O café de Itabira a Dores de Guanhães
Fazenda Sociedade, inicialmente aos cuidados de Custódio Martins da Costa Filho. Posteriormente passou a seu filho Mário Lage, quando chegou a produzir café instantâneo (Foto: Mauro Moura)
Por Mauro Andrade Moura
Em Itabira tivemos várias fazendas que se dedicaram ao cultivo do café, as quais mantiveram franca produção a partir de 1840 até a quebra do comércio internacional em 1930, com a consequente intervenção do governo federal para equilibrar a produção e manutenção do preço, que não parava de cair desde a quebra da Bolsa de Nova Iorque, em 1929.
Para conter essa queda, já que o Brasil era um grande produtor do grão, como medida drástica Getúlio Vargas chegou ao absurdo de obrigar os fazendeiros a queimar os cafezais, em 1931. Como triste saldo, milhões de sacas de café viraram fumaça.
E a produção de café em Itabira nunca mais se recuperou desse baque causado por uma medida autoritária do ditador Getúlio Vargas. Dentre as fazendas produtoras de café em Itabira descatacavam-se a do Capão, a da Ribeira, a Sociedade, a Cedro, a Piteira e a Rio de Peixe.
A Fazenda Rio de Peixe, por exemplo, inicialmente inicialmente produziu gêneros alimentícios por volta de 1802. Pertencia a Francisco da Costa Lage e Senhorinha Maria Clara de Andrade, tendo sido transferida posteriormente por herança aos descendentes
Foi uma grande produtora de café no município. Dessa fazenda temos a divisão para a Fazenda Cachoeira e desta para a Progresso, das quais todas também mantinham alguma produção de café.
Para o lado do Rio Tanque, em Santa Maria de Itabira, destacamos a Fazenda da Florença como grande produtora de café. A fazenda foi do Comendador Cassemiro Carlos da Cunha Andrade, tendo posteriormente ficado sob a administração do filho mais novo, Carlos Casimiro da Cunha Andrade.
Ali, como na fazenda do Capão, se manteve uma forte produção de café por longo período.
A fazenda do Capão passou por herança do Major Lage ao seu filho João Marcelino da Costa Lage, tio materno do Carlos Casimiro da Cunha Andrade.
Detalhe: a fazenda do Capão era onde hoje se encontram instalados o distrito industrial (DI) de Itabira e o campus da Unifei, que, por força da lei municipal 3.174, de 30 de maio de 1995, recebeu o nome de DI Maria Casemira Andrade Lage (1828/1929), uma justa do ex-prefeito Olímpio Pires Guerra (1993/96).
A homenagem, contudo, ainda não foi plenamente reconhecida, sendo que nem uma placa alusiva é encontrada no campus universitário da Unifei em Itabira.
Maria Casemira foi a primeira mulher empresária de Itabira, a principal acionista da Fábrica de Tecidos da Pedreira, inaugurada em 1888, tendo funcionado até a década de 1950.
Filha do comendador Casemiro Carlos da Cunha Andrade e de Senhorinha dos Santos Alvarenga, Maria Casemira era irmã de Joaquim Carlos da Cunha Andrade Lage, o barão de Alfié, de Carlos Casemiro da Cunha Andrade e de Virgínia da Cunha Andrade Lage.
Cafezais em flores
Mas voltando à nossa história do café em nossa região, ao descer dos rios, tivemos nas margens do Santo Antônio várias fazendas, porém, sem contar essencialmente com produção acentuada de café.
Entretanto, mais para baixo e, nas margens do rio Guanhães, chegamos a Areias no município de Dores de Guanhães, onde os cafezais também prosperaram.
Naquela região foram abertas as chamadas terras novas, as novas fazendas que tiveram no seu início o plantio de pés de café, ocasionando, com isso, a fixação de várias famílias e seus agregados naquela região agrícola.
A distância ao porto e, daí ao mar, era extensa, consumindo muitos dias de viagem, sendo que toda produção de café era transportada em tropas de burros.
A viagem era sofrida, assim como a vida nas lavouras. Eram horas intermináveis no trato do café e outras tantas a mais para conseguir entregar o “ouro negro” no cais para ser exportado.
Temos que, com a quebra do preço internacional do grão, todas essas fazendas erradicaram a maior parte do plantio do café e transformaram os terrenos em pasto para o gado vacum. Uma perda incomparável para a região, que nunca mais recuperou a sua pujança agrícola.
Em Itabira havia ainda a produção de algodão que supria, no final do século 19, e também em boa parte do século passado, parte da demanda da matéria prima para as fábricas de tecidos da Pedreira e Gabiroba.
Mas essa é outra história que ainda está para ser contada.
