O mundo tem medo de uma Guerra Nuclear

Por Rui Gustavo*

Antonio Costa, primeiro-ministro de Portugal (Foto: Miguel Baltazar)

António Costa vai discursar hoje pela primeira vez na Assembleia Geral das Nações Unidas. Depois de Donald J. Trump – outra estreia, certamente menos cintilante – ter incendiado a reunião de notáveis com a promessa de “destruição total” da Coreia do Norte, liderada, nota o presidente americano, por um “rocket man suicida”, o primeiro-ministro português vai, segundo a Agência Lusa, fazer “um discurso em defesa do desenvolvimento sustentável e do combate às alterações climáticas”. Por esta não esperava Trump.

Na canção de Elton John, composta no início dos anos 70, o Rocket Man do título é um simples trabalhador do Espaço que nada percebe de ciência e admite que ser astronauta é apenas um trabalho “dos cinco dias da semana”. O Rocket Man (homem do foguete, em tradução literal) do discurso na ONU – Kim Jong Un – lidera um país, a Coreia do Norte, com aparente poder nuclear suficiente para ameaçar o país mais poderoso do mundo, os Estados Unidos, liderado por um homem com o tacto diplomático de um defesa central do Canelas (sem ofensa).

Quem ameaça mais o mundo, King Jong-un ou Donald Trump (Foto: Wong Maye -E/AP Photo)
Terremoto ocorrido ontem no México comprova que debate sobre alterações climáticas são urgentes (Foto: El País)

 “O uso de armas nucleares é impensável, mas o medo não é abstrato” resumiu António Guterres, o primeiro secretário geral da ONU português, ainda antes de ouvir Trump a criticar o acordo nuclear com o Irão conseguido com o esforço da ONU e do seu antecessor, o Nobel da paz Barack Obama. ”É embaraçoso”, disse o atual presidente americano sobre o tratado que evitou a proliferação de armas no país então liderado por outro pacifista, Mahmoud Ahmadinejad.

Emmanuel Macron, presidente francês, repôs alguma normalidade na casa lembrando que o acordo com o Irão “é essencial” e que a França “não fecha as portas” ao diálogo com a Coreia do Norte. Imperturbável, Trump congratulou-se no twitter pelo discurso que fez e pelo facto de a maioria dos governantes “ter concordado” com ele. Foi de facto um discurso nunca visto na ONU.

Prudente, a rainha britânica Isabel II tem preparado há trinta anos um discurso sobre a terceira guerra mundial escrito nos anos 80 quando o holocausto nuclear parecia uma realidade mais próxima (o habitualmente otimista Guterres lembrou que estamos no maior nível de ameaça nuclear desde a guerra fria). Ainda ontem foi notícia a morte de Stanislav Petrov, um antigo tenente-coronel do exército soviético que ignorou um alerta de ataque nuclear americano, cuja retaliação teria de passar por um ataque nuclear soviético. Petrov “pressentiu” que algo de estranho se passava e não alertou os superiores. O alerta era, afinal, um erro informático. Ainda bem que os computadores evoluíram de tal forma que tal cenário seria hoje impossível.

Este clima de farsa -Trump, o inflamável, convidou todos os líderes mundiais para uma reseção que se realizará hoje em ambiente de cordial convívio – só seria perturbado por um terremoto no México que matou, ontem à noite, pelo menos 248 pessoas, e atingiu os 7,1 da escala de Richter (a base, ou o máximo, é dez).Há um milhão de desalojados na capital do país e 21 crianças terão morrido no desastre. Horas antes do sismo, os mexicanos tinham feito o simulacro anual que lembra o grande tremor de terra de 1985 que matou dez mil pessoas. E este é o segundo sismo de grandes dimensões em menos de um mês. De repente a conversa sobre alterações climáticas não parece assim tão despropositada.

*Rui Gustavo é editor de Sociedade do jornal Expresso, de Lisboa, Portugal

 

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