Vale reforça estrutura de Santana, anuncia o descomissionamento de diques em Conceição e deve retornar com alteamento de Itabiruçu
Desde o ano passado a mineradora Vale vem reforçando a estrutura da barragem de Santana, que fica a poucos quilômetros de Itabira no sentido Santa Maria, onde represa água do rio Jirau para concentrar itabiritos na usina Cauê. A barragem não contém rejeitos de minério.
“Fizemos a limpeza da parte externa da barragem e agora vamos subir um maciço para aumentar a segurança da estrutura”, informou o gerente de Geotecnia e Hidrogeologia do Complexo de Itabira, Quintiliano Guerra.
“Vamos concretar uma antiga galeria, uma torre de queda d’água que passa por um túnel abaixo da barragem”, acrescentou o gerente de Hidrogeologia e Geotecnia no encontro da mineradora com jornalistas itabiranos no dia 16, quando a empresa adiantou que dará início, antes de junho, à negociação para a saída de moradores mais próximos do cordão Nova Vista, no Pontal.
Nesta data promete apresentar o número total de residências que terão de ser removidas para a instalação de um segundo muro de contenção de rejeitos, uma medida que diz ser preventiva para o caso de um eventual rompimento durante a descaracterização de estruturas alteadas a montante dentro do sistema Pontal.
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“Santana é obra de reforço”, assegura Guerra. Segundo ele, teve início no ano passado e será concluída em 2022. O extravasor, estrutura por onde é feito o escoamento da vazão máxima de enchente e controle das águas vertidas ao curso d’água, não será alterado.
“Santana é uma barragem dimensionada para suportar chuvas torrenciais que só acontecem em 10 mil anos”, afirmou. É assim que a barragem acaba funcionando como controladora de vazão, retendo maior volume no período chuvoso e liberando o necessário para manter o mínimo de água vertendo da estrutura na estiagem.
Diques a montante em Conceição
Na barragem de Conceição a mineradora vai também realizar a descaracterização de dois diques semelhantes aos existentes no Pontal. “Foram reforçados e serão descaracterizados”, disse Quintiliano Guerra. A descaracterização dos dois diques deve ser concluída no próximo ano.
De acordo com o gerente-executivo do Complexo de Itabira, Daniel Daher, por ter sido alteada a jusante, método construtivo considerado mais seguro, a barragem de Conceição não teria que ser descaracterizada por ficar acima de estruturas operacionais (usinas, britagem, oficina mecanizada, escritório, restaurante), não se aplicando, nesse caso, o que estabeleceu resolução da ANM publicada em 18 de fevereiro de 2018.
“A resolução só se aplica às estruturas alteadas a montante. Não é o caso de Conceição, que foi alteada a jusante. Mas mesmo assim a Vale estuda a sua descaracterização também para se ter mais segurança”, anunciou o gerente-executivo do Complexo Minerador de Itabira.
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Alteamento de Itabiruçu
Já as obras de alteamento da barragem Itabiruçu para a cota 850 metros em relação ao nível do mar, paralisadas em 30 de setembro de 2019, podem voltar a qualquer momento, disseram os executivos da mineradora. A cota atual é de 836 metros.
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Mas para isso acontecer, é preciso ainda obter o aval da ANM e a concordância do Ministério Público de Minas Gerais, da Curadoria de Meio Ambiente da Comarca de Itabira, que terá por base parecer da Aecom do Brasil.
“Fizemos um grande diagnóstico, principalmente estudando a sua fundação. Estamos na fase de projeto e planejamento da obra”, contou Quintiliano Guerra.
“O alteamento da barragem é muito importante para a continuidade de nossas atividades em Itabira, para receber rejeitos das usinas Conceição I e Conceição II”, disse Quintiliano Guerra, para quem a própria obra de alteamento a jusante reforça o maciço, aumentando a sua segurança.
A disposição adicional de rejeitos em Itabiruçu, segundo explicou Daniel Daher, ocorrerá até que seja concluída a instalação de duas grandes usinas de filtragem de rejeitos. “O futuro da mineração em Itabira é a pilhagem de rejeitos a seco, que vai dar mais segurança às nossas operações e também à comunidade itabirana.”
Mas segundo o gerente-executivo da Vale, até iisso virar realidade, a disposição de rejeitos em Itabiruçu é considerada como imprescindível pela empresa para dar continuidade às suas operações no complexo de Itabira.
“Itabiruçu é o nosso grande pulmão para a sustentabilidade do complexo até concluir o processo de filtragem e estiver funcionando com 100% de sua capacidade”, justificou.
Mas para retornar com as obras de alteamento, embora já estejam aprovadas pelo órgão ambiental, a Vale terá que explicar à sociedade itabirana, em detalhes, o que foi feito para resolver as fissuras no barramento e outros problemas estruturais apresentados pelo engenheiro Antônio Carlos Lambertini, que foi responsável por uma das etapas do alteamento da barragem.
“A Vale já foi recomendada para que, antes de retornar com as obras, que faça um comunicado também à sociedade itabirana”, disse a promotora Giuliana Talamoni Fonoff, curadora do meio ambiente na Comarca de Itabira, em entrevista a este site.
Lambertini renunciou da responsabilidade técnica em maio de 2015, depois de apontar falhas e imperfeições geotécnicas na barragem de Itabiruçu. E encaminhou denúncia ao Ministério Público Federal (MPF) e ao Conselho Regional de Engenharia (Crea), ambos no estado de São Paulo, onde reside o engenheiro.
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Horizonte de exaustão
Quanto ao futuro da mineração em Itabira, Daher informou que a empresa tem investido em pesquisas geológicas para ampliar o horizonte da exaustão mineral no município para além da virada desta década. Para isso, já tramita na ANM o pedido de aprovacao para o novo plano de exploração das minas do Complexo Minerador de Itabira.
“Já estamos investindo em pesquisas e no próximo ano vamos investir mais ainda. O esforço é para alongar esse horizonte de exaustão.” Atualmente, pelo relatório Form-20, a exaustão das minas de Itabira ocorreriam em 2031, mas essa data tem sido alterada ano a ano.
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