Porque o Brasil é forte em skate e surfe
No destaque, Ítalo Ferreira, ouro no no surfe na Olimpíada de Tóquio, Japão Foto: Jonne Roriz/COB)
Skate e surfe são esportes de aventura e risco, mas competir requer muita disciplina também
Por Montserrat Martins*
EcoDebate – O Brasil tem um enorme área litorânea e grandes áreas urbanas, mas isso não explica seu destaque no surfe e no skate pois há países com tais índices ainda maiores que não tem esse resultado. Ao invés do território, devemos procurar resposta na própria população, nas características do povo brasileiro.
O esporte diz muito sobre o jeito de ser das pessoas. Se você gosta xadrez ou MMA, se você gosta de halterofilismo ou de equitação, suas preferências revelam um estado de espírito, um estilo de vida.
Atletismo, por exemplo, é favorecido por biótipos e por disciplina para atividades rotineiras, que se repetem sempre, até atingir o tempo desejado para aquele percurso, ou a distância a atingir num salto em altura ou em distância.
Atletismo tem raros heróis olímpicos brasileiros, apesar do imenso número de modalidades e do tamanho da nossa população. Agora compare os nossos resultados no surfe e no skate com os do atletismo e chegamos à nossa tese sobre o jeito de ser do brasileiro.
A tese está em Raízes do Brasil, do Sérgio Buarque de Hollanda, que diz que herdamos o espírito aventureiro dos portugueses. Em toda a história da humanidade, o grande destaque de Portugal foi na época das aventuras marítimas, mais do que em qualquer outra atividade.
Seria também o povo mais eclético da Europa, o mais miscigenado, que gosta do que é diferente, mas não tem afeição por disciplina ou tarefas repetitivas; nesse conjunto de características se distingue por exemplo de povos germânicos ou orientais.
Na canoagem temos um medalhista olímpico, Isaquias Queiroz, que teria descendência indígena, sendo um hábito ancestral desse povo a canoagem.
Temos na verdade todos os povos dentro do Brasil, afrobrasileiros que segundo uma tese teriam levado sua jinga para o futebol, europeus como os teuto-brasileiros, que se destacam na vela, e orientais, como os descendentes de japoneses que se destacam em esportes onde os nipônicos são mais fortes e nos estimularam para algumas artes marciais.
Japão, o anfitrião olímpico, aliás, também se mostrou forte no skate e no surfe, isso vai contra a tese do espírito aventureiro nesses esportes? Não, porque toda competição é “transpiração mais inspiração” e nada se compara à obsessiva disciplina oriental para aprender qualquer arte.
Skate e surfe são esportes de aventura e risco, mas competir requer muita disciplina também.
*Montserrat Martins é psiquiatra