Outubro Itabirano. Crônicas da Itabira do Matto-dentro Imperial – 1892 – Alcooleiros e eleições

Engenheiros da Itabira Iron que partiram para Vitória, ES

Foto: Revista Careta, 3/8/1929. 
Acervo: BN-Rio
Pesquisa: Cristina Silveira

Desgraçadamente para a massa ignorante do povo, sem a menor noção de moral, sem nenhuma educação política, são esses típicos que mais influência tem. Os homens sérios e honestos são tidos por ela como vulgarmente dizem – impostores.

Dispondo de um pouco de inteligência, um alcooleiro explora a esses infelizes de tal maneira, que faz muitas vezes um pobre diabo perder todo poder e honra que por ventura tenha, e entregar-lhe a própria filha para satisfação de seus desejos.

Daí ainda resulta-lhe a fama de homem popular, porque, com esses infelizes sem instrução e sem moral, ele convive distribuindo-lhe boas doses de aguardente para melhor estragar lhe os cérebros, narcotizando-os mesmo para mais facilmente obter seus fins.

Senhoras e familiares dos engenheiros da Itabira Iron (Foto:   Revista Careta, 3/8/1929. BN-Rio)

É por isso que vimos há poucos dias nesta cidade o triste espetáculo dado por esses desenfreados tipos de barbas tratadas a nitrato de prata e mãos já tintas de sangue, depois de ferirem um cidadão a cacetadas, armam-se de facas e garruchas, e ameaçam os outros.

Não se lembravam que muitos eram pais de família que deixaram órfãos e viúvas talvez à mercê da caridade pública, porém, não se esquecendo, é certo, que talvez ficassem donzelas e viúvas desprotegidas e por conseguinte de menos difícil conquista para seus lupanares.

Acompanhados de um grupo de simples exploradores, mesmo diante do dr. Juiz de Direito, berravam em louco desatino, – morra fulano! … morra! … morra!

Que horror!

Esta cidade, sem força pública e sem autoridades policiais, foi teatro desses atos de vandalismo.

Muitas exmas. senhoras, das mais distintas famílias, saíram em pranto pelas ruas em procura de pais, irmãos, maridos e filhos ameaçados.

Eis resumidamente os tristes fatos que aqui se deram por ocasião das eleições municipais, não se falando em baixas intrigas, cartas e telegramas de verdadeiros instrumentos que, diante desses horrores, nenhuma importância tem para serem mencionadas.

Correio da Manhã, 3/6/1942. BN-Rio

Cidadãos do Congresso Mineiro, – me é bastante repugnante trazer em público esses acontecimentos tão triste, mas o dever cívico me obriga a fazê-lo, não como querendo afrontar mais a esta infeliz cidade onde os maus querem triunfar, mas apelando para o vosso patriotismo e pedindo-vos que retoqueis já e já a base da representação de nosso país – o eleitorado.

Eliminar do seio do alistamento os indivíduos habituados à embriaguez, ao latrocínio e à prostituição.

Não seja também elegível quem não for eleitor e teremos dado um passo agigantado para a moralidade e realização da República que sonhamos.

Não poupai a esses cancros da sociedade, e por um simples depoimento de duas ou mais testemunhas juramentadas, cujo depoimento deva ser tomado em livro especial pelas mesas de alistamento, à requerimento de um eleitor, ou por própria deliberação das mesmas mesas, provado que seja qualquer desses vícios, seja excluído o indivíduo nessas condições da comunhão do eleitorado.

Um eleitor. Itabira de Matto Dentro, fevereiro de 1892. [Gazeta de Notícias (MG), 21/2/1892. BN-Rio]

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