Prefeitura estuda alternativas para monitorar a qualidade do ar no Distrito Industrial de Itabira
Foto: Carlos Cruz
Por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA), a Prefeitura de Itabira vem fazendo gestão, desde 2021, para viabilizar o monitoramento da qualidade do ar no Distrito Industrial (DI) de Itabira. Essa necessidade é urgente, principalmente pelo alto grau de poluição pela usina de ferro-gusa, atualmente de propriedade da Siderúrgica Atlas, mas também por outras empresas.
A siderúrgica faz o automonitoramento, a exemplo do que é feito pela mineradora Vale na cidade – e encaminha os dados à Fundação Estadual de Meio Ambiente informando que está tudo em ordem, dentro dos parâmetros legais estabelecidos pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) – e assim fica tudo como está, enquanto impacta empresas vizinhas e a saúde da população, principalmente dos moradores do bairro Barreiro.
Sem esse monitoramento, diz o secretário municipal de Meio Ambiente, Denes Lott, não há como enquadrar a siderúrgica – e demais empresas do DI que também poluem o ar com emissões de poluentes pela movimentação de equipamentos em seus pátios e estacionamentos – no rigor da Deliberação Normativa número 2 do Conselho Municipal de Meio Ambiente (Codema).
Essa resolução é mais restritiva em relação à resolução Conama, que está para ser atualizada, segundo determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), seguindo novas recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Equipamento
Na reunião do Codema, na sexta-feira (10), o secretário de Meio Ambiente, que preside o órgão ambiental municipal, informou que a Prefeitura fez contato com pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), para verificar a viabilidade de empréstimo de uma estação móvel de monitoramento da qualidade do ar, por um prazo de 12 meses. “Os custos se mostraram elevados, mesmo sendo na forma de empréstimo”, descartou Denes Lott.
A Prefeitura estuda agora a aquisição de uma estação fixa, a ser instalada no DI. Para isso, foi feita cotação de preço de uma estação compacta modelo GM 5000, com capacidade para monitorar sete parâmetros, com sensores de direção e velocidade do vento, temperatura, umidade, pressão, pluviometria, equipado também com câmera de vídeo para um monitoramento integrado. A cotação para a compra desse equipamento, em 2021, foi de R$ 208,1 mil.
“É preciso considerar que a aquisição desse equipamento implica em custos contínuos de manutenção, que não foram ainda avaliados”, informou o presidente do Codema, para quem essa discussão é que vai nortear a pauta de discussão do Grupo de Trabalho da Qualidade do Ar, instituído pelo órgão ambiental, que irá avaliar juntamente com técnicos da Prefeitura qual é a melhor alternativa.
“Podemos optar por terceirizar o monitoramento, contratando uma empresa especializada para essa finalidade”, cogitou Denes Lott, como alternativa à aquisição.
Para a aquisição do equipamento, ou mesmo para a terceirização, pode-se empregar recursos do Fundo Especial do Meio Ambiente (Fega), que dispõe de dinheiro em caixa – e que, historicamente, tem sido empregado em ações menos importantes que esse fim, que é urgente e não pode ser adiado por muito mais tempo.
Doenças respiratórias
Além do urgente monitoramento da qualidade do ar no DI, é preciso também que a Prefeitura realize, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), estudo epidemiológico das doenças respiratórias que impactam a qualidade de vida de moradores vizinhos, principalmente no bairro Barreiro, conforme reportou esse site em recente reportagem.
Segundo levantamento da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), na Unidade Básica de Saúde do Barreiro foram registrados 35 casos de doenças respiratórias no período de janeiro a março deste ano, entre rinite, faringite e bronquite.
Assim como acontece em outros bairros da cidade, a maior incidência fica para o período mais frio, quando aumenta também a emissão de poluentes com a estiagem e ventos fortes. Entre maio e junho, o número de casos de doenças respiratórios na UBS Barreiro deu um salto para 52 casos diagnosticados com uma dessas enfermidades.
Mesmo com o número elevado, a moradora Andreia Almeida, que reside há mais de cinco anos no Barreiro, diz que o registro na UBS não reflete a realidade das doenças respiratórias no bairro. É que, segundo ela, pacientes já diagnosticados com uma dessas doenças não retornam ao posto de saúde – e fazem o tratamento em casa, com automedicação.
“O meu filho de 10 anos vive acometido com rinite e bronquite. Não raro a professora pede para voltar com ele para casa, por não ter condições de permanecer em sala de aula”, conta a moradora. “Trato dele em casa, sem levar ao posto médico. E assim acontece com muita gente aqui no bairro.”
Estudo epidemiológico
A SMS informa ainda que não existe estudo epidemiológico de doenças respiratórias no Barreiro, assim como não há para o restante da cidade, que sofre mais com a poeira da Vale, mas também com a poluição da usina de ferro-gusa que chega levada pelo vento a outros bairros distantes.
O último e único estudo epidemiológico sobre a relação e impacto da poluição do ar por partículas na saúde da população itabirana foi realizado em 2005, pela equipe do professor Paulo Saldiva, do Laboratório de Poluição Atmosférica, da Faculdade de Medicina da USP.
Porém, esse estudo não foi conclusivo, conforme ressaltou o professor Saldiva, indicando a necessidade de dar continuidade às pesquisas prospectivas, incluindo o levantamento das doenças cardiorrespiratórias. Portanto, já passou da hora de atualizar esse estudo, assim como estender a pesquisa no Barreiro.
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