Vale anuncia, em Nova Iorque, que tem minério nas minas de Itabira por mais duas décadas
Foto e texto: Carlos Cruz
Para felicidade geral de muitos e infelicidade para os Tutu Caramujos que, mesmo antes da mineração em larga escala ter início, em 1942, com a então estatal Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), já cismavam com a derrota incomparável, esse fim inexorável vai ter um horizonte de exaustão mais elástico.
Conforme anunciou nessa quinta-feira (14) nas bolsas de valores dos Estados Unidos, por meio de relatório padronizado pela Securities and Exchange Commission (SEC), a Comissão de Valores Mobiliários daquele país, que é apresentado anualmente por todas as empresas estrangeiras com ações negociadas no mercado internacional, o minério de Itabira só deve exaurir em 2041, o que para o leitor deste site Vila de Utopia não chega a ser novidade.
É que nos relatórios anuais do Formulário 20 (Form-20), a empresa só divulga as reservas provadas, medidas e já com plano de lavra, com estudos de viabilidade econômica, impactos socioeconômicos e ambientais. É o que faz mudar ano a ano esse horizonte de exaustão.
Saiba mais lendo aqui:
Previsão da exaustão do minério de Itabira tem mudado com o tempo nos relatórios da Vale
Ao mercado internacional são informadas também as reservas indicadas, que contam com prospecções em intervalos maiores, que permitem avaliar até onde chega a estrutura mineral, assim como o volume de minério existente na localidade.
Ambas as reservas contam com estudos de viabilidade para a sua extração e beneficiamento, como parte de um planejamento estratégico geralmente de dez anos. Esses recursos podem alongar ainda mais o horizonte de exaustão, possivelmente para além de 2050.
Minas subterrâneas
Entre essas reservas está um bloco remanescente de hematita, incrustado abaixo dos itabiritos, fato raro em geologia. “Eu tenho absoluta certeza que corpos de hematita, que começam em Conceição, onde está o silo, e descem em direção à mina Periquito, ficaram sem ser explorados por estar debaixo de itabiritos”, revela um geólogo que já trabalhou em pesquisas para a Vale, ouvido pela reportagem na condição do anonimato.
“Nas pesquisas anteriores, os furos de sonda que foram feitos em Itabira não chegaram até o final desses corpos. Se eram suficientes para se ter um planejamento de lavra por um longo tempo, paravam com as prospecções”, recorda.
De acordo com o geólogo, que confirma a opinião de outros profissionais da área de mineração também ouvidos por este site em reportagens anteriores, é bem possível que esses corpos de minério de ferro remanescentes venham a ser explorados no futuro não tão distante.
Além disso, ele não descarta a possibilidade desses corpos serem extraídos por meio de galerias subterrâneas, que têm custos operacionais mais elevados, mas que se justificam pelo alto preço da commodity no mercado internacional.
Para isso, conta, já existem tecnologias mais modernas e precisas. “Com certeza serão feitas prospecções mais profundas por técnicas geofísicas, análise de testemunhos.”
Além disso, por meio de um processo chamado magnetometria, que permite medir a intensidade magnética na região, é possível avaliar o corpo de minério existente em determinada localidade, dando certeza de sua existência, ou não.
Se comprovada a viabilidade da exploração desses corpos remanescentes, seja por meio de minas subterrâneas, ou pelas já conhecidas lavras abertas, Itabira pode de fato prolongar o horizonte de exaustão de suas minas por mais algumas décadas, como agora foi anunciado.
Leia mais aqui:
Vale estuda viabilidade de explorar mina subterrânea de minério de ferro em Itabira
Entraves
Esse horizonte mais elástico de exploração mineral, no entanto, terá pela frente grandes desafios, como por exemplo, a questão das barragens. A cidade de Itabira tem 15% de seu território urbano nas chamadas Zonas de Autossalvamento (ZAS), com mais de 18 mil pessoas residindo nessas áreas.
Por lei federal, nessas áreas não é mais permitida novas construções, sejam públicas ou privadas. Para eliminar esse entrave, a Vale tem até 30 de junho para apresentar à Agência Nacional de Mineração (ANM) uma das três alternativas previstas em lei.
São elas: desativar, eliminando as barragens, o que parece improvável no curto prazo, remanejar os moradores e o patrimônio cultural das ZAS, e reforçar as estruturas, como a empresa já vem fazendo e que provavelmente será a opção que a mineradora deve apresentar à agência reguladora.
Não se pode também arrefecer a política de diversificação da base econômica de Itabira, extremamente dependente da mineração, sendo que já foi diversificada antes de ter início a mineração em larga escala. Isso para que o município possa ter uma economia sustentável, independente do minério.
Que se busque, desde já, transformar a aldeia onde tudo começou em um “case” de sucesso, como gosta de dizer o prefeito Marco Antônio Lage.
Para saber mais acesse:
Projeções confirmadas
Conforme anunciou o ex-diretor da Vale José Francisco Viveiros, em 2003, na Acita, com base no “mais completo mapeamento geológico” realizado no início deste século, Itabira dispunha de minério para ser explorado por mais 60 anos.
Naquela ocasião, as reservas provadas de Itabira saltaram de 677 milhões de toneladas para 1,135 bilhão de toneladas. Leia aqui:
Itabira tem minério para mais de 60 anos, disse diretor da Vale em 2003
“Vida longa para as minas de Itabira”, preconizou o ex-diretor Viveiros em 2003 na Acita
Isso enquanto os recursos (reservas inferidas), com as novas prospecções, saltaram de 2,8 bilhões para 3,9 bilhões de toneladas. “São as nossas reservas futuras”, ufanizou o ex-diretor Viveiros naquela ocasião. E agora se confirma que Viveiros estava certo, com base nas prospecções realizadas nas minas de Itabira. Leia também aqui.
A notícia ufanista do ex-diretor Viveiros teve uma informação adicional ainda mais animadora para os que querem ver a continuidade da mineração no município.
“Os limites da mineração permanecem os mesmos. Não haverá expansão das minas para além do ‘pit’ (fronteira) atual”, assegurou o então diretor de Ferrosos na reunião com os empresários itabiranos.
Leia mais também:
Reservas de minério de Itabira mergulham das minas em direção à cidade, diz gerente da Vale
Essa mineradora sempre é a embromação da embromação…
Caro Carlos, é um alento os seus artigos sobre a cidade toda de ferro é sem coração.
Quer dizer que os poderosos da Itabira terão mais 2 décadas pra sabotar os interesses do município, ninguém merece…
É impressionante como os tais chefões ficam fazendo esse joguinho . Com certeza já tem muitas e muitas informações sobre o que ainda a cidade tem a “lhes oferecer ” . Trabalham na surdina , negando e escondendo informações, para ficarem suaves na máquina. Esta empresa sempre desdenhou seu berço . Pirraça Itabira de todas as formas , como se não tivessem nenhuma responsabilidade sobre muitas coisas que poderia oferecer além das dadas devidas proporções; a mixaria dos impostos Que infelizmente não foram devidamente aplicados ao município, e “não se sabe “onde foram param tantos recursos aos longos destes anos . Eles nunca irao ser sinceros com a cidade que os fizeram ser o que é .
E a reserva da Vila Paciência??