Futuro de Itabira não pode depender só da Unifei, diz diretor
Se o futuro é agora, “Itabira acertou ao apostar na Unifei como um dos pilares de seu desenvolvimento para sobreviver sem a mineração”, sustenta o diretor do campus da universidade em Itabira, professor Dair José de Oliveira. “O que não se pode é imaginar que isso irá resolver todos os problemas econômicos do município. Tem que haver um esforço conjunto de toda a sociedade itabirana e também da região.”
Quando se pensa em um horizonte de exaustão, à Vale que ontem completou 75 anos de criação por decreto de Getúlio Vargas (1930/45 e 1951/54), interessa prolongá-lo ao máximo possível. Afinal, o seu último investimento no complexo de Itabira foi de R$ 7 bilhões, modernizando e adequando as antigas usinas de concentração, além de construir uma nova exclusivamente para tornar viável a concentração e comercialização do itabirito compacto (ver aqui e aqui).
Mesmo que esse horizonte se estenda para além de 2035, é muito pouco tempo para o município, que é fortemente depende da mineração, diversificar a sua economia e assegurar a sustentabilidade futura sem contar com a sua atual base econômica.
Sem isso, irá para sempre cismar com a derrota incomparável, o que vem fazendo desde o início do século passado, antes mesmo de a mineração em larga escala se instalar nesta terra matodentrense.
Derrota incomparável
A cisma começou mais ou menos quando o mundo ficou sabendo da existência de uma formidável riqueza incrustada no pico do Cauê, com o anúncio em 1902, em um congresso em Estocolmo (Suécia), da descoberta de uma reserva de um “bilhão e 500 milhões de toneladas de minério com um teor superior a 65% de ferro, que darão para ‘abastecer quinhentos mundos durante quinhentos séculos’, conforme garantia o visconde do Serro Frio’”, escreveu Drummond em 1932, na crônica Vila de Utopia (leia aqui).
“’Os números que exprimem a quantidade de minério de Itabira’, confirma o professor Labouriau, ‘são astronômicos: de tão grandes tornam-se inexpressivos.’”.
O temor da exaustão aumentou com a dependência econômica que se criou, após a decadência da então incipiente mas diversificada indústria local, cedendo lugar ao mono extrativismo. “Só, na porta da venda, Tutú Caramujo sonha com a derrota incomparável”, mais uma vez é Drummond quem adverte (saiba mais aqui).
Portanto, a percepção de que é preciso diversificar a economia é antiga. Mas de concreto, ao longo dos últimos anos, foram poucos os resultados obtidos com a política municipal de incentivo à diversificação, via recursos da Cfem (mais informações aqui).
Acelerar a diversificação econômica permanece mais do que nunca como a urgente palavra de ordem. E a Unifei é a grande esperança pelo seu peso já comprovado na economia local, e pelo laboratório que é de ideias inovadoras que podem ser transformadas em promissores empreendimentos sem vínculo direto com a mineração. Isso, embora possam surgir também novas empresas a partir do potencial que a atividade oferece em Itabira e na região.
A Unifei reconhece o papel que tem a oferecer partir de seu campus em Itabira, além de educação superior de qualidade. Entretanto, o diretor do campus de Itabira mais uma vez salienta que, para ser bem executado, esse compromisso precisa ser compartilhado por todos segmentos sociais.
“Esperar que Itabira desenvolva só com a universidade é um equívoco. Não dá para transferir essa responsabilidade que é de toda sociedade itabirana”, enfatiza.
Se a diversificação econômica é de fato a opção primordial, a continuidade da implantação do campus universitário de Itabira deve ser também prioridade na política de diversificação econômica.” Não importa quando será o fim da mineração. O certo é que cada dia que passa é um dia a menos que temos para resolver a questão da dependência econômica”, adverte Fernando Carneiro, gerente da Vale em Itabira.
O professor Dair de Oliveira diz acreditar na vontade política do governo municipal e dos demais atores econômicos e sociais da cidade. Segundo ele, a universidade já tem dado passos importantes para criar um ambiente propício ao surgimento de novas empresas, incubadoras e de um parque tecnológico moderno e futurista. “É a nossa missão. Mas é preciso que todos façam a sua parte.”
Para ele, o projeto universitário da Unifei para Itabira é magnífico e tem tudo para dar certo. “Considero um privilégio viver este momento histórico. Mas será lamentável ver passar o tempo e olhar para trás e dizer: tivemos a oportunidade de ser referência para o estado e o país, mas perdemos o bonde da história.”
O que diz o diretor da Unifei em Itabira, Dair Oliveira, é o que muita gente em Itabira ou que se interessa por Itabira pensa.
A Unifei atual nem de longe é a solução para a tal diversificação econômica. Muito menos cura Itabira da dependência do minério da Vale.
E nem é só porque a Unifei até aqui só tem cursos de engenharia. Isto pode gerar futuras empresas de alta tecnologia. Por exemplo. Pode ser. Vai depender também de quantos ficarão em Itabira e das políticas públicas de incentivo.
Se a Vale der adeus à Itabira e nem se ligar na dívida histórica, social e ambiental que deixaria, então deveria ser criado já, o Vale do Silício Itabirano. Por que não?
O presidente do Metabase nos anos 1990, propôs isso quando a Vale vendeu a sua esplanada (terraplenagem para maior trem levar itabira diluída em pó de minério).
Ainda é tempo.
Ocorreu um equívoco na data do Congresso. O governo brasileiro criou o Serviço Mineralógico do Brasil, em 1908, com o intuito de realizar o estudo científico da estrutura geológica e mineralógica do país. As análises dos minérios e os volumes das jazidas colocaram a região central de Minas Gerais entre as mais ricas do mundo em reservas minerais de ferro. O XI Congresso Geológico Internacional, realizado em Estocolmo, em 1910, divulgou e confirmou a existência e a importância das reservas minerais localizadas no território de Minas Gerais.