Treinamento simulado para o salve-se quem puder da lama de barragens acontece no sábado em parte da zona rural de Itabira e de Santa Maria
Barragem de Santana Fotos: Carlos Cruz
Reportagem foi reeditada com correções e atualizações em 11 de maio de 2022
Ainda não será desta vez que moradores do perímetro urbano de Santa Maria de Itabira participarão do simulado de emergência para o “autossalvamento” ou do salve-se quem puder no caso de rompimento de barragens localizadas no chamado eixo Norte, conforme divisão da Vale, O simulado vai acontecer neste sábado (14), às 15h.
Santa Maria está a poucos quilômetros abaixo da barragem de Santana. O eixo Norte engloba também as barragens Borrachudo, Borrachudo II, Alcindo Vieira, Dique Quinzinho, Dique Ipoema, Jirau, Piabas, Cemig I, Cemig II, todas localizadas em Itabira.
O perímetro urbano de Santa Maria está quase por inteiro na rota do tsunami que levaria o que encontrar à frente, no caso de ocorrer algum colapso nesta estrutura, que tem resistido bem às grandes enchentes dos últimos anos. Mas, no entanto, esse perímetro urbano, segundo a mineradora, não está na chamada Zona de Autossalvamento (ZAS), mas na Zona de Segurança Secundária (ZSS), por isso não participa do simulado.
Santana foi construída no início da década de 1970 para conter o carreamento e assoreamento por fino de minério no leito e na margem do rio Jirau – e também para funcionar como imenso reservatório de água para a mineradora Vale concentrar itabiritos na usina Cauê.
Volume e reforço
A estrutura armazena 11,4 milhões de metros cúbicos com sedimentos (rejeitos) e água. A altura do barramento é de 52,40 metros. E a estrutura está no nível 1 do Plano de Ação de Emergência para Barragens de Mineração (PAEBM). Saiba mais clicando aqui.
Isso significa que, mesmo não sendo necessária a evacuação da população que mora abaixo dessa barragem, indica a existência de alguma instabilidade da estrutura, tanto que está passando por obras de reforço.
Mas estranhamente, no perímetro urbano de Santa Maria não se vê placas de advertência para o caso de ruptura da barragem, assim como não há indicações de pontos de fuga. Pela rodovia MG-129-434, a última placa de advertência está antes do início do bairro Lambari.
As placas indicam para onde correr e abrigar-se em segurança. no caso de uma emergência, quando os moradores devem se deslocar para pontos de encontros previamente definidos, no salve-se quem puder caso ocorra uma “hipotética” ruptura da barragem de Santana.
Isso ocorre mesmo estando quase todo o perímetro urbano ser inteiramente impactado em caso de ruptura da barragem de Santana. Mas por não estarem na ZAS, e sim na ZSS, a cidade não se enquadra, diferentemente do que ocorre em Itabira e muitas outras cidades mineradas que estão na rota da lama, nas restrições e vedações impostas pela Lei Federal 14.066/2020.
É essa lei, sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), em 30 de setembro de 2020, que proíbe a expansão urbana, seja por meio de obras públicas, como também por particulares.
Caso queira saber mais sobre as restrições da legislação federal, acesse:
Leia mais aqui
E conheça a íntegra da Lei Federal 14.066/2020 clicando aqui.
Em coletiva de imprensa virtual, realizada na sexta-feira (7), o representante da Vale, Francisco Oliveira, confirmou que toda a cidade de Santa Maria se encontra na manchja de inundação, mas na ZSS, o que significa que haveria tempo de a população obter ajuda para se salvar de um eventual tsunami,
Disse ainda que a instalação de placas na cidade está sendo discutida com a Defesa Civil do município vizinho, assim como deve ser programado, ainda sem data, um simulado de emergência com participação dos moradores da área urbana de Santa Maria.
“O simulado na cidade de Santa Maria de Itabira é uma ação a ser definida pela Defesa Civil em conjunto com a Vale”, informou o representante da mineradora.
Abrangência
Para o mês de agosto, haverá mais um simulado de emergência para os moradores do eixo Sul que estão na rota da lama de rejeitos, em número maior, abrangendo mais de 18 mil pessoas.
Já para o simulado deste sábado o número de participantes será bem menor. Abrange cerca de 1.100 pessoas que se encontram na ZAS das zonas rurais de Itabira e Santa Maria, além de parte da Zona de Segurança Secundária (ZSS) do município vizinho.
De Santa Maria participam moradores das comunidades rurais de Cordeiros, Flor do Vale, Gaspar, Córrego dos Lages, Morro Queimado, Chácara, Soares (Piteira) e zona rural adjacente.
De Itabira estão convocadas a participar as comunidades rurais do Borrachudo, Monjolo da Carolina, Gaspar, Mandembo, Padres, Pedreira, Rocinha e zona rural próxima.
Prevenção de rotina
Segundo a mineradora, o simulado prático de emergência é “atividade rotineira e tem caráter preventivo” – uma continuidade das ações do PAEBM das estruturas, em cumprimento à legislação vigente.
Informa ainda que no “horário do simulado os moradores serão avisados por meio do toque real de sirenes, sendo que antes é emitida uma mensagem informando que se trata de um simulado – e os participantes devem seguir as rotas de fuga e se dirigir aos pontos de encontro localizados em área segura”
“O objetivo é reforçar a cultura de prevenção e orientar a população sobre como proceder em caso de emergência, um dos pilares do princípio de garantia de não repetição”, reitera a mineradora em nota enviada a imprensa.
Como medida preventiva, durante o simulado haverá interdição temporária do trânsito de veículos em vias secundárias nas saídas para Ipoema/Itambé e também, em estradas vicinais dos dois municípios.