Mauro muito agradecida pela matéria que trás o retrocesso sofrido na cidade pela ditadura do Getúlio e também pela chegada da mineração.
Olá, Aguilay.
Preferi não citar esse ditador, o qual minha avó paterna só o chamava de assassino de um tio dela.
E também havia plantação de cafés lá na Fazenda do Turvo, do seu Domingos filho do João Dionísio; vai ficar para uma próxima crónica.
Impressionante não haver registros documentais desta época dos cafezais, o único que li está na Chorographia do Monsenhor Júlio Engrácia.
Vale também os registros físicos, a saber o grande terreiro de secar cafés lá na Florença, é o que restou daquele tempo.
Quanto à mineração, suplantou tudo e absorveu toda a mão de obra que havia na região, principalmente a braçal, daí, portanto, sacramentou o fim da produtividade que ainda havia nas fazendas.
Grato pelo carinho da leitura,
Mauro
_*Meu caro conterrâneo Mauro Andrade Moura,*_
_*É prazeroso receber de sua parte um material tão rico sobre a história da nossa querida Itabira. Pesquisa apurada que nos mostra parte da memória de crescimento e da riqueza que tínhamos antes da devastação do município pela mineração, que fortaleceu mais o Estado e a União, do que propriamente o Municipio com irrisórios impostos que nos eram pagos. Obrigando à Daniel de Grisolia, quando Prefeito, a todos os meses, ir buscar pessoalmente de carro, esses valores na cidade de Ipatinga. Era em dinheiro vivo, correndo todos os riscos. Isso porque não existia uma agência do Bco do Brasil em Itabira.*_
_*E foi graças a Deus, digo mais, graças à visão, perseverança, interesse e Amor por Itabira, graças à essa incansável luta de Daniel Jardim Di Grisolia, que bravamente conseguiu elevar e trazer um verdadeiro imposto devido, o “Imposto sobre esse Mineral”*_ (que brilhou muito, mas que vai deixar outros grandes brilhos), _*de um valor irrisório para hoje a Prefeitura ter ,os mais de 1(um) bilhão de reais anuais a serem utilizados em benefício do município, da cidade, e é claro, da população urbana e rural.*_
_*Mas, infelizmente ele não conseguiu em seu mandato a usar esses valores desse tão esperado imposto (Grandes obras deixou. Ah! se “DG” tivesse esse imposto! Ah! se tivesse…).*_
_*Há muita história para dividirmos juntos.*_
_*Agradecer, agradecer seria muito pouco pelo seu valioso trabalho de pesquisa, dedicação em manter viva a memória da nossa Terra. E sabemos que há muito o que pesquisar, dividir e informar.*_
_*Que o Bom Pai os ilumine e, lhes dê excesso de saúde e um grande Amor pela nossa Itabira!*_
_*Gratidão a vocês conterrâneos amigos, a você e ao Carlinhos Cruz pela publicação.*_
_*José Di Grisolia*_
Olá, Zezé.
Sim, estamos tentando fazer algum registro do tempo em que as fazendas da região de Itabira eram realmente produtivas, mantendo a atividade laboral e mercantil a ponto de no censo de 1920 o município de Itabira, com os seus distritos, tinha uma população no mesmo nível da capital Belo Horizonte, uma profusão humana de vinte mil almas cada uma delas.
Vamos preparar novas crónicas, mas considerando sempre a precariedade da informação oficial, portanto, ficaremos mais pela oralidade que nos chegou, principalmente a familiar.
E devemos sempre agradecer o seu pai, Daniel de Grisolia, por todo o empenho em prol de nossa cidade, todo o seu dinamismo e o legado que nos deixou, com a visão de um futuro mais amplo.
Mauro querido, o seu cafezal é de puro sabor. . .
Lembra do café Cauê? Acho que era produzido pela família Lage Avelar.
A Cidadezinha era mais rica, mais culta… Mas a mineradora destruiu tudo…
Olá, Cristina.
Sim, lembrei-me do Café Cauê, do qual o Edílvio Lage Avelar foi o empreendedor, mas acabou paralisando a torrefação.
E Itabira era uma cidadezinha laboriosa e culta, não uma qualquer, pois havia mesmo mais cultura, educação, conhecimento e empreendimentos industriais, tudo isto muito perdido por décadas e a cidade subjugada pela operacionalidade brutal da mineradora.
Agora, como uma fénix, temos já duas universidades a tentar superar esse tempo do “obscurantismo mineral”.
Mais um pouco e vou saber mais a respeito da Fazenda do Turvo do seu Dionísio.
Sempre mui grato pelos seus honrosos comentários,
Mauro