Vale inicia testes com primeira estrutura tubular no Pontal e admite contratar assessoria técnica indicada por moradores

Em mais uma roda de conversa on line com moradores dos bairros Nova Vista e Bela Vista, nessa quarta-feira (8), a mineradora Vale anunciou que nesta quinta-feira serão iniciados os testes para implantação da primeira estrutura de contenção a jusante (ECJ) dentro da área da barragem do Pontal.

Essa estrutura, segundo explicaram os representantes da mineradora, servirá de parâmetros para construir um segundo muro tubular, esse já em área que irá impactar os moradores desses bairros, inclusive com remoção de residências em número ainda não divulgado.

As estruturas tubulares irão formar grandes muros edificados por meio de tubos de aço preenchidos com concreto, de tecnologia japonesa “capaz de conter tsunami”. A primeira dessas estruturas será instalada na proximidade da lagoa do Coqueirinho, em área interna da barragem.

“Os testes foram acordados com o Ministério Público e com a sua assessoria técnica (Aecom Engenharia). Servirão de parâmetros para verificar se a execução estará de acordo com o previsto para reduzir os impactos na comunidade em termos de vibração, ruído e geração de poeira”, explicou o engenheiro Glauco Gonçalves, da Gerência de Operações da mineradora.

Na fase de testes serão fixadas 80 estacas (tubos) em profundidade diversa, com prazo previsto de término em três meses. “Buscamos a melhor tecnologia existente no mundo, a mesma que tem sido empregada com sucesso na Europa, inclusive em áreas próximas a edificações históricas, com baixo nível de ruído e vibração”, complementou o engenheiro Rômulo Guerra, da equipe de instalação dessas estruturas

Prevenção

Representantes da Vale na roda de conversa virtual com moradores dos bairros Bela Vista e Nova Vista. No destaque, o cordão Nova Vista (Fotos: Carlos Cruz e reprodução)

A construção dos dois muros é considerada medida preventiva para a fase posterior de descomissionamento (descaracterização com reabilitação ambiental) do cordão Nova Vista e dique do Minervino, ambos no Pontal.

Servirão para conter eventual vazamento de rejeitos de minério, no caso hipotético de ruptura de alguma das estruturas que foram alteadas a montante, sobre rejeitos de minério.

Trata-se de uma exigência da nova legislação ambiental aprovada após as tragédias de Mariana e Brumadinho.

Na primeira etapa não haverá necessidade de remover residências, o que, entretanto, deve ocorrer para a construção do segundo muro.

“A primeira ECJ será 100% em área da Vale. A casa mais próxima fica a 367 metros de distância e as ondas (de vibração) serão atenuadas antes de chegarem às residências”, assegurou Rômulo Guerra.

Já para o segundo muro, que só deve ser construído a partir de junho de 2022, é que será preciso fazer remoções de residências.

É o que tem gerado muitas apreensões entre os moradores desses bairros, por não saberem quantos moradores serão atingidos.

“Para a fase de testes não foram identificados impactos relevantes, asseguraram os representantes da mineradora.

Os equipamentos já estão na área assim com os tubos serão transportados por vias internas já existentes sem passar pelos bairros”, adiantou o gerente de Relações com a Comunidade, Sérgio Costa.

Remoções

Décio da Silveira, morador do bairro Bela Vista, cobrou urgente definição de quais moradias terão de ser removidas. “Estamos ansiosos, moro a 50 metros da barragem e ainda não sei se terei de sair. Serão retirados só quem está próximo do rejeito ou quem está distante também”, ele quis saber.

Mas Silveira, assim como todos moradores, continuam sem essa resposta. É que Sérgio Costa voltou a responder que a empresa ainda não sabe quantas moradias terão de ser retiradas – o que somente deve ser divulgado quando o projeto da segunda estrutura estiver concluído, em junho.

O gerente, entretanto, adiantou um critério básico para definir as futuras remoções. “Ainda não temos como afirmar até onde vai haver remoção, mas é certo que quanto mais próximo da barragem maior é a chance de ser removido. A segunda estrutura vai precisar de espaço e algumas casas terão de ser removidas. Estamos buscando meios para que esse impacto seja o menor possível.”

