Parte da tragédia no Rio Grande do Sul é causada por ação humana
Foto: Ricardo Stuckert/PR
Por Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Construções em locais inadequados, em áreas de alagamentos, e falta de manutenção nos diques de contenção e nas barreiras anti-alagamento, são, em grande parte, responsáveis pela tragédia no Rio Grande do Sul
Rio de Janeiro – A avaliação é do professor Roberto Reis, do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Evolução da Biodiversidade da Escola de Ciências da Saúde e da Vida da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Ele acrescenta que essas obras, feitas nos anos 1970, nunca receberam manutenção adequada. “A culpa da enchente é do planeta. Mas a culpa da tragédia é dos administradores do estado e das cidades”.
Em entrevista à Agência Brasil, Reis sustenta que Porto Alegre é área de várzea, de confluência de rios na beira do Lago Guaíba, que alaga sempre que tem enchente. “É natural. As pessoas é que não deveriam ter construído na área que alaga periodicamente”.
Segundo o professor, a cada dois ou três anos há alagamentos em Porto Alegre. Só que, desta vez, foi extremamente severo. “Nunca foi tão alto”. Ele explica que não há como evitar que haja cheias no Guaíba.
“Mas que haja enchente, há como evitar, fazendo bem feito os diques de contenção e tudo o mais”. A manutenção ou reconstrução dos diques e barragens nos rios do estado é a saída apontada pelo professor da PUCRS para evitar que novas tragédias voltem a ocorrer.
Reis lembra que, em setembro do ano passado, o estado enfrentou grande enchente. “Aí se viu que as comportas e parte dos diques não estavam funcionando. Era hora de ter arrumado. Foi uma mega-enchente. A grande veio agora. Deveríamos ter arrumado tudo de setembro para cá. Espero que desta vez aprendam, porque o custo está sendo muito alto”.
Na avaliação de Roberto Reis, chuva em excesso, causada por mudança climática, é fenômeno natural. “A cada tempo, há chuvas extremas que causam enchentes”, diz.
Contudo, dessa vez, ocorreu no estado a enchente mais forte de toda a história, que ele atribui, em parte, à mudança climática causada pelo excesso de gás carbônico na atmosfera. “Essa é a parte natural do evento”. O resto, para ele, é ação do homem.
Volume de chuvas
De acordo com o professor Rodrigo Paiva, do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o que está provocando a grande cheia no Lago Guaíba é, basicamente, um volume muito grande de chuvas que cai na bacia do Guaíba desde o final de abril e início de maio. Essa precipitação atingiu níveis recordes, registrando, em alguns locais, até 800 milímetros.
O especialista explica que, no primeiro momento, houve cheias bem rápidas nos rios da serra, onde existem vales mais encaixados em que os volumes de água correm rapidamente e os rios se elevam com rapidez e grande amplitude.
“Há casos de 20 metros de elevação em menos de um dia. Isso causou muita destruição, por exemplo, no Vale do Taquari, de novo”. Essa região sofreu grandes enchentes em setembro de 2023.
Rodrigo Paiva acrescenta que esse volume de água chega depois à região de planície, onde se espalha pelas várzeas e escoa mais lentamente. “Por isso, demora alguns dias entre a chuva na bacia hidrográfica e todo esse escoamento chegar a Porto Alegre, ao Lago Guaíba”. Desde o dia 5 de maio, observou-se um nível muito elevado do rio, atingindo recorde de 5,3 metros.
Além do corpo d’água bem grande do Lago Guaíba, tem a Laguna dos Patos, destaca o professor da UFRGS. Pelo fato de esses corpos d’água terem área superficial grande, eles estão sujeitos aos ventos.
“Quando temos um vento sul, isso ainda pode promover um represamento dessa água e uma elevação da ordem de 20 centímetros, ou até mais, se o vento for muito forte. Isso também ajuda um pouco na cheia do Lago Guaíba, embora o fator principal seja o grande volume das chuvas”.
Duração
Outra característica do evento é a duração, diz Rodrigo Paiva. A longa duração para baixar o nível do lago é associada à dificuldade de a água escoar nesses rios de planície, o Jacuí especialmente. “A água fica muito parada naquelas várzeas”.
O professor do IPH comenta que, por outro lado, é interessante porque, se não houvesse as várzeas, o volume de água que vem das montanhas chegaria muito mais rapidamente à Grande Porto Alegre e, talvez com mais força e mais amplitude. “Se não houvesse essas várzeas, que já atuam como um reservatório natural que atenua as cheias, talvez o nível da água tivesse subido em Porto Alegre muito mais e mais rápido também”.
As consequências seriam também piores, admite o professor. Isso porque a região metropolitana de Porto Alegre está em área muito baixa, afetando cidades como Eldorado e Canoas.
“As consequências seriam maiores. A inundação é grande, a profundidade, em alguns locais, atinge um metro ou dois metros, mas não há tanta velocidade da água. Já no vale, no Rio Taquari, como a profundidade é maior e é mais inclinado, a ação da água é mais destrutiva, capaz de destruir residências, arrastar coisas”, salienta Paiva.
Edição: Graça Adjuto
foi quase que exclusivamente humana, a natural foi a bátega d’água
não fizeram a manutenção dos diques que tem de ser constante
os ladrões costumeiros roubaram bombas das comportas
a defesa civil local não preparou a população
a defesa civil não deu conta de atender toda a demanda após a tragédia
a segurança nacional, atabalhoada, muito menos deu conta nenhuma de quase nada a princípio para amenizar todos os problemas e salvar vidas