Forças desarmadas chamando Viriato
Veladimir Romano*
Muita complicação tem afetado nos últimos meses vários membros da CPLP [Comunidade de Países de Língua Portuguesa]; confusão nos dirigentes, ideias absurdas, fanatismo pelo poder, toneladas de corrupção e, entre tanta desordem. E na Estremadura portuguesa, chegou desgraça humana sem paralelo.

Fogos sem descanso atacaram habitações, matando centenas de animais, arrasando florestas. Numa rodovia traiçoeira, 64 pessoas morreram, com as chamas acabando com o restante da vida rural portuguesa.
Quando tudo parecia andar bem, acontece antes da época balnear: em dois meses morreram nas praias 13 pessoas. Agora, até ao final de setembro, pela certa, infelizmente, morrerão muitas mais. Depois chegam histórias sucessivas de mais fogos anuais sem ninguém antecipar uma estratégica para impedir tanta tragédia.

Português, adora drama, como na Guiné gostam de intriga política [o presidente José Mário Vaz, mandou desligar os canais da RDP e RTP-África, censurando jornalistas]. Angola sobra de otimismo social e absurdo financeiro, vai preparando eleições presidenciais esquecendo de convocar observadores internacionais.
Moçambique, se perde nas mentiras de como se esconde dívida financeira. O Brasil, com paciência, sustenta caprichos da elite política [a Câmara dos Deputados assistiu a uma das melhores intervenções discutindo denúncia contra Miguel Temer, brilhante intervenção mesmo da representante do PCdoB: Alice Portugal]; enquanto Cabo Verde, de tão pequeno, só gosta mesmo da grandeza: o Governo vive ansiedade absoluta quando pede que o turismo traga um milhão de visitantes, enquanto os responsáveis se esquecem de cuidar das infraestruturas.

Mais recentemente, governantes portugueses desesperam muito mais quando veem a cena de assalto e roubo a um quartel, logo a quem é membro da Organização do Tratado Atlântico Norte [OTAN/NATO]. O paiol perdeu armamento de guerra embaraçoso. No entanto, fica estranho tanta coincidência com a facilidade e aventureirismo dos ladrões belicistas.
Na rede metálica, nunca ninguém reparou no grande buraco, cinco guritas totalmente abandonadas [a guarda esqueceu de ocupar lugar]. A vídeo vigilância há dois anos não cumpre missão e militares reclamam do ministério da Defesa; enquanto esse acha caro 650 mil reais na manutenção segura das armas. E, por último, militares clamam pela segurança privada para cuidar das suas próprias armas. Dá para entender coisa de português? Só vendo o filme, coisa contada, poucos acreditarão, podia até ser piada de caserna… mas é o realismo lusitano ao vivo e colorido.
Depois do furto, trancas na porta… é o fim da picada! Matéria viva em queda do céu alimenta a boa especulação dos partidários opositores políticos direitistas e conservadores, pendurados na dádiva, alinhando balas de canhão contra um governo apoiado por grupos progressistas [PCP, Partido Comunista Português mais BE, Bloco de Esquerda], segurando o PS [Partido Socialista] no poder. Deste embaraço, igualmente internacional, ainda ninguém entendeu, poucos sairão ilesos. De trinta soldados suspeitos, doze ficaram detidos com cinco generais demitidos.
Dos vários anos até hoje, somam 16 assaltos por armamento aos armazéns militares [idem da Polícia] e desde a “Revolução dos Cravos”, também poucos são aqueles que nunca aprenderam coisa. Negócio feio, perigoso, criando instabilidade, dando uma de nota incompetente como sinal de um regime desleixado, campeões europeus [a Seleção portuguesa está comemorando um ano da conquista do Campeonato Europeu de Futebol disputado em Paris], sim! Mas igualmente campeões da negligência! Como não? Fogos e roubos, tudo junto, mas poucos aprendem?! Claro, a banda vai passando!
Olhando nos territórios por onde andaram no passado caravelas da turma Lusitana, se nota com algum horror que a coisa poderá não ser genética, mas o bichinho, caramba, está lá. A péssima orgânica social, o problema do rigor, pontualidade, o truque, ambição sem causa, temperança especuladora como ordem diária, olho vivo preparando golpe, péssimo serviço judicial, sistema burocrático atrasado, soberba que chegue e um mar de corrupção infindável que justiça alguma resolva.
Nem que fosse pessimismo, só poderia ser trauma organizado pela incapacidade real em compreender até onde chegará tamanha profundidade se possível fosse encontrar uma metáfora equivalente caso não tivesse existido o tal do Viriato. O rei-pastor, primeiro lusitano corajoso, sério, generoso, de bom senso, claro combatente desinteressado nas glórias mas determinado em acabar com a presença dos Romanos na Península Ibérica, viveremos sonhando…
É verdade, esta derradeira história nunca poderia ser escrita num estilo poético nem vamos esperar pelo poder divino. Pensando bem, o judicioso espírito despiu seu conselho antevendo no particular problema da nação, algum espelho carregado de nevoeiro refletindo forças desarmadas evocando por Viriato.
* Veladimir Romano é jornalista e escritor luso-caboverdiano
Parabéns, Veladimir Romano!
O seu texto revela-se num óptimo relato muito objectivo do que acontece em Portugal! Estou-lhe grato pela isenção.
Muito bem observado. Simples, claro, preciso e conciso! Gostei