Maria Casemira, empreendedora itabirana, dona da fábrica da Pedreira

*Texto originalmente publicado neste site em 27 de maio de 2017

Pouca gente sabe, mas o Distrito Industrial II, onde está localizado o campus da Unifei, leva o nome de Maria Casemira Andrade Lage (1828/1929). A justa homenagem foi prestada pelo prefeito Olímpio Pires Guerra (1993/96), por meio da lei municipal 3174, de 30 de maio de 1995.

“Maria Casemira foi a primeira mulher empresária de Itabira, a principal acionista da Fábrica de Tecidos da Pedreira, inaugurada em 1888, tendo funcionado até a década de 1950”, conta Mauro Andrade Moura, memorialista itabirano, sobrinho trineto de Maria Casemira. No seu auge, a fábrica gerou mais de 100 empregos, com predominância da mão de obra feminina.

Filha do comendador Casemiro Carlos da Cunha Andrade e de Senhorinha dos Santos Alvarenga, Maria Casemira era irmã de Joaquim Carlos da Cunha Andrade Lage, o barão de Alfié, de Carlos Casemiro da Cunha Andrade e de Virgínia da Cunha Andrade Lage.

Mauro Andrade e dona Dadá conversam sobre Maria Casemira, primeira empresária itabirana

Foi casada com o seu tio Bernardino da Costa Lage, irmão de sua mãe. Não tiveram filhos, mas o casal criou como adotivos os afilhados Pedro Martins Guerra, Bernardino Guerra e João Guerra. “O Pedrico acabou herdando a sua parte na fábrica”, conta a sua sobrinha neta Águeda Drummond Lima, a dona Dadá, 103 anos.

Pedrico era o apelido familiar de doutor Pedro Guerra, que foi um dos principais fiadores, em Itabira, da Companhia Vale do Rio Doce logo após aqui ter se instalado, em 1942. “Ela criou esses meninos, que a chamavam de mamãe Nicota”, conta dona Dadá, referindo-se à sua tia Maria Casemira. “Quando eu a conheci, ela já era velhinha, mas ainda muito altiva”, revela a sobrinha neta.

A fábrica da Pedreira teve três sócios: Maria Casemira, doutor Domingos Guerra e o doutor Pedro Guerra. “Ela morava na própria fábrica e vinha a Itabira de liteira, transportada pelos escravos. Depois eles foram libertos e continuaram trabalhando com tia Nicota na fábrica”

A fábrica de tecidos da Pedreira ficava onde hoje é a barragem de Santana, da Vale (acervo de Família)

Os equipamentos foram adquiridos na Inglaterra. “Tia Nicota era uma mulher de fibra, como poucas que encontramos hoje em dia”, compara dona Dadá.

“Quando acabou a escravidão, ela foi ao Rio de Janeiro, onde aprendeu a tecer. De volta a Itabira, ensinou os seus ex-escravos a tecer. E montou a fábrica”, conta dona Dadá.

A fonte secou

Além da fábrica da Pedreira, uma outra foi aberta um pouco antes: a fábrica de tecidos Gabiroba. O marceneiro aposentado José Martins Cruz, 90 anos, também sobrinho neto de Maria Casemira, recorda do tempo em que acompanhava o seu pai, Vicente Martins Cruz, até a plantação de algodão na fazenda Barbosa, vizinha da fábrica.

Zé Cruz, sobrinho neto de Maria Casemira Andrade, destaca a importância das fábricas de tecido para a economia local

“Além de empregos, a fábrica gerava renda para os fazendeiros vizinhos que forneciam algodão e gêneros alimentícios.” Mas a maior parte do algodão era importada.”

Segundo ele, praticamente toda a produção de tecidos das duas fábricas era exportada. “A fábrica da Gabiroba fazia cobertor de lã de carneiro, além de casimira. A produção da fábrica da Pedreira era mais rústica, mas o volume era maior.”

As duas fábricas fecharam em meados do século passado. “Foi por falta de água. As nascentes secaram com a mineração”, recorda Zé Cruz, com tristeza. “Sem água, não tiveram como tocar as turbinas para gerar energia.” Além disso, “a mineração atraiu a maior parte dos operários por pagar melhores salários”, acrescenta.

Na verdade, houve também a obsolescência dos maquinários, que não foram atualizados. Foi o que ocorreu, na mesma ocasião, com a fábrica de tecidos de Biribiri, em Diamantina. As duas fábricas de Itabira chegaram a ser comparadas com as existentes em Juiz de Fora, chamada de a Manchester mineira, pelo volume de produção e geração de empregos.

Homenagem

Revoltada com o desprezo histórico para com a memória da primeira empreendedora itabirana, dona Dadá conta que causou muita indignação quando o prefeito Olímpio Guerra e os vereadores retiraram o seu nome de uma rua no bairro Alto Pereira. Em seu lugar, foi homenageada a mãe de um correligionário, falecida na ocasião.

Lápide de Maria Casemira no cemitério do Cruzeiro

“Foi uma grita muito grande, o pessoal mais antigo protestou, tento à frente a professora Emília De Caux (já falecida). Coitados, não sabiam a importância que teve a tia Nicota. Quem a conheceu ficou muito revoltado”, recorda. Para corrigir a injustiça, a prefeitura voltou a homenagear Maria Casemira, designando o distrito Industrial II com o seu nome. É onde atualmente está

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3 Comentários

  1. Tia Nicota não teve filhos e era muito querida por todos os sobrinhos, os diretos e os indiretos.
    Grande pessoa, procurou legar meio de vida às pessoas, principalmente aos antigos escravos.
    Segunda filha do Comendador Casemiro Carlos da Cunha Andrade e Senhorinha dos Santos Alvarenga, tendo como irmãos o Joaquim Carlos da Cunha Andrade – Barão de Alfié, a Vergínia Augusta de Andrade Lage e Carlos Casemiro da Cunha Andrade.

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