Que neste WIN o empresário pensador Gabriel Contino traga boas ideias para Itabira sair da letargia que vem desde 1942

Carlos Cruz

Os empresários itabiranos, com patrocínios da mineradora Vale e da Prefeitura, por meio da Associação Comercial, Industrial, de Serviços e da Agropecuária de Itabira (Acita), abrem nesta quarta-feira (11) a sétima edição da Feira de Negócios e Empreendedorismo WIN 4.0 – Caminhos para a diversificação econômica.

Que façam bons negócios e reflitam com sabedoria, perspicácia e visão histórica da conjuntura econômica que Itabira vive desde 1942, enquanto a cidade assiste, ainda inerte e letárgica, a inexorável exaustão de sua principal riqueza.

Tamanha riqueza, historicamente, vem sendo o grande mal de Itabira, conforme vaticinou o cronista Carlos Drummond de Andrade (1902-87), na crônica Vila de Utopia, que ele escreveu em 1933, quando já residia em Belo Horizonte, por ocasião da celebração do centenário de emancipação política do município.

“É curiosa a vila de Utopia, posta na vertente da montanha venerável e adormecida na fascinação do seu bilhão e 500 milhões de toneladas de minério com um teor superior a 65% de ferro, que darão para ‘abastecer quinhentos mundos durante quinhentos séculos’, conforme garantia o visconde do Serro Frio. ‘Os números que exprimem a quantidade de minério de Itabira’, confirma o professor Labouriau, ‘são astronômicos: de tão grandes tornam-se inexpressivos’.”

O cronista itabirano, antes mesmo de a exploração em larga escala do minério de Itabira ter início, já previa que toda essa riqueza seria efêmera, resultado de um grande garimpo, onde nada se constrói de próprio – e para os séculos que virão.

E que de tudo muito pouco ficaria, diante da letargia que paralisa diante de bem mineral finito, com horizonte de exaustão já há muito sabido para pouco mais de 2028, logo ali, a menos de nove anos de distância. Para Drummond, toda essa riqueza seria inexpressiva diante da inércia dominante.

“Inexpressivo é bem o termo: e não encontro também outro para qualificar a minha, a nossa indiferença diante de tanta opulência inerte. Somos tão ricos, em Itabira, que não nos preocupamos com a nossa própria riqueza. Temos riqueza para dar ao mundo inteiro e ainda sobra para 499 mundos possíveis. Se oferecêssemos a cada habitante do planeta a insignificância de uma tonelada de ferro, quase todo o rebanho humano estaria servido, pois a cifra total do rebanho não vai além de 1 bilhão e 700 milhões de criaturas”, compara o poeta e cronista, no início da década de 1930.

E prossegue o persistente Andrade, profeticamente, ao final: “Somos perdidamente, inefavelmente milionários. No entanto, a arrecadação da prefeitura, em 1932, não excedeu de 216 contos (inclusive 20 contos de saldo do exercício anterior), e uma honesta parcimônia pauta a vida dessa gente ensimesmada e grave, que nada tem nem pede ao governo, e passa honradamente pelos guichês do Banco Comércio e Indústria, para emitir ou reformar as suas promissórias. Tanta riqueza em potência vem sendo, talvez, um grande mal para a vila de Utopia”.

Perdas incomparáveis

Pois, bem, há quem possa discordar daquele que ouse dizer que muito pouco se fez para o município diminuir a relação de dependência que mantém com a riqueza mineral já quase exaurida.

Mas o fato é que, pelo menos desde que se instituiu a Compensação Financeira pela Exploração Mineral (Cfem), com a Constituição de 1988, os recursos que seriam para investir na diversificação econômica se perderam em custeios diversos.

E também em mal explicados e pouco producentes financiamentos à iniciativa privada, com grave prejuízo para o erário municipal e ao projeto de diversificação da economia local. Leia também aqui , aqui .

A própria Acita lançou, no início da década de 1990, o projeto Itabira 2025, justamente para incrementar projetos que diversificassem a economia local. Desde então, o que foi feito para reverter essa realidade? Pouco, basta observar as “indústrias” instaladas no Distrito Industrial, inaugurado em 1982.

Noventa por cento, se não for mais, dessas empresas prestam serviços à mineração. E até garagem de ônibus se instalou no Distrito Industrial. Isso enquanto terrenos públicos são negociados livremente como se privados fossem.  O Ministério Público investiga, arquiva, desarquiva. Mas pouco apura até que a prescrição faça com que tudo permaneça como está. Leia também aqui.

Que a fé não seja cega, mas amolada

Que o encontro de empresários, que são otimistas por natureza e necessidade, reverta em algo positivo para alavancar (esse é o termo que usam) a economia local.

Que a opção preferencial pela educação seja uma das alternativas, como já vem sendo, propiciando, inclusive, o surgimento no município de indústrias limpas, que se instalem no Parque Científico Tecnológico, ainda inexistente, passados mais de dez anos da instalação da bem-vinda Unifei.

Na área de saúde, o Hospital Municipal Carlos Chagas foi um grande avanço, obtido com a administração do ex-prefeito Damon Lázaro de Sena (PV). Isso não só por ter dado fim a essa mistura de interesses públicos e privados, com investimento quase exclusivamente público, tornando-se o atendimento 100% SUS. Isso forçou a Unimed sair da letargia e construir a sua unidade hospitalar, que está para ser inaugurada.

Há outros caminhos alternativos para diversificar a economia na cultura e no turismo. Que a palestra de Gabriel Contino, o Pensador, rapper, compositor, escritor, provocador e empresário brasileiro, nesta quarta-feira, na abertura do pomposo WIN 4.0, traga inspiração e motivação. A abertura está prevista para 19h e a palestra será logo em seguida.

Gabriel, o Pensador, que já matou o presidente com a gravação de Tô Feliz (Matei o Presidente), sua primeira fita demo, lançada em 1992, com certeza trará boas provocações.

Quem sabe assim, com tamanha motivação, enfim seja exorcizada a letargia que impera na cidade, essa quase preguiça que faz com que o itabirano cruze os braços e assim deixa a vida passar devagar, “enquanto as janelas olham” e Tutu Caramujo cisma com a derrota incomparável.

Que se possa enfim ver a luz no fim do túnel. E que essa luz não seja o farol do maior trem do mundo vindo em sentido contrário, atropelando indiferente todos aqueles que negam a história.

Serviço

O credenciamento para entrada na feira WIN 4.0 pode ser feito por meio do link:

http://bit.ly/ENTRADA-WIN-2019

A programação completa você acompanha na fanpage Acitaitabira e no site www.acitaitabira.com.br

 

 

 

 

 

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