina administrativa e em projetos que não contribuem para a diversificação econômica.

Embora a Secretaria Municipal da Fazenda não disponha dos valores recebidos de 1991 (data em que a Cfem passou ser paga pela atividade mineradora) até o ano 2000, calcula-se, pelas médias históricas do que foi recebido no período posterior, que o município tenha arrecadado mais de R$ 1,3 bilhão só com os royalties nos últimos 26 anos.

A Cfem foi instituída pela Constituição Federal de 1988. Desde 1991 passou a gerar recursos extras ao município, como uma espécie de indenização antecipada pelo fim da mineração. “O governo passado disse que não havia como investir mais recursos do que investiu na Unifei. Decretou, inclusive, estado de calamidade. Só a construção dos prédios é importante, mas não basta”, critica.

De fato, no período de 2013/16, a Prefeitura de Itabira obteve recursos extras da Cfem com um acerto de contas que fez com a mineradora Vale. No período, foram arrecadados R$ 293,3 milhões com os royalties, tendo o governo do prefeito Damon de Sena (PV) investido R$ 48 milhões dessa compensação na construção do segundo prédio do campus universitário.

“Eles (do governo Damon) fecharam, por uma questão política, a Origem (uma empresa que iria gerar outras incubadoras) para criar em seu lugar a Inovatec. Tiraram a Ana Cristina, que hoje é presidente da Rede Mineira de Inovação, não quiseram ouvi-la e perdeu-se muito tempo”, relembra Renato Aquino, para quem um governo desfazendo o que outro fez, resulta em mais batalhas perdidas na guerra pela diversificação.

Maldição

“Investir nas incubadoras e no Parque Tecnológico deve ser prioridade”, segundo o ex-reitor

Como o poeta Carlos Drummond de Andrade, que na crônica Vila de Utopia viu na fabulosa riqueza incrustada no pico do Cauê como sendo o grande mal de Itabira, pela letargia e paralisia que acarretou ao itabirano que cruza os braços e vê a vida passar devagar, Renato Aquino considera que o município precisa romper com o que chama de “maldição dos recursos naturais fáceis”.

Segundo ele, trata-se de uma teoria demonstrada na prática com base nos resultados do desempenho econômico de diversos municípios e países. “A conclusão que os pesquisadores chegaram foi a de que os países que têm abundância de recursos naturais fáceis não progridem tão rapidamente como aqueles que passam por dificuldades. Essa teoria se aplica perfeitamente a Itabira.”

Utopia

Em crítica velada à atual reitoria da Unifei, Renato Aquino disse que é preciso retornar com os parceiros (Prefeitura, Vale e universidade) a ideia inicial das incubadoras de empresas e do Parque Tecnológico. “A Unifei irá crescer em número de alunos. Mas irá contribuir muito mais sendo uma universidade de pesquisa, incentivando e criando condições para a abertura de empresas inovadoras e tecnológicas”, advoga o ex-reitor como sendo a sua principal missão em Itabira.

“Essa foi a nossa utopia ao criar o campus de Itabira”, diz ele, citando como exemplo o que ocorreu no Vale do Silício, na Califórnia, Estados Unidos, onde várias empresas de alta tecnologia surgiram com o desenvolvimento de pesquisas e extensão de três universidades, entre elas a Universidade de Stanford.

No Vale do Silício, nos Estados Unidos, empresas e universidades se uniram para criar novos fatores de produção

”A região tinha a terra como principal fator de produção de ameixa seca. Hoje exporta tecnologia para o mundo todo”, exemplifica Renato Aquino, dizendo esperar que o mesmo aconteça com o campus da Unifei em Itabira.

“A Unifei pode contribuir para que se mude o perfil econômico do município, projetando um futuro com empresas rentáveis, inovadoras e de base tecnológica”, defende o ex-reitor, ainda com o entusiasmo que lhe é peculiar.

“Existem duas formas de se criar raiz em um lugar que não seja onde você nasceu. Uma é casando com alguém da terra. A outra é abrindo um negócio, uma empresa inovadora, que seja desafiadora e rentável. Isso a cidade só irá oferecer aos estudantes empreendedores da Unifei se focar nas incubadoras e nas start-ups, investindo no parque tecnológico. Não há outra saída para se vencer a guerra da diversificação”, preconiza o professor Aquino.

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3 Comentários

  1. E tem gente que ainda acredita neste velhaco português que atende pelo nome de Renato Nunes.
    O colunista deveria fazer uma visita à Itajubá e conhecer a “obra” de embusteiro.
    É a mesma conversa que ele “passou” nos prefeitos e professores do campus sede da UNIFEI: universidade tecnólogica que resolveria os problemas da cidade, incubadora de empresas de ponta e parque tecnológico.
    Tudo é uma grande piada na cidade.
    O prédio da incubadora que ele construiu está interditado porque tem riscos de cair.
    O parque tecnológico de Itajubá nunca saiu do papel e nenhuma industria foi para Itajubá por causa da universidade. Tudo utopia.

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