Organização católica alemã acusa a TÜV Süd, agência de certificação, de corresponsabilidade na tragédia de Córrego do Feijão

O rompimento da barragem 1 da mina de Córrego do Feijão, na sexta-feira (25), em Brumadinho, foi um atentado contra os direitos humanos, classifica a organização católica alemã Misereor. A ONG católica quer responsabilizar também a empresa alemã TÜV Süd pelo crime ambiental e pelas mortes, por ter atestado a estabilidade da barragem.

A ONG quer ainda que a agência certificadora pague parte das indenizações devidas às vítimas e às suas famílias. O rompimento da barragem resultou em mais de 100 mortes já confirmadas, sendo contabilizados apenas os corpos já retirados da lama – e em mais de 260 desaparecidos, número que com certeza é maior.

Na terça-feira (29), a Misereor exigiu que a certificadora alemã faça uma investigação independente. A informação é da Deutsche Welle (DW Notícias), uma emissora internacional da Alemanha e que produz jornalismo independente em 30 idiomas. A publicação tem feito ampla cobertura desse crime ambiental ocorrido na mina Córrego do Feijão, já apontado como a maior tragédia humana envolvendo a mineração em todo o mundo.

Segundo o porta-voz da ONG, Armin Paasch, as indústrias automotiva e metalúrgica alemãs são também corresponsáveis pelo desrespeito aos direitos humanos. Isso pela condição de importadora de minério de ferro do Brasil, principalmente da Vale. “A indústria alemã compra do Brasil mais da metade do minério de ferro que consome.”

A avaliação da organização católica alemã sobre o episódio é de que é urgente cumprir na Alemanha a legislação que atribui às empresas locais o dever de diligência ambiental e da observância do respeito aos direitos humanos em toda a sua rede de fornecedores.

Projetos sociais

A Misereor é uma organização da Igreja católica, fundada em 1958, com participação em projetos sociais em todo o mundo. No Brasil, apoia comunidades indígenas e quilombolas, entre outras, em busca de autonomia e autodeterminação cultural e étnica.

Itabira, cidade que foi pioneira, na década de 1960, na implantação de projetos sociais inspirados na Teologia da Libertação, contou com recursos dessa organização. Várias associações comunitárias foram beneficiadas, como também Clubes de Mães.

A Associação de Proteção à Maternidade e à Infância de Itabira (APMII), que mantém projetos de assistências aos recém-nascidos, creches e projetos semiprofissionalizantes na Fazenda Bethânia, historicamente mantém parcerias com a Misereor.

Empresa alemã certificou que barragem era estável

A empresa certificadora alemã TÜV Süd inspecionou em 13 unho e 26 de setembro de 2018 a estrutura que rompeu em Brumadinho. E nenhum dano foi encontrado na barragem 1 da mina de Córrego do Feijão, construída em 1976 – e que rompeu na fatídica tarde de sexta-feira (25).

Com 86 metros de altura e 720 de cumprimento, o rompimento da barragem liberou 13 milhões de metros cúbicos de lama e rejeitos de minério de ferro no rio Paraopeba. Com o rompimento, a força da lama de minério e sílica arrasou com as instalações da empresa, deixando um rastro de destruição e mortes.

Empresa tem sede na Alemanhã (Fotos: DW Notícias)

A  agência certificadora TÜV Süd tem sede em Munique, na Alemanha. Conta em seus quadros com mais de 23 mil empregados espalhados pelo mundo. Foi fundada no século 19 – e é especializada em trabalhos de auditoria, inspeção e testes, consultoria e certificação. No Brasil conta com 500 empregados.

Sua origem, informa a DW Notícias, foi com a demanda das indústrias alemãs de se ter uma entidade independente para avaliar a segurança de suas instalações. As áreas de atuação da empresa incluem desde a inspeção de dutos e minas até a análise de alimentos e próteses mamárias.

Atua também na área de geotécnica, em projetos de descomissionamento (fechamento) de minas, especialmente no gerenciamento de áreas contaminadas e no monitoramento de barragens de rejeitos.

Inspeções

Segundo o presidente da Vale, Fabio Schvartsman, a TÜV Süd havia inspecionado a Barragem I da mina Córrego do Feijão como parte dos processos de Revisão Periódica de Segurança de Barragens e Inspeção Regular de Segurança de Barragens. E que teria certificado que a barragem apontava baixo risco.

Oficialmente , há três anos a barragem não recebia rejeito. Foi construída em 1976 pela mineradora Ferteco, do grupo alemão Thyssen Krupp – adquirida pela Vale em 2001, como parte do processo de expansão após a privatização da  então estatal.

Procurada pela reportagem da DW Notícias, um porta-voz da TÜV Süd confirmou ter a empresa realizado inspeção na barragem e que nenhum dano foi encontrado. Disse ainda que irá disponibilizar às autoridades brasileiras toda documentação referente às inspeções realizadas na barragem.

Com mais de um século de história na área de certificação, a idoneidade e capacidade técnica da TÜV Süd como agência certificadora também foi jogada na lama. E a Misereor é a primeira organização internacional a cobrar pela corresponsabilidade da agência, que certificou que estava tudo bem com a segurança da barragem. Não estava, infelizmente.

 

 

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