O jovem poeta escreve no jornal Aurora Collegial
Nº. 185 – Ano XIV, Nova Friburgo, 30.4.1918.*
Maio, por Carlos Drummond Andrade (74) – (Alumno do 2ºannoGynasial)
“Raia o sol na alegria azul do céo; di-ser-ia que volta Primavera, entre harmonias orchestraes e toda terra reverdece, e se adorna de mimosas flores. Há rosas por todos os lados, rosas na terra, rosas no ar, rosas em tudo! ” (cda)
“Em nenhuma crônica há sinal de interferência ou de censura da direção do jornal. No entanto, em “Estreia literária”, poema de “Fria Friburgo”, de 1979, é denunciada a intromissão em pelo menos um de seus textos: “O padre-redator introduziu/ Certas mimosas flores estilísticas/ No meu jardim de verbos e adjetivos.” Devia estar se referindo a “Maio”, talvez a crônica mais derramada, em que há a mistura de clichês líricos com arroubos “poéticos” que certamente ele renegaria depois: “Há gemidos vagos em toda a natureza”, “súbito, a grande voz dos sinos, na altura nevoenta dos campanários”, “o bimbalhar sonoro dos sinos, a música álacre dos pássaros, a alegria triunfal do mundo”, “a terra reverdece e se adorna de mimosas flores”. (MV)
“No texto “As prosas colegiais de Carlos Drummond de Andrade”, o professor Arnaldo Saraiva diz que há um desnível artístico entre as duas primeiras crônicas, “Vida nova” e “Maio” — que “denunciam a inexperiência e a ingenuidade de um principiante” —, e as restantes, que trazem referências a Eça de Queiroz e são revolucionárias, no sentido de que “reagiam pela justeza, pela medida, pela elegância, pela descontração contra a solenidade, a pompa, o derrame sentimental, o foguetório verborraico dos prosadores da época”.(MV)
“Carlos Drummond de Andrade foi admitido em 1917 e expulso por “insubordinação mental” dois anos após seu ingresso. Mas, foi em 1919, neste trecho de “Fria Friburgo”, que delata a censura: Já são quatro da tarde. Até agora ninguém veio gabar-me a nobre criação. Ninguém gastou 300 réis para me ler? Será que meu escrito não é lá uma peça tão sublime? Decido-me a encará-lo mais a fundo. Vou me ler a mim mesmo. Decepção. O padre-redator introduziu certas mimosas flores estilísticas no meu jardim de verbos e adjetivos. Aquilo não é meu. Antes assim, ninguém me admirar. (MV).
(Reproduzido no Suplemento Cultural de O Estado de São Paulo, em 2.12.1979.).
*Pesquisa, organização e compartilhamento: Cristina Silveira