Segundo ele, a montagem da estrutura de contenção no Coqueirinho entra para 2022, período em que será definido projeto da ECJ2 na proximidade dos bairros. “Esperamos obter melhorias no processo a partir do funcionamento do equipamento (de fixação dos tubos metálicos) e assim impactar o menor número de moradores (que terão de ser desalojados e transferidos para outro local)”

Poluição

Sérgio Costa disse ainda que até lá serão realizadas reuniões mensais com os moradores, de preferência presenciais, dependendo da evolução do fim da pandemia.

Serão também realizadas visitas ao local dos testes, para que os moradores tomem conhecimento da tecnologia empregada e do monitoramento dos impactos decorrentes, assim como as medidas mitigadoras, principalmente para conter a poeira.

Entretanto, moradores já reclamam da poluição do ar ainda nessa fase inicial. Décio Silveira quer mais efetividade nas medidas de controle, pois já observa o grande volume de poeira levantada com a movimentação de equipamentos.

“Já estamos sofrendo com a poluição, mesmo com a umectação das estradas. Essa poluição está dentro dos parâmetros legais?”, ele quis saber.

Segundo Rômulo Guerra, os índices estão dentro dos parâmetros do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). Entretanto, ele assegurou que as medidas de controle serão intensificadas daqui para frente.

É o que ocorre também no restante da cidade, que sofre com a poeira vinda das minas, cujos índices de poluição estariam de acordo com as normas legais. Isso enquanto os moradores sofrem com o incômodo da poeira contendo partículas de minério, com o agravo das doenças respiratórias neste período de estiagem.

Assessoria técnica

A aposentada Maria José Araújo, moradora do bairro Conceição e ativista do Comitê Popular dos Atingidos pela Mineração em Itabira e na Região, voltou a cobrar a imediata contratação de uma assessoria técnica independente, a ser custeada pela Vale, conforme prevê a Lei Estadual nº 23.291/2019, popularmente conhecida como Mar de Lama Nunca Mais.

“Os atingidos têm direito a essa assessoria técnica independente para que tomem conhecimento da realidade e para que todos tenham reparação integral”, reivindicou.

Ela aproveitou para reivindicar, também, a remoção dos moradores que em Itabira vivem na chamada Zona de Autossalvamento (ZAS), para que possam preservar a vida no caso de rompimento de uma das imensas estruturas de contenção de rejeitos existentes ao redor da cidade.

“Se as barragens não são 100% seguras, porque então a Vale não retira esses moradores, se eles não terão tempo de se salvarem no caso de rompimento de barragem em Itabira”, cobrou.

Sobre a assessoria técnica, Sérgio Costa respondeu que a empresa já discute com os representantes do Ministério Público a sua contratação, para que “a lei seja cumprida em sua integridade”.

Já com relação a remoção dos moradores das ZAS, o gerente da Vale não vê essa possibilidade. “A remoção de moradores é tida internacionalmente como um impacto muito negativo. A Vale optou em ser mais preventiva ao remover moradores quando se tem o nível 2 de emergência, mesmo quando a legislação exige que seja no nível 3”, explicou.

“Em Itabira temos estruturas que estão no máximo no nível 1. Elas estão sendo reforçadas e monitoradas permanentemente. Daí que não consideramos a necessidade de remover residências na cidade, a não ser que alguma barragem passe para o nível 2 de emergência.”

As estruturas que estão nível de emergência são justamente o dique Minervino e o cordão Nova Vista, na barragem do Pontal. Já a barragem Itabiruçu, que também estava no nível 1, recentemente saiu do nível de emergência.

Tanto que o prefeito Marco Antônio Lage (PSB), vereadores e representantes da OAB fazem gestão para reabrir o presídio do Rio de Peixe, interditado judicialmente quando a barragem Itabiruçu, que fica acima, estava no nível 1 de emergência.

A gestão é para que os presos, que foram transferidos para outras penitenciárias, possam retornar à Comarca para cumprir as suas penas próximos dos familiares, como determina a Lei de Execução Penal.

 

Posts Similares

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *