Processos manipuladores das empresas “tubarão-grande” no mundo capitalista
Veladimir Romano*
Alguma vez nas ampliações produtivas, nunca em lado algum, resultou no benefício prático aos operários responsáveis por essa mesma produção. No entanto, no capitalismo contemporâneo, estamos assistindo cada vez à maior quantidade [o estilo deu moda] e o trabalhador pulando de tarefa em tarefa ou então dominando várias mecanizações.
Tudo isso com efeito amplo na produção das empresas, alimentando o estado social e formas consumistas de hoje, desenfreadas onde clientes assumem comprar tudo e mais alguma coisa [até o que não precisam], criando sociedades dominadas pela propaganda obscurantista neoliberal manufatureiro, sem saber, o cidadão, arriscando a própria virtude comercial aplicando uma destruição criativa.
Embora com a aparente fartura inundando prateleiras, lojas e centros de arquiteturas absurdas onde parece nada faltar, a fome no mundo e ausência de bens ficam bem claros quando saímos dos nossos recantos, indo por aí visitando outros lugares do planeta.
Demonstra isto um dos maiores críticos sobre história da Economia, Paul Bairoch [1930-1999] no seu livro População e a Economia Mundial no Século XXI, fazendo análise entre países capitalistas e outros não ou menos aderentes ao capitalismo… ou como ele afirma:
«A drenagem de riqueza da periferia subdesenvolvida para o centro desenvolvido a versão capitalista da exploração, muito mais antiga, dos fracos pelos fortes. O crescente abismo entre nações ricas e pobres é, sem dúvida, não apenas uma medida do desempenho superior do mundo capitalista, mas também uma indicação de seus poderes de exploração».
O escritor, nascido na Bélgica mas filho de pais poloneses refugiados da Segunda Guerra, é um dos grandes artífices na desmontagem dos mitos anti-marxistas implementados no Ocidente, denunciando imparidades do sistema capitalista.
Sabemos hoje como no planeta andam forças impossíveis de serem dominadas pelos estratagemas humanos, sofrendo dos mais recentes alarmes climáticos alterando hábitos e até conhecimentos dificilmente alcançados. O certo é que estamos ficando vulneráveis, mas tanta arrogância e vaidade dos comandantes não querendo escutar quem estuda ou se preocupa com este chamamento da Natureza, aumenta nos perigos desconhecidos, desde logo, falhas hídricas como aquelas que estão acontecendo em vários focos desde Portugal, Irã, China setentrional, Mongólia, Espanha, México, Angola, Gana, Etiópia, Sudão, Egito, Austrália. São exemplos flagrantes, tarde ou cedo serão de maior amplitude pelas imagens e ações que se vão repetindo.
O planeta, sem muita discussão, está verdadeiramente numa transformação profunda. o que prometeo sacudir nossa sociedade humana de múltiplas formas. Não será este capitalismo dominante explorando processos manipuladores engendrados nas empresas genericamente apelidadas “tubarão-grande”, cuja importância tem sido apenas expandir, monopolizar, explorar e especular.
Marcam diferenças provocadoras de falso bem-estar, embora manifeste dotes de riqueza como simultaneamente criadores de miséria, herança desse idêntico processo restante da capacidade de acumular capital reenviando este aos centros da grande fuga fiscal.
Miséria em massa, novamente está no horizonte caso não apareçam reformas sérias, profundas, bem calculadas, plenamente compreendidas pela sociedade capitalista. Historicamente, vínculos entre acumulação e progresso material, igualmente andam referenciados no “Manifesto Comunista” [ Kommunistischen Klassengegensatz Partei, obra de Karl Marx e Friedrich Engels] como surpreendente texto válido e esclarecedor “programa teórico”, orientando matérias tão evidentes como o antagonismo das classes em pleno século XXI. Na maioria dos casos, trabalhadores estão trabalhando sem contratos, mas absorvendo todo tipo de responsabilidades.
A simples injustiça, invasão agressiva aos mercados enfraquecidos, funcionamento do próprio processo de financiamento-acumulação [juros abusivos, descontrolados, criação inflacionária em correntes dominadas pelos próprios causadores do problema] cercamentos desapropriados causando efeitos colaterais em benefício ou em suporte aos alheios dos supostos lucros.
Some-se ainda o prejuízo ecológico, sociedades comerciais dominadas de fora, impondo recorrentes retrações pelas firmas “tubarão-grande”; igual a falsa expansão seguindo exaustão, dando instabilidade ao sistema. É isso, tal como no passado até ao estoiro econômico, depois entrada em força da “crise estimulante”, transformadora do capital retido na fonte mas pertença social, acaba sempre sobrando no pagamento das gigantescas e absurdas dívidas de trilhões desviados ou mal-parados em bancos da ordem fugitiva. Mais uma vez, enchendo bolsos da elite dominante: depois, subindo ao palco, a minoria raspando fundos do tacho que deveria ser de todos.
Karl Marx sempre achou que o Capitalismo como norma geradora de riqueza, acumula em si enorme quantidade de «contradições», provocadora sim, da «luta de classes»; celebração da «fragmentação política», um sistema que «evita a criação de funções sociais».
É a ideia da dupla face e um mundo aristocrático que não deseja mudanças igualmente a bem dos operários nem a proteção dos bens mais naturais. Tudo é negócio, toda a natureza será para dilapidar…
É o reino do poder absoluto recebendo, dando primazia política, leis favoráveis, créditos faustosos, termos funcionais ilimitados, influência multiforme incluindo infraestruturas garantidas pelo pecúlio público mas a mercado favorável explorado pelas forças do “tubarão-grande”, pagando a sociedade pelos empréstimos, juros totalmente obscenos.
A Democracia do mundo contemporâneo já não é mais campo fértil afirmando direitos ao indivíduo, esta liberdade [básica] almejada no sonho reformista, até revolucionário de outras épocas, lentamente, se transformou em propriedade possessiva apropriada no sistema manipulado.
E também de conveniência entre classe política de poder e empresas dominantes buscando pelo jeito todas quantas facilidades possíveis, separando seu reino das economias, afundando ordens sociais. Assim, explícito fica como danos financeiros serão inimigos do trabalhador mas pujante reforço do reino privado acomodando mais posse financeira até um dia sermos todos dissidentes.
Será que para se viver com segurança dependemos dos favores do capital? Analisando friamente, contabilizando o role das crises sucessivas ao longo da nossa história bem recente dos últimos duzentos anos, não será antes o contrário neste vislumbre humano da “riqueza” obsessiva situar a questão parentária da força capitalista imersa de poderes destrutivos?
Necessitada para seus próprios fins, aprecia complementar seus danos aproveitando essa afinidade desvirtuosa com o Estado, ficando tradicionalmente por cima enquanto o povo chora seu leite derramado.
Vem a soberania nacional, não é vocábulo tanto quanto previdência social, seguro, proteção, desemprego, regulamentos, intervenção sindical, etc. Proteger economias contra incursões globais, esquemas diretos das elites em busca da criação instável favorecendo seus interesses. Enfim, é preciso favorecer o tal conflito lucrativo, interferindo com a flexibilidade oferecida pela Democracia quando esta ainda e depois de tantos percalços não haja concretamente realizando criação defensiva ou radical rejeição através da liberdade política, exercida legitimamente nos parlamentos; local onde a defesa da casa republicana estaria em princípio defendida e protegida; contudo, igualmente andam deturpadas suas ações.
Líderes, políticos, administrativos, tidos como responsáveis, deixaram a economia dominar todos os pressupostos constitucionais e governativos. Tudo isso, com esse domínio baseado em esquemas de inimaginável atestado por onde processos corruptos somente hoje descobertos, colocaram inquestionavelmente o capitalismo na corda-bamba do descrédito global.
Mas gerou impasse, é economicista inerente na sua autenticidade hostil, indiferente ao sofrimento, egoísta, suicida, sempre vivendo na beira do abismo.
E eis que chegou o sistema “bastardo”, sobrinho direto do mecanismo fascista aplicando vontade repressiva capacitada pela segregação autossustentada agora pelos limites extremos neoliberais [evidentemente conservador] pronto para sangria. Não é eufemismo inadequado, é primeiro e último capítulo de tantos males como decadência ecológica ao qual andamos assistindo, retirando fora ao lixo valores altruístas da vida.
Já ninguém duvida dos métodos e desta mentalidade ultrapassada querendo regenerar suas crises prolongadas, nocivas, desgastantes, provocadoras de enormes conflitos sangrentos recriando desequilíbrios e desordem universal.
Evidente fica o insaciável nível cobicento das políticas populistas posicionando forças da direita como alternativa, interpretando o poder democrático pela fonte fornecedora das suas ambições reacionárias. Indicadores, perigosamente estão manifestando intentos fixos entre novos partidos e empresas manipuladoras dos mercados apreciando que megafusão ou incrementos financeiros, não estão provocando o tal “notável” crescimento do emprego.
E, afinal, eis que o sistema capitalista expõe suas limitações, exageros, previsões, insensatez corroendo cálculos e retórica. Perdeu poderes compensadores, foi criando nacionalismos doentios e protecionismo unido a lógicas sobre mobilidade entre disseminações de ordem global necessária para segurança das empresas “tubarão-grande”.
Entretanto, para trás tem ficado a justiça, a liberdade, a própria democracia. Tanto quanto caindo foi o crescimento das instituições humanas, soluções reais e recursos sociais acudindo a quem mais precisa enquanto o capital se acumula.
Com economias liberais a produção industrial também anda desordenada causticando bens ecológicos, desequilibrando a natureza, guardando tóxicos, resíduos geradores de mau ambiente. Ficamos temendo saneamento, poluição, contaminações, desemprego, juros bancários, corrupção, falta de água, desenvolvimento tecnológico, crise energética; nossas sociedades toleram instituições subversivas, golpistas, produtos sintéticos, oligarcas, cartéis, especuladores, pressões e chantagens de várias origens.
A década de 1980 foi o assalto aberto dos processos engendrados por péssimos políticos entregando pela lei de toda a promiscuidade a empresários aproveitadores das oportunidades enquanto o sistema social caiu.
Foi o fim do sonho desse “racionalismo positivista” programado pelos socialistas nos finais do século XIX. Ideia com a qual Karl Marx, Auguste Comte, Bernard Kalb ou Frederick Taylor, entre outros progressistas conscientes, concordaram. Acontece, que no momento oportuno, já poucos sabem dessa corrente lutadora convidando a sociedade sair nas ruas em busca dos valores encaixotados e agora mantidos no arquivo.
*Veladimir Romano é jornalista e escritor luso-caboverdiano, colaborador deste site Vila de Utopia