O sinistro martírio da memória contra a invasão nazifascista
Veladimir Romano*
A narração histórica, depois de 1932, numa Alemanha entrando no labirinto cruel, repartindo mentiras como arma estratégica contra tudo e todos, evidenciando violentas campanhas, em particular antissemitas, assustou a sociedade, culminando no maior confronto bélico já sofrido no mundo.
Não é difícil compreender quando cobrimos nossa atenção em cada pormenor planificado pelos nazis… Esquecer, jamais. E para que a Terra não esqueça, museus fazem a diferença.
Um pouco atrás no tempo, também fica obrigatório recordar a figura do capitão das tropas republicanas, o herói da Primeira Grande Guerra, Carlos Barros Basto (1887-1961), pródigo mandatário da Sinagoga Kardoorie (na rua Guerra Junqueiro), financiado a seu custo, entre outras figuras gratas da cidade portuense.
Mais tarde, viria a ser expulso do exército pelo presidente do Conselho António de Oliveira Salazar, na simples razão de ser apenas judeu. Foi assim que depois ficou conhecido como o capitão “Mal Amado”.
Agora, com a inauguração do Museu do Holocausto do Porto, em Portugal, o primeiro do gênero em toda Península Ibérica, se fez a recuperação desta e de outras grandes figuras, colocando a justiça no seu lugar.
O ministério da Educação, como parte do estudo de História, determinou que estudantes das escolas das localidades vizinhas farão visitas periódicas ao novo museu. Segundo o curador do museu, o museólogo Hugo Vaz, é esperada a visita de dez mil estudantes por ano assim que a pandemia for controlada. Ver galeria do museu aqui.
O Dia Internacional da Memória das Vítimas do Holocausto, comemorado no palco europeu, merece reparos curiosos e de como cada nação manifestou seu respeito.
A Alemanha abriu seu parlamento [Bundestag], com vários discursos sendo um dos mais impressionantes o da sobrevivente de 88 anos, Charlotte Knoblech. Ela contou como foi a sua sobrevivência, com testemunho sobre massacre. Knoblech foi feita prisioneira de Birkenau.
Segundo ela, o dia mais feliz foi quando viu tropas da Estrela Vermelha entrarem no campo. Pediu para que os alemães mantenham essa memória viva para que ela nunca mais volte… Fez ainda uma homenagem aos militares soviéticos que abriram as portas e libertaram milhares de vítimas.
No mesmo dia em Frankfurt, o cidadão neonazi Stephan Ernst, de 47 anos, julgado e condenado à prisão perpétua pelo assassinato do prefeito da pequena localidade de Hasse, Walter Lübcke, de 65 anos, membro do partido conservador da CDU, dirigido pela Chanceler Angela Merkel, morria em sua sacada atingido pela bala do assassino em 2 de junho de 2019.
O Ministério Público alemão também pediu cadeia de nove anos e oito meses para outro simpatizante neonazi: Markus Hartman, ambos contrariando o acolhimento dos refugiados.
No mesmo dia 27 de janeiro, na Áustria, mais de 400 habitantes sobreviventes ao Holocausto [do grego “holos”= todo e do “kaustro”= queimado], com mais de 80 anos, foram as primeiras pessoas vacinadas contra a Covid-19, na primeira fase das 8 mil pessoas vacinadas em dezembro.
Na Europa ainda vivem mais de 240 mil sobreviventes dos campos de concentração, segundo informa o Congresso Judaico Europeu. Igualmente em Bratislava, na República Eslovaca, a prioridade foi dada aos ainda bastantes sobreviventes da “Shoah” [do hebraico destruição/sacrifício], residentes no pequeno país eslavo.
Contudo, desde o começo da pandemia, em Israel, com a população nas ruas contestando políticas do governo, já morreram mais de 900 sobreviventes históricos, dos 5.300 que ainda vivem em todo território de Israel.
Na França, o monumento dedicado ao Holocausto, foi danificado neste dia comemorativo, uma condenável ação de vandalismo por extremistas de direita.
Enquanto isso, em decorrência de acordo assinado com a Organização Mundial Judaica para a Restituição, Luxenmburgo finalmente fez a devolução de bens confiscados pelos nazis.
Gideon Taylor, responsável pela instituição, se congratulou com tamanha decisão, com Luxemburgo restituindo aos seus donos contas bancárias, bens, recursos financeiros, além de peças de coleções artísticas das famílias, confiscadas ilegalmente pelas forças de Hitler quando ocuparam os territórios dos Países Baixos, Bélgica, Luxemburgo até a França, entre 1940-45.
Na Holanda e Bélgica, vários momentos solenes marcaram o dia, com inaugurações e visitas dos alunos das escolas aos museus das várias cidades onde a memória é muito evidente.
Na Holanda, ainda existe com bastante destaque o Museu de Anne Frank, jovem que deixou inacabada agenda onde conta as atrocidades da presença nazi em solo holandês.
Tanto na terra das túlipas como na Alemanha, um lado os reis do outro o presidente Frank Walter Steinmeier, marcando presença, enalteceram o dia 27 de janeiro de 1945, para não esquecer uma sinistra memória contra a invasão.
*Veladimir Romano é jornalista e escritor luso-cabo-verdiano.