Romeu Zema manda fechar o comércio e põe fim à manobra casuística da CDL para manter lojas aberas em Itabira
Carlos Cruz
Praticamente todo o comércio varejista de rua, em Itabira, abriu as portas neste sábado (21), pela manhã, numa clara desobediência civil ao que determina o decreto municipal 3.178, de 19 de março, posto pelo prefeito Ronaldo Lage Magalhães (PTB), mandando fechar já neste sábado todos os estabelecimentos não essenciais.
Comerciantes ouvidos pela reportagem, que deram entrevista na condição do anonimato, disseram que seguem orientação da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) para só fechar as suas lojas a partir de segunda-feira (23).
É a data fixada pelo governador Romeu Zema (Novo), ao decretar estado de calamidade pública em Minas Gerais, para o fechamento do comércio nos 853 municípios mineiros, exceto os que vendem ou prestam serviços essenciais. O objetivo é conter ao máximo a tendência de alta da pandemia no estado, para que não se repita o que está ocorrendo na Itália.
O início da disseminação do coronavírus no Brasil segue a mesma tendência verificada naquele país, que já superou o número de mortes na China – e acende o sinal vermelho na área de vigilância em saúde por aqui, após o tresloucado presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ter desdenhado a pandemia no seu início.
O fechamento do comércio é medida profilática necessária. Chega atrasada para tentar conter a disseminação do novo coronavírus (Covid-19), que já infectou mais de mil pessoas no país – e matou mais de uma dezena de cidadãos brasileiros.
Sem o fechamento do comércio e dos serviços não essenciais, além da quarentena voluntária que deve virar compulsória nos próximos dias, o já anunciado colapso do sistema de saúde no país ocorrerá mais cedo, no ápice da pandemia.
Se isso ocorrer, preveem as autoridades de saúde, será maior – e assustador – o número de mortes. É o que se quer evitar com a participação de todos, com o isolamento social.
Mau exemplo

Mas esse bom exemplo não está sendo dado pelos comerciantes itabiranos. Isso mesmo alegando que cumprem orientação da CDL, que casuisticamente e pragmaticamente interpretou no artigo 1º do decreto 3.178, parágrafo 4º, como permissão para que o comércio de rua continuasse funcionando, “com escala mínima de pessoas”.
Segundo essa tendenciosa interpretação, que foi endossada também pela Associação Comercial de Itabira (Acita), só estaria proibido o comércio em galeria e shopping-center, inexistentes na cidade, à exceção do comércio ultra varejista no Cobal.
Ou seja, por essa interpretação, praticamente todo comércio itabirano poderia continuar funcionando, mesmo com a pandemia se alastrando pelo país nos próximos dias.
Na verdade, o decreto municipal proíbe todo comércio e serviço não essenciais, liberando apenas aqueles que são imprescindíveis, como supermercados, postos de gasolina – além dos mais que essenciais hospitais, pronto-socorro, postos de saúde, clínicas médicas.
Antecedente

Dirigentes da CDL e da Acita alegam que teriam se reunido com o prefeito Ronaldo Magalhães antes da decretação do estado de calamidade no município.
E distribuíram nota à imprensa com a esdrúxula e capciosa interpretação de que o comércio de rua estaria liberado para funcionar nos próximos dias – o que se tornaria uma ameaça à saúde pública, dada às circunstâncias, em especial dos comerciários e consumidores, extensivo a todos os seus familiares.
Mas a manobra protelatória dos dirigentes lojistas e empresariais itabiranos não deu certo. Após a publicação do decreto do governador Zema todos terão que fechar as portas a partir de segunda-feira. Pelo decreto municipal, isso deveria ter ocorrido já a partir de hoje, repita-se.
Resignação
Nessa sexta-feira, pouco depois de 22h, a CDL distribuiu outra nota à imprensa. Sem mencionar a manobra anterior, lamenta que o decreto assinado pelo governador tenha “sobreposto o decreto” assinado pelo prefeito de Itabira, que, segundo interpretaram os dirigentes lojistas, permitia o pleno funcionamento do comércio de rua, “conforme acordado” com as entidades empresariais.
Acharam que poderiam manter funcionando o comércio varejista de rua – a maioria na cidade – como se estivesse tudo normal, desde que aumentassem a assepsia nas lojas, com rodízio e restrição do número de funcionários.
Segundo defenderam os dirigentes da CDL e Acita, a exceção para liberar o funcionamento do comércio de rua visava manter “a atividade econômica e o emprego, em um setor fundamental para o município”.
A manobra ficou sem efeito, mas fica o registro de uma tentativa tacanha de assegurar vendas que, em tempos normais, são justas e necessárias para manter o comércio, que pelo volume de dinheiro circulante na cidade, deveria ser dinâmico, moderno e competitivo.
“Todo mundo vai ter que se reinventar. Infelizmente, essa é a condição que nos foi imposta”, lamenta o presidente da CDL, Maurício Martins, que diz se apoiar em dicas da Confederação Nacional do Comércio para ajudar os associados.
“É uma medida extremamente necessária, as pessoas precisam ficar em casa. É um remédio amargo, que nos atinge diretamente, mas que precisa ser aplicado”, admite resignado o dirigente lojista.