Maria Casemira, empreendedora itabirana, dona da fábrica da Pedreira
Pouca gente sabe, mas o Distrito Industrial II, onde está localizado o campus da Unifei, leva o nome de Maria Casemira Andrade Lage (1828/1929). A justa homenagem foi prestada pelo prefeito Olímpio Pires Guerra (1993/96), por meio da lei municipal 3174, de 30 de maio de 1995.
“Maria Casemira foi a primeira mulher empresária de Itabira, a principal acionista da Fábrica de Tecidos da Pedreira, inaugurada em 1888, tendo funcionado até a década de 1950”, conta Mauro Andrade Moura, memorialista itabirano, sobrinho trineto de Maria Casemira. No seu auge, a fábrica gerou mais de 100 empregos, com predominância da mão de obra feminina.
Filha do comendador Casemiro Carlos da Cunha Andrade e de Senhorinha dos Santos Alvarenga, Maria Casemira era irmã de Joaquim Carlos da Cunha Andrade Lage, o barão de Alfié, de Carlos Casemiro da Cunha Andrade e de Virgínia da Cunha Andrade Lage.
Foi casada com o seu tio Bernardino da Costa Lage, irmão de sua mãe. Não tiveram filhos, mas o casal criou como adotivos os afilhados Pedro Martins Guerra, Bernardino Guerra e João Guerra. “O Pedrico acabou herdando a sua parte na fábrica”, conta a sua sobrinha neta Águeda Drummond Lima, a dona Dadá, 103 anos.
Pedrico era o apelido familiar de doutor Pedro Guerra, que foi um dos principais fiadores, em Itabira, da Companhia Vale do Rio Doce logo após aqui ter se instalado, em 1942. “Ela criou esses meninos, que a chamavam de mamãe Nicota”, conta dona Dadá, referindo-se à sua tia Maria Casemira. “Quando eu a conheci, ela já era velhinha, mas ainda muito altiva”, revela a sobrinha neta.
A fábrica da Pedreira teve três sócios: Maria Casemira, doutor Domingos Guerra e o doutor Pedro Guerra. “Ela morava na própria fábrica e vinha a Itabira de liteira, transportada pelos escravos. Depois eles foram libertos e continuaram trabalhando com tia Nicota na fábrica”
Os equipamentos foram adquiridos na Inglaterra. “Tia Nicota era uma mulher de fibra, como poucas que encontramos hoje em dia”, compara dona Dadá.
“Quando acabou a escravidão, ela foi ao Rio de Janeiro, onde aprendeu a tecer. De volta a Itabira, ensinou os seus ex-escravos a tecer. E montou a fábrica”, conta dona Dadá.
A fonte secou
Além da fábrica da Pedreira, uma outra foi aberta um pouco antes: a fábrica de tecidos Gabiroba. O marceneiro aposentado José Martins Cruz, 90 anos, também sobrinho neto de Maria Casemira, recorda do tempo em que acompanhava o seu pai, Vicente Martins Cruz, até a plantação de algodão na fazenda Barbosa, vizinha da fábrica.
“Além de empregos, a fábrica gerava renda para os fazendeiros vizinhos que forneciam algodão e gêneros alimentícios.” Mas a maior parte do algodão era importada.”
Segundo ele, praticamente toda a produção de tecidos das duas fábricas era exportada. “A fábrica da Gabiroba fazia cobertor de lã de carneiro, além de casimira. A produção da fábrica da Pedreira era mais rústica, mas o volume era maior.”
As duas fábricas fecharam em meados do século passado. “Foi por falta de água. As nascentes secaram com a mineração”, recorda Zé Cruz, com tristeza. “Sem água, não tiveram como tocar as turbinas para gerar energia.” Além disso, “a mineração atraiu a maior parte dos operários por pagar melhores salários”, acrescenta.
Na verdade, houve também a obsolescência dos maquinários, que não foram atualizados. Foi o que ocorreu, na mesma ocasião, com a fábrica de tecidos de Biribiri, em Diamantina. As duas fábricas de Itabira chegaram a ser comparadas com as existentes em Juiz de Fora, chamada de a Manchester mineira, pelo volume de produção e geração de empregos.
Homenagem
Revoltada com o desprezo histórico para com a memória da primeira empreendedora itabirana, dona Dadá conta que causou muita indignação quando o prefeito Olímpio Guerra e os vereadores retiraram o seu nome de uma rua no bairro Alto Pereira. Em seu lugar, foi homenageada a mãe de um correligionário, falecida na ocasião.
“Foi uma grita muito grande, o pessoal mais antigo protestou, tento à frente a professora Emília De Caux (já falecida). Coitados, não sabiam a importância que teve a tia Nicota. Quem a conheceu ficou muito revoltado”, recorda. Para corrigir a injustiça, a prefeitura voltou a homenagear Maria Casemira, designando o distrito Industrial II com o seu nome. É onde atualmente está instalado o campus da Unifei.
A Fábrica de Tecidos da Pedreira é de 1878 e não de 1888 como está na matéria. Já a Foto de Tecidos da Gabiroba, é de 1876 e produzia muitos tecidos de algodão. Colchas, lençóis… Mandava a maior parte da produção para fora de Minas Gerais. Ótima matéria.
A irmã de Maria Cassemira, que é mãe de minha bisavó Maria Augusta de Andrade Lage, chamava-se Virgínia Augusta de Andrade Lage e não Virgínia da Cunha Andrade Lage como está na matéria.
Lembramos que a Fábrica de Tecidos da Pedreira é de 1877 e não de 1888 como está na matéria.
Correto. Virginia Augusta de Andrade Lage foi minha trisavó e era casada com o seu tio Francisco Roberto da Costa Lage.
Reportagem maravilhosa. A história de Itabira que não aprendemos nos bancos escolares. Só livros isolados ou garimpagens desse nível podem trazer à tona esse verdadeiro tesouro. Ótimos os esclarecimentos feitos pela Divana, que é da família, acrescentando maior valor aos fatos. Quanto ao fato de o prefeito ter retirado o nome de Dona Maria Cassemira de uma rua da cidade, tremenda injustiça, também os irmãos Albernaz, que fundaram Itabira, tiveram o nome retirado da avenida que liga o centro ao bairro Campestre, homenageando o pai do prefeito da época, Wilson do Carmo Soares. Seu pai, João Soares da Silva. Parabéns a todos pela iniciativa da matéria.
Uma das razões do declínio da Fábrica da Gabiroba foi o refino do minério que poluiu os recursos hídricos que impulsionavam o maquinário já obsoleto. A ata da primeira reunião realizada na Câmara Municipal em 11 de outubro de 1874, com o intuito de constituir a fábrica de tecidos Cia União Itabirana, Gabiroba, enfatizava a necessidade de tirar o município do abatimento econômico.
caromauroAnibal, apreciei muito a sua reportagem, os temas históricos devem estar presente, é a única possibilidade do não-esquecimento. aproveita e publica o mapa poético do valoroso companheiro anibal moura.
beijoca,
cristinica de cervantes