Rodrigo Chaves reafirma o que já disse o ex-superintendente Ricardo Dequech: “A Vale não é boba de deixar Itabira.”
Carlos Cruz
Não será daqui a dez anos que Itabira se defrontará com a derrota incomparável que virá, inexoravelmente, assim que exaurir o minério de ferro explorado pela Vale há 76 anos em larga escala. Quem assegura é o gerente executivo do complexo de Itabira, Rodrigo Chaves, que repete, com outras palavras, o que declarou ao jornal O Cometa, no início da década de 1990, o ex-superintendente Ricardo Dequech: “Com os ativos que tem no município, a Vale não é boba de deixar Itabira”.

Na abertura da Reunião Pública realizada na quinta-feira (28), no plenário da Câmara Municipal, Rodrigo Chaves pediu licença para abordar o anúncio da exaustão mineral.
“Antes de entrar no assunto específico (do alteamento da barragem do Itabiruçu), quero abordar um tema que neste mês gerou muitas dúvidas nos itabiranos. Estou falando da publicação do Form20, que é um relatório de reservas medidas e que a Vale entrega à Bolsa de Nova Iorque, como faz todos os anos.”
Rodrigo Chaves se referiu ao relatório circunstanciado das condições econômicas, sociais e ambientais, com informações sobre a empresa em todo mundo, encaminhado à Securities and Exchange Commission (SEC), em abril deste ano, como exigência para que a empresa oferte as suas ações na Bolsa de Nova Iorque, nos Estados Unidos. Saiba mais aqui.
A notícia de que as minas de Itabira devem exaurir em uma década deixou a sociedade itabirana apreensiva. Aguçou o sentimento de tempo perdido em busca da diversificação econômica, que até então não ocorreu.
Isso, embora a Prefeitura tenha investido altas somas de recursos em empreendimentos que não deram certo, com empréstimos subsidiados por intermédio do Fundo de Desenvolvimento Econômico e Social de Itabira (Fundesi). Esses empréstimos foram concedidos por meio de uma equivocada política de incentivo econômico, com elevado índice de inadimplência e de acertos mal-explicados. Para saber mais sobre o que fizeram com parte desses recursos, leia aqui.
Mal-entendido

“(o relatório Form20) gerou comentários de que a Vale estaria encerrando as suas atividades em Itabira daqui dez anos. Isso não é um fato”, assegurou o gerente da Vale. Segundo ele, a empresa planeja continuar no município até mesmo após encerrar as suas reservas minerais.
“O nosso plano é manter-se em Itabira, é não deixar Itabira. Esperamos ter muito mais tempo aqui, produzindo e convivendo em Itabira”, procurou tranquilizar. Para que isso se torne realidade, seria o caso, por exemplo, de a empresa enfim instalar no município uma usina de pelotização, conforme foi prometida e anunciada com estardalhaço, no início da década de 1990, pelo então superintendente Ricardo Dequech.
Chaves lembrou ainda que já esteve anteriormente na Câmara debatendo a questão do desemprego na cidade. E assegurou que a empresa se mantém aberta para debater qualquer assunto com a sociedade itabirana. “Com tranquilidade, vamos ter o momento oportuno, em fóruns adequados, para discutir quais são os planos futuros da Vale em Itabira e quais são os planos para cidade junto com a Vale”, prometeu.
Horizonte mais extenso
Rodrigo Chaves não disse, mas é fato, já anunciado em 2003, que a Vale dispõe de mais reservas e recursos em Itabira do que está no relatório Form20. É que, por esse relatório, a empresa só declara os recursos e as reservas que foram comprovados por auditoria externa independente, reconhecida internacionalmente.
No relatório Form20 não são declarados os recursos e as reservas que ainda demandam estudos mais aprofundados de viabilidade socioeconômica e ambiental. De acordo com pesquisas de 2003, portanto, há 15 anos, as reservas conhecidas de Itabira, naquela época, seriam de 1.135 bilhão de toneladas (Bt), distribuídas entre hematita com 418,9 milhões de toneladas (Mt) e itabiritos com 716 Mt.
Só com essas reservas, considerando a média de produção anual de 40 milhões de toneladas (Mt), restariam ainda 535 Mt, suficientes para estender o horizonte de exploração por mais 13 anos.
Como na mesma ocasião foi relatada a existência de recursos adicionais da ordem de 3,9 Bt, o horizonte da exaustão mineral, para o caso desses recursos serem viabilizados, se alongaria por mais algumas dezenas de anos.
Foi o resultado apurado com essas pesquisas geológicas que levou o ex-diretor da Vale José Francisco Viveiros a declarar, em 2003, na Acita, que Itabira teria minério para mais de 60 anos. Ufanismo à parte, por essa conta restariam, portanto, pelo menos mais 45 anos de mineração no complexo de Itabira – e não apenas uma década, conforme foi declarado pela Vale à Bolsa de Nova Iorque.
Ufanismo e pessimismo
Diferentemente do que ocorreu agora com o fatídico anúncio de que as minas de Itabira se exauririam em menos de uma década, as pesquisas de 2003 propiciaram uma onda de ufanismo no município. Nunca se viu tanto investimento imobiliário na cidade como ocorreu desde então.
Entretanto, o relatório Form20, ainda que esteja restrito aos recursos e às reservas comprovadas e auditadas, e não englobe o que há de recursos disponíveis em Itabira, lembra que o fim é inexorável – e de que “tudo que é sólido desmancha no ar”, juntamente com a poeira em suspensão que, neste período de estiagem e ventos fortes, invade a cidade.
Sinaliza ainda, mais uma vez, que políticos e empreendedores não podem mais adiar a busca por alternativas econômicas, ou locupletar com os recursos que devem ser destinados a encontrar empreendimentos sustentáveis para que sejam assegurados o presente e futuro de Itabira.
Não importa se esse mesmo futuro seja com ou sem o minério. Há quem afirme que minério de ferro não acaba – torna-se inviável a sua exploração. Isso é fato, como é também a possibilidade de se concentrar, já de imediato como vem ocorrendo, o rejeito de minério depositado nas barragens de contenção existentes na cidade.
Minérios podem vir de outras minas para serem beneficiados em Itabira

A empresa estuda, também, a possibilidade de beneficiar, nas plantas de concentração de Itabira, as reservas de minério que dispõe em Morro do Pilar, Conceição do Mato Dentro e Guanhães.
Sendo viável essa possibilidade, a opção asseguraria a sua permanência como complexo de beneficiamento de minério por muito mais tempo no município.
Só que, para essa atividade de beneficiamento não se paga royalty (Cfem), que é devido ao município onde se dá o fato gerador. Mas, desse beneficiamento será assegurada o rateio com Itabira de parte do ICMS, como também irá gerar empregos, claro que em proporção bem menor quando se tem minas e beneficiamento operando juntos.
Outro motivo que irá assegurar a permanência da Vale por mais tempo em Itabira será a recuperação ambiental de áreas degradadas, além do monitoramento e da manutenção permanente de suas barragens para garantir a sua estabilidade até o fim do mundo. Pelo menos, é o que estabelece a legislação brasileira para o setor, caso não seja revogada como tem ocorrido com tantas outras conquistas sociais e ambientais no país.
Pois é, a notícia anterior deixou em polvorosa os “chefões municipais”, bem como a maioria dos itabiranos. Serviu pra quê? Será que isso vai fazer alguém desinstalar o traseiro do estofado e tomar medidas necessárias, ou vai dar refresco para daqui a mais 40 e tantos anos? Acorda, Itabira, sua batata está assando!