Esclarecimento
A Vale assegura que não houve alteração das condições de segurança das estruturas existentes em Itabira.
“As barragens da empresa passam por inspeções rotineiras de campo e são monitoradas permanentemente por uma série de instrumentos e pelo Centro de Monitoramento Geotécnico (CMG).
Mais informações sobre as estruturas podem ser obtidas também no site http://www.vale.com/esg.
Saiba quais são as vias interditadas temporariamente durante o simulado
Itabira
• MGC-120 – Itabira a Santa Maria de Itabira
• MG-462 – Itabira sentido a Santa Maria de Itabira
• AMG-900 – 1240 sentido à Senhora do Carmo
• AMG-900 – 1240 sentido a Ipoema
• Estrada vicinal sentido à barragem Borrachudo II
• Estrada vicinal de acesso à comunidade São Pedro
• Estrada vicinal sentido à comunidade Morro Santo Antônio
• Estrada vicinal de acesso à comunidade dos Padres
• Estrada vicinal de acesso à Pedreira
• Estrada próxima à entrada do aterro sanitário de Itabira
• Estrada vicinal de acesso à barragem Alcindo Vieira
• Estrada vicinal de acesso à barragem Jirau
Santa Maria de Itabira
• MGC-120 – Próximo à comunidade Soares
• Estrada vicinal sentido à comunidade Gaspar
• Estradas vicinais na comunidade Córrego da Lage
• Estrada vicinal sentido ao Morro Santo Antônio
• Estrada vicinal acesso à comunidade Cordeiro
• Estrada vicinal sentido à comunidade Soares
Vale diz que a cidade de Santa Maria de Itabira não está na ZAS, mas na ZSS em relação aos impactos e riscos da barragem de Santana
Por meio de sua assessoria de imprensa, a Vale faz correções nas informações contidas na reportagem sobre o próximo simulado de emergência para o “autossalvamento” para o caso de rompimento de barragens localizadas no chamado eixo Norte, conforme divisão da Vale, o que inclui a barragem de Santana. O simulado vai acontecer neste sábado (14), às 15h.
Leia abaixo os trechos que a empresa contesta e pede correções:
(…) As placas indicam para onde correr e abrigar-se em segurança, no caso de uma emergência, quando os moradores devem se deslocar para pontos de encontros previamente definidos, no salve-se quem puder caso ocorra uma “hipotética” ruptura da barragem de Santana.
Isso ocorre mesmo estando quase todo o perímetro urbano localizado na chamada Zona de Autossalvamento (ZAS). Daí que Santa Maria, assim como Itabira e as demais cidades mineradas que estão na rota da lama de rejeitos de minério, encontram-se sujeitas às restrições e vedações impostas pela Lei Federal 14.066/2020.
(…) Em coletiva de imprensa virtual, realizada na sexta-feira (7), o representante da Vale, Francisco Oliveira, confirmou que toda a cidade de Santa Maria se encontra na ZAS.
Correção: A cidade de Santa Maria de Itabira fica localizada a 6 quilômetros da extensão final da Zona de Autossalvamento (ZAS) das barragens de Itabira. Portanto, não está na ZAS de nenhuma estrutura. A Vale está implantando placas de sinalização de emergência em toda a Zona de Segurança Secundária, em acordo com as prefeituras e Defesas Civis municipais.
(…) Disse ainda que a instalação de placas na cidade está sendo discutida com a Defesa Civil do município vizinho, assim como deve ser programado, ainda sem data, um simulado de emergência com participação dos moradores da área urbana de Santa Maria. “Futuramente haverá também um simulado na cidade, que será programado pela Defesa Civil local”, assegurou o representante da Vale.
Correção: O representante não assegurou que haverá simulado na cidade. Disse que: “o simulado na cidade de Santa Maria de Itabira é uma ação a ser definida pela Defesa Civil em conjunto com a Vale”.
Legenda do print da foto do Teams: Na coletiva de imprensa virtual foi explicado como ocorrerá o primeiro simulado de autossalvamento em Itabira e Santa Maria, fora o perímetro urbano
Correção: Não foi informado que este seria o primeiro simulado. Em 21 de agosto de 2021 foi realizado simulado com a população, referente às mesmas barragens (Borrachudo, Borrachudo II, Alcindo Vieira, Dique Quinzinho, Dique Ipoema, Jirau, Piabas, Cemig I, Cemig II e Santana).
Correção: esta foto não é do Dique Ipoema e sim do Dique Quinzinho.
Nota da redação
É muito estranho, por critérios que não estão claros, que a cidade de Santa Maria de Itabira (perímetro urbano) não esteja na Zona de Autossalvamento para o caso hipotético de colapso com ruptura da barragem de Santana.
É que, no caso, ainda que hipotético dessa barragem sofrer colapso, será um salve-se quem puder na vizinha cidade, que desde o início da década de 1970, principalmente no período chuvoso, teme pelo pior em relação a essa estrutura, que está sendo reforçada, mantendo-se toda a população insegura.
Se a cidade de Santa Maria não está na ZAS, também não procede a informação de que sofre com as mesmas restrições e vedações da Lei Federal nº 14.066/2020, que proíbe obras públicas e particulares nas Zonas de Autossalvamento.
Fica também a indagação: se as placas de sinalização de pontos de fuga são importantes, por que só agora está sendo estudada a sua instalação no perímetro urbano? E se o treinamento para o autossalvamento é imprescindível, por que ainda não foi realizado na vizinha cidade?
Pra resolver a parada, para um impedir mais um genocídio por parte da mineradora, só convocando o camarada Putin e a poderosa artilharia russa.
A Vale ligou o foda-se faz tempo.
Ninguém reclama e as gestões se calam.
Se romper mais uma, é só mais uma.