Um presidente contra a imprensa e a democracia

Rafael Jasovich*

Após as multidões saírem às ruas em protestos contra o desgoverno do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), pedindo o seu impeachment, vacina para todos e auxilio emergencial de R$ 600, o descontrole psicológico e o desespero político ficaram mais uma vez evidentes com o novo ataque à imprensa, dessa vez atingindo grosseiramente a jornalista Laurene Santos, da TV Vanguarda, em Guaratinguetá (SP), na segunda-feira (21).

O presidente se irritou ao ser lembrado pela repórter que ele havia sido multado pelo governo de São Paulo por não ter usado máscara durante a motociata, no último dia 12. Disse que não precisava, pois estava utilizando capacete e que isso bastava. E esbravejou: “Eu chego como quiser e onde eu quiser. Eu que cuido da minha vida. Se você não quiser usar máscara, você não usa”.

Dirigindo-se covardemente à jornalista da afiliada da rede Globo na região do Vale do Paraíba (SP), Bolsonaro mais uma vez elevou o tom. “Cala a boca! Vocês são uns canalhas – vocês fazem um jornalismo canalha, que não ajuda em nada. Vocês destroem a família brasileira, destroem a religião. Vocês não prestam”, esbravejou. “Você tinha que ter vergonha na cara por prestar um serviço porco desse que você faz na Rede Globo.”

Os novos ataques do presidente a profissionais, veículos e empresas de comunicação impõem, em definitivo, um dilema ético à grande mídia brasileira: até quando tolerar um presidente que, a despeito da agenda econômica afinada com os interesses empresariais, é uma ameaça crescente à liberdade de imprensa e ao Estado Democrático de Direito?

Não é de hoje que Bolsonaro agride a imprensa, recorrendo a mentiras, ofensas, difamações e injúrias, como ocorreu com a jornalista Laurene Santos. Mas de Bolsonaro pode-se esperar todas as formas de grosserias e truculências.

No transcorrer de seus sete mandatos como deputado federal pelo Rio de Janeiro, entre 1991 e 2018, nas poucas aparições que ele teve no plenário da Câmara foi para disparar insultos e falsidades contra diversas instituições – entre as quais, a imprensa. Os seus sucessivos mandatos como parlamentar foram marcados pela irrelevância e pela escassez de projetos.

Por atos, ações e omissões, intensifica em todo o país a exigência do impeachment, como se viu nas manifestações de sábado (19) em mais de 400 municípios. É assim que ecoa em todo o país o grito nacional: “Fora Bolsonaro genocida!”.

O que mais aguarda os deputados para autorizarem o início do processo de impeachment? Chegar a mais de um milhão de brasileiros mortos pela Covid-19?

*Rafael Jasovich é jornalista e advogado, membro da Anistia Internacional.

 

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