Filhos destemperados aumentam crise no governo em Brasília

Rafael Jasovich

Votaram num fascista e levaram quatro: “os garotos” mandam no pai e querem mandar no Brasil. Os militares estão arrepiados

A crise política aberta com os desdobramentos em torno das denúncias de candidaturas laranjas do PSL, que resultaram na fritura do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, e em ataques diretos feito pelos filhos do presidente Jair Bolsonaro, levou os militares que integram o governo a decidirem interferir diretamente no caso para evitar que a demissão de Bebianno acabe por levar a cizânia a outros setores do governo.

Além do temor de que ao cair, Bebianno o faça atirando, o entendimento geral é que Carlos Bolsonaro teria passado dos limites com os ataques diretos contra o ministro.

A crise política vem sendo ampliada nos últimos dias. E ganhou novos contornos após o vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente, chamar o ministro de “mentiroso” nas redes sociais em razão de declarações feitas por ele de que não havia crise e que continuava falando regularmente com o presidente.

Na quarta-feira (13), em uma entrevista concedida à TV Record, Bolsonaro mandou um recado a Bebianno ao afirmar que ele “voltará às origens”, caso seja confirmado que está envolvido no esquema de candidaturas laranjas.

Apesar da pressão, Bebianno vinha resistindo e diz que só deixará o cargo se for demitido, o que levou ao temor de que, caso ele caia, crie complicações ainda maiores ao governo.

Segundo o jornal O Estado de S. Paulo os militares que integram o governo avaliam que é necessário “estancar” a ação do clã familiar de Bolsonaro, que irá de encontro aos interesses nacionais.

Entre os militares envolvidos na operação para conter a crise estão o vice-presidente Hamilton Mourão, e os ministros do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e da Secretaria de Governo, Augusto Heleno e Carlos Alberto dos Santos Cruz, respectivamente.

Outros interlocutores e ministros também estariam agindo para impedir novas ações do gênero. O entendimento geral é que Carlos Bolsonaro teria passado dos limites com o ataque direto a Bebianno.

“O presidente vai tomar uma decisão, foi uma coisa que ele me disse. Acho que ele está aguardando o momento para conversar com o ministro e acertarem os ponteiros”, disse em entrevista à Reuters o vice-presidente, que contou ter conversado com Bolsonaro no início da tarde.

Ele também avaliou que o chefe do Executivo “vai dar uma ordem unida na rapaziada”, em uma referência aos filhos do presidente; sobre o escândalo do PSL, reafirmou: “A minha posição é uma só: se tem denúncia, tem de ser apurada”

Envolvido em denúncias de que o seu partido, PSL, teria criado candidatas laranja para ter acesso a recursos do financiamento público de campanha, Bebianno entrou em um processo de fritura e sofreu um ataque direto de um dos filhos do presidente, Carlos.

O vereador chamou o ministro de “mentiroso” em sua conta no Twitter, negando que Bebianno tivesse conversado com Bolsonaro, como tinha afirmado.

Na sequência, Carlos vazou um áudio enviado por Bolsonaro a Bebianno, em que o presidente dizia que não poderia conversar com seu ministro. No início da noite de quarta, Bolsonaro compartilhou os tuítes do filho.

“Eu acho que ficou chato essa discussão via imprensa”, comentou o vice-presidente, acrescentando que foi uma escalada de fatos, com Bolsonaro incomodado com as denúncias, e que terminou com a entrada de Carlos “no circuito”.

“A minha posição é uma só: se tem denúncia, tem de ser apurada. Aí você toma a atitude. Eu acho que condenar uma pessoa a priori é muito chato.”

*Rafael Jasovich é jornalista e advogado, membro da Anistia Internacional

 

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