Vale esconde informações à ANM sobre Brumadinho como tem também sonegado à cidade de Itabira

Carlos Cruz

Em seu relatório sobre o ocorrido com a tragédia criminosa de Brumadinho, a Agência Nacional de Mineração (ANM) relata que descobriu que a Vale sonegou informações sobre as reais condições de estabilidade da barragem da mina de Córrego Feijão. Para Itabira, essa prática de esconder informações não é novidade.

No relatório sobre o ocorrido em Brumadinho, em 25 de janeiro deste ano, que resultou em uma tragédia com 252 mortos já identificados e mais 18 ainda desaparecidos, a agência diz que a empresa deixou de prestar informações que poderiam ter evitado a tragédia humana e ambiental.

De acordo com o relatório, 15 dias antes da ruptura da estrutura de contenção de rejeitos, já havia claros indícios que reportavam a instabilidade das estruturas. Isso de acordo com a leitura dos níveis de água registrados pelos piezômetros, que são instrumentos de monitoramento da pressão sobre o barramento, entre outros indicadores.

Além disso, diz o relatório, drenos horizontais profundos foram instalados sem que a agência fiscalizadora fosse comunicada, assim como não foi informada sobre a presença de material sólido no maciço, uma anomalia que pode também ter sido concomitante com outras causas que levaram à ruptura.

Com toda essa situação prévia agora detalhada circunstancialmente, a condição de estabilidade da barragem deveria ter sido elevada para o nível 10, enquanto a empresa registrou o nível 6, sabendo-se que quanto mais alto é o indicador, mais elevada é a condição de instabilidade.

Essa situação era conhecida pelos técnicos e dirigentes da empresa, menos pela agência reguladora, que foi a última, ou uma das últimas, a saber. Toda essa situação, hoje já se sabe, indicava o potencial da anomalia, que resultou no comprometimento da estrutura.

Mas nada disso, como também a falha de perfuração ocorrida no dia 11 de junho de 2018, foi informado à ANM, conforme consta em seu relatório. Se as medidas cautelares tivessem sido tomadas poderiam ter evitado a ruptura, assim como as mortes de trabalhadores, moradores, turistas e de animais ao longo do rio Paraopeba, com toda a tragédia humana e ambiental subsequente.

Notificação anônima

Fábio Schvartsman, ex-presidente da Vale (Fotos: O Globo)

Além do relatório da ANM, que denuncia a mineradora por falta de transparência e omissão de informações, segundo a revista Brasil Mineral a empresa está sendo investigada também por um outro fato igualmente grave.

De acordo com a reportagem, o ex-presidente da Vale Fábio Schvartsman, juntamente com outros diretores, teriam recebidos um aviso por e-mail anônimo, duas semanas antes da tragédia, relatando as reais condições de instabilidade da barragem.

Só que ao invés de tomar as providências necessárias para evitar a tragédia criminosa, o ex-presidente determinou que fosse apurada a identidade de quem fez a advertência anônima.

Essa pessoa teria sido chamada de “câncer” pelo ex-presidente, segundo documento obtido pela Polícia Federal, que investiga também a chamada cultura de intimidação e retaliação existente na empresa.

Se confirmada a existência desse e-mail anônimo, comprova-se mais uma vez que além da cultura de retaliação, há também na empresa a cultura da sonegação sistemática de informações. E que a empresa mente, quando é de seu interesse.

Foi o que teria ocorrido logo após a tragédia de Brumadinho, quando o ex-presidente afirmou que não sabia do risco de ruptura da barragem. “No caso de Brumadinho, posso afirmar categoricamente, que jamais chegou ao meu conhecimento nenhuma denúncia pelos canais oficiais da empresa ou quaisquer outros, nem mesmo os anônimos, relatando risco iminente de rompimento de barragens“, afirmou  Fábio Schvartsman.

Se sabia, ou não, tudo isso agora está sendo investigado em diferentes instâncias, inclusive pela Polícia Federal que obteve cópia do e-mail anônimo e do modo como a empresa reagiu à denúncia.

 

 

 

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3 Comentários

  1. Como dizia meu saudoso pai:
    -se essa mineradora fala, não ouça;
    -se somente escreve, não leia; e
    -se assina, corra ao Cartório para reconhecer a assinatura porque depois irão dizer que é falsa…

  2. Como dizia meu saudoso companheiro Aníbal Mourai:
    -se essa mineradora fala, não ouça;
    -se somente escreve, não leia; e
    -se assina, corra ao Cartório para reconhecer a assinatura porque depois irão dizer que é falsa…

    A CVRD/VALE, é um “sucesso” em crimes, sobretudo quando o POVO é Submisso.

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