Show de Johnny Hooker é cancelado em Itabira por incompatibilidade de agenda, mas conservadores homofóbicos festejam
Foto: Reprodução
Não foi por pressão de conhecidos políticos e grupos de pessoas reacionárias, conservadoras, homofóbicas e bolsonaristas, que o show do cantor pernambucano Johnny Hooker foi cancelado no 48º Festival de Inverno de Itabira, o que seria censura à sua voz que canta a diversidade e o direito de cada um ser o que quer, levantando-se contra todas as formas de preconceito e discriminação, além de ser um grande artista.
Por meio da assessoria de imprensa da Prefeitura, a Fundação Carlos Drummond de Andrade (FCCDA) esclarece que o cancelamento ocorreu por incompatibilidade de agenda. É que o artista, em turnê pela Europa, com o sucesso alcançado, decidiu ficar por mais um tempo no velho continente, cansado da estupidez e da intolerância em seu país.
“O distrato (cancelamento) se deu em comum acordo com a produção do artista. E foi motivada por um problema de agenda do cantor, que precisou estender a turnê que faz atualmente na Europa”, assegurou a FCCDA.
A justificativa pelo cancelamento é confirmada pelo artista. “O show em Itabira foi cancelado em comum acordo porque terei que estender minha estadia na Europa por outros compromissos. A produção do Festival de Inverno foi maravilhosa e fez de tudo para que o show acontecesse.”
Ainda de acordo com a assessoria de imprensa da Prefeitura, após a produção ter informado que o cantor só voltaria da Europa no dia 16 de julho, a FCCDA teria sugerido reagendar o show no dia 17, data de encerramento do festival. “O entendimento, porém, foi de que ficaria inviável para o artista cumprir a agenda em Itabira.”
Reação conservadora
Grupos e políticos bolsonaristas partiram para cima da Prefeitura, “exigindo” (sic) do prefeito o cancelamento do show do cantor que, em um show em 2018, teria dito que Jesus seria travesti se voltasse hoje à Terra para salvar a humanidade. A declaração do artista foi uma forma de protesto contra aos ataques homofóbicos à peça O Evangelho Segundo Jesus Cristo, Rainha do Céu, cuja protagonista era uma atriz travesti no papel do filho de Deus.
Para esses fundamentalistas conservadores, a afirmação de Johnny Hooker soou como blasfêmia, uma ofensa à moral e à tradição judaico-cristã, que prega um Jesus Cristo casto, virgem, sem pecado original.
Para pressionar o prefeito a cancelar o show, lançaram pela rede social um abaixo-assinado em que afirmam que a presença do cantor “fere todos os princípios da família cristã itabirana”.
Um conhecido político postou na rede social, pressionando o prefeito. “Cancela, prefeito. Jesus não é travesti. A sua máscara já caiu: Johnny Hooker não é bem-vindo a Itabira. Chega de depravação”, escreveu o bolsonarista, que festejou o cancelamento, como se fosse resultado da “pressão popular”, mentindo como é de seu costume. “Glórias a Deus. Quando o povo posiciona, as coisas mudam. Johnny Hooker cancelado!”
Contrapartida
Como contrapondo aos fundamentalistas conservadores itabiranos, fãs do cantor promoveram um abaixo-assinado digital “contra o boicote e a intolerância ao show de Johnny Hooker.”
“O cantor, com as suas músicas e performances voltadas para a liberdade de expressão e resistência cultural, viria pela primeira vez na cidade. Infelizmente seu show foi cancelado diante de posicionamentos homofóbicos, intolerantes e preconceituosos oriundos de fanatismo religioso e um moralismo tóxico que censura”, classificaram os promotores do abaixo-assinado, que até o fechamento desta matéria já contava com mais de 1,9 mil assinaturas.
“Itabira resiste à minoria que não nos representa, que dissemina discurso de ódio e preconceito em nossa cidade. Somos uma cidade progressista e não nos calaremos. A arte é livre! Com o cancelamento de seu show, queremos um novo artista LGBTQIA+ para se apresentar no Festival de Inverno”, reivindicam os signatários do abaixo-assinado pró Johnny Hooker.
A reivindicação procede, já que o Festival de Inverno de Itabira, nesta edição, tem-se pautado pela diversidade. Isso ao ponto de, pela primeira vez, constar de sua agenda a apresentação de uma banda gospel Ao Cubo, grande atração nas Marchas para Jesus, tradicional evento evangélico realizado em São Paulo.
Mais controvérsia
A inclusão da banda gospel na agenda também gerou controvérsia. “Música Gospel? Melhor ser surdo”,escreveu o médico Carlos Roberto Souza na rede social. Para ele, música gospel é material de proselitismo religioso.
“Portanto, não poderia ser patrocinada pelo Poder Público, pois o Estado brasileiro é laico e lhe é defeso tal prática, como determina a CRFB/1988, em seu artigo 19: “É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I – estabelecer cultos religiosos ou igrejas, “subvencioná-los” , embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público.”
Conselho LGBTQI+
Já passa da hora de a Câmara Municipal de Itabira pautar a discussão e votação do projeto de lei nº 10/2022, de autoria do prefeito Marco Antônio Lage (PSB), que trata da promoção do respeito, dos direitos e da dignidade das pessoas LGBTQIA+ (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, transgêneros, queer, intersexuais, assexuais e mais o que se quiser ser).
O mesmo projeto, que está parado na Câmara desde o dia 18 de fevereiro por pressão de pastores e bolsonaristas, cria o Conselho Municipal de Promoção da Diversidade (COMLBTQIA+). O seu objetivo é implantar ações governamentais “que visem o acolhimento, a proteção, a saúde, o trabalho e a participação da sociedade civil na definição da política municipal de promoção da cidadania e da diversidade LGBTQIA+ no município de Itabira”.
Ouça Johnny Hooker
Para quem não conhece, ou quer recordar, ouça uma das canções de Johnny Hooker, enquanto ele não vem a Itabira:
Não importa mais a razão do cancelamento do concerto, agora importa a censura. A vereadora Rose Freitas já censurou, mas não tem uma fala sequer contra os abusos de décadas no Centro Cultural. O que deveria ser o dever da senhora excelência. É vereadora pra enfeitar a Câmara, é apenas uma gata de trincar veneza. Gente hipócrita. E o pior está por vir na Itabira, dado que o Legislativo tá de zueira. Pobre do prefeito Marco Antonio, ter de lidar com o atraso, a mediocridade.