Entre vazios de soberania e alguns equívocos ecológicos em torno do lítio de Portugal
No destaque, antiga e abandonada mina de volfrâmio, prenúncio do que há por vir nas minas de lítio em Portugal (Foto: Mauro Moura)
Veladimir Romano*
Se o populismo hoje virou moda, nem causa consegue relacionar, antes, mais confusão prometendo os seus mentores não podem realizar, tornam-se bombas relógio consumindo frustrações até que em algum instante podem rebentarem.
Com propostas vazias de conquistas sociais aumentando a cada eleição, pouco ou mesmo nada servem, embora aprofundem estudos sobre dirigentes contemporâneos e questões relacionadas com a soberania e suas tristes trapalhadas.
A flagrante carência de carisma hoje na prática política, invadiu abusivamente certos valores, apavorando a sociedade sem rumo, absorvida de tecnologia e fanática de haveres modernos mas cada vez mais empatada com a ignorância dos deveres da própria vida.
Das discussões sobre valorização ambiental, tudo virou moda, contudo despida de resultados efetivos. Parece que mais ninguém enxerga direito, tudo ficou organizado em hospícios permitindo atrofiamentos, abrindo outros caminhos, infelizmente, desprovidos da presente realidade.
Por um lado debatem a salvaguarda dos valores ecológicos, mas a outros, se fazem avançar projetos justamente predadores do mesmo meio ambiente.
Portugal está na fila dos especuladores do lítio (Li), a loucura caindo desesperada pelo atraente minério. Portugal é o país europeu com maior reserva na escala mundial desse mineral, depois do Chile/Bolívia, Austrália e China.
À nação lusitana chegam promessas de riquezas com a exploracao por 20 anos de suas reservas, com bastante quilos de euros, mas às custas da devastação de uma região reconhecida pela União Europeia, catalogada como sendo de grandes valores ecológicos.
Terras pródigas de boa produção vinícola, criação de gado caprino, logo bons queijos, boas águas naturais, saudável e rara produção bovina na bem divulgada “carne Barrosã”, paisagens sedutoras e calmas, verão ameno, nevões breves no inverno, muita chuva na primavera e friagem outonal, faz do território dos mais particulares do país.
De um dia ao outro, rapidamente, tudo ficou em causa a pedido da mesma União Europeia que, em poucos anos, considerando a região “protegida e de mais valias naturais”, agora ficou imprescindível para a independência industrial europeia favorecendo menor importação do lítio no fabrico das modernas baterias alimentadoras dos aparelhos mais tecnológicos.
Desde 2019 se calcula em 4 bilhões de dólares os investimentos necessários para a produção de nove projetos ambicionando o chamado “ouro branco”, numa exploração mundial na ordem dos 3%. Apenas um veículo elétrico usa 45 quilos de baterias numa duração válida até 5 anos.
A Bolívia está sendo o país com maior área em exploração calculada neste momento em 10 mil quilômetros quadrados, mas multiplicando ao dobro muito em breve, tal como México.
Contudo, a natureza desses países, tal como o Chile, territórios colocados em desertos, ao contrário de Portugal, país pequeno privilegiado com regiões onde a riqueza se multiplica por várias outras, o cuidado ecológico não pode virar desespero financeiro quando se explora sem limite essa oportunidade.
A Europa manifesta como nunca um enorme vazio com a soberania dos seus membros se machucando, embrulhados, ficando a vida repleta de equívocos.
É natural que no meio de tanta confusão, uma crescente apetência envolva e direcione a extrema-direita na mais vergonhosa propaganda de mentiras populistas onde riquezas como o lítio viram mote para mais desentendimento ambiental, político, ou financeiro.
Isso ocorre enquando empresas multinacionais, seus acionistas de olhos arregalados olham apenas para o crescimento dos cifrões, negando realidades da riqueza ecológica, que é também mal explorada.
*Veladimir Romano é jornalista e escritor luso-cabo-verdiano