Sem solidariedade humana o mundo não se livra da pobreza e da desigualdade

Veladimir Romano*

Experiências cujos efeitos a História demonstra terem resultado em progresso, estabilidade e alguma paz foram indispensáveis na revalorização social através do conhecido [enquanto marcante] “Plano Marshall”, numa época procedente a 1945, quando tanto o Japão, quanto a Europa iniciaram recuperações das suas cidades e o restante prejuízo relacionada com fome, miséria e recordações brutais da Segunda Grande Guerra mundial. A diferença foi, sem dúvida, o ato solidário.

Em 1948, o Reino Unido considerando a pobreza um “risco” e um outro “perigo” para a prosperidade dos britânicos, e do próprio capitalismo, lançou seus primeiros programas de política social, enquanto à Leste, países do bloco soviético empreendiam também reformas sociais, contudo mais alargadas em escala compartilhada pelo capitalismo estatal, permitindo ritmo equilibrado ao seu crescimento em mútua coexistência construtiva e pacífica.

Esse crescimento, embora depois se tenha feito mais lento, conseguiu resolver problemas de forma mais segura em relação aos países ocidentais, criando esses zona consumista como estratégia econômica mais compenetrados com setores privados.

A primeira década depois de 1945, continuando até anos de 1970, o crescimento do Leste ficou primeiramente entre 9,1% do produto interno, superando alguns países ocidentais como Alemanha com 4,7%, França: 5,6 ou Reino Unido na casa dos 6,7%.

Apenas o Japão ultrapassou, nessa mesma época, os 11% do PIB [números das Nações Unidas]. Depois, o Leste estagnou na ordem dos 6,7%, caindo até aos 4,8%.

Sanar efeitos dramáticos deixados pelos acontecimentos do conflito mundial, em ambos os lados do planeta, ficou entendido numa compreensão de trabalho pela recuperação de valores, criando-se condições novas apropriadas em primeiro lugar numa cultura evidente de total generosidade, alcançando níveis desse potencial residente no íntimo de cada povo.

A velha Iugoslávia foi um marcante exemplo construtivo destruída depois pela doença nacionalista e divisionismo religioso dos anos 90, quando a infiltração de forças externas criaram base destrutiva, convencidos no plano financeiro [dinheiro fácil] da União Europeia, vivendo mágoas, não podendo esconder ódios em seis repúblicas uma vez prósperas, depois da destruição, vivem hoje na pobreza.

À margem desse processo progressista, até revolucionário, e aproveitando impacto negativo da Grande Guerra, mas aproveitando vantagens duma época, ficaram lamentavelmente nessa margem a maioria das nações asiáticas, todo o continente africano [recebendo a maioria dos territórios suas independências], sofrendo lutas internas, algumas bem sangrentas como a guerra do Biafra [dos interesses da British Petroleum, ingleses procuraram dividir a Nigéria] , pela liderança e domínio das riquezas naturais.

Assim como ficou de fora todo o restante território latino-americano, com os países passando por ditaduras ou duros golpes militares, servindo interesses da minoria. Nesses países, o “Plano Marshall” nunca chegou.

Não paramos de refletir até compreender enredos complicados, geradores de tantos problemas que afetam o nosso dia a dia, com os efeitos colaterais das políticas por vezes transformadas em lutas odiosas , que em nada ajudaram, antes faltando como testemunho de planos efetivos, capazes, eficientes e sérios, com a sociedade civil podendo contar com total segurança, com soluções que podem apresentar indicadores desafiantes, sim, com alterações ocorrendo com naturalidade e não forçadas por interesses contaminantes anti-humanos.

Assistimos pacificamente da insuficiência aos planos para o desenvolvimento nos efeitos à redução das cargas especuladoras, o mau dirigismo das estratégias com lideranças fracas em elevado grau onde promiscuidade. E também não tem faltado aos países “ricos” a continuidade na manutenção de um fosso controlado, marcando atos contínuos que mantêm dívidas eternas, esmagando gerações sucessivas dos países “pobres”.

Pobreza humana sem fim. Ao examinar melhor os contrastes entre passado e novas eras, o que se observam são perdas que se estabeleceram, criando ciclos de juros que sugam cada vez mais riquezas dos países ditos “subdesenvolvidos”.

Tudo indica que trabalho, por bastante e fundamental que seja, jamais será condição de porta aberta para chegarem estas nações ao seu poder financeiro livre da perseguição e afogamento dos mais poderosos.

Fica novamente claro a existência uniformizada duma ideologia coerciva pela hegemonia de economias aliadas; os “cães de guarda” [cani da guardia], como afirmava Antonio Gramsci.

Reposicionando juros, depois de juros numa autêntica trama de engenharias dos pensadores economaníacos, não será de estranhar a quantidade de premiados com Nobel da Economia sigam na sua maioria aos EUA. Dificilmente ganha esse prêmio um qualquer economista de outro lugar planetário, o que demonstra na realidade como vai o mundo vivendo suas obsessões. Ilustra inevitavelmente a cristalização do lado humano sendo corroído, morrendo todas as lógicas da discutível “solidariedade humana”.

A presente realidade social em qualquer continente, considera-se que homem+máquina+natureza+progresso=bem-estar e segurança… coisa que se perdeu até no próprio movimento proletariado para forças conjuntas em formato crescente, quando se observam os  dosscândalos+multinacionais+oportunismo+ilegalidades+domínio+dinheiro=desemprego+pobreza. A fome segue num crescente, provocando conflitos incompreensíveis e a prescrição de tantos crimes sucessivos lesando a Humanidade, são esses temas reais com os quais a humanidade se defronta ainda longe de solução real.

A longa frase inserida na Constituição de cada país e da qual se prezam políticos, de todos os cidadãos terem a mesma dignidade social, serem todos iguais perante a lei, não passa de uma balela. Na prática, ocorre que a Justiça não é igual para todos. E por isso a solidariedade humana é mais uma pedra no sistema por muito apelidada de “Democracia”; ela não será aliada do pobre nem de na sua maior forma coletiva.

O prejuízo é tributário e continuará contra a verdadeira essência das coisas mais humanas e do jeito que a alma leva na sua soberania para todos sem ser capaz de fomentar discriminações venenosas, aconchegando a vida na sua ação mais prioritária. A democracia nunca será boa sem o simbolismo e a prática constante da cidadã e do cidadão solidários.

*Veladimir Romano é jornalista e escritor luso-caboverdiano

 

 

 

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