Nilmário Miranda lança livro sobre a ditadura militar no Museu Abílio Barreto

Foto: Divulgação

Redigida em parceria com o jornalista Carlos Tibúrcio e o poeta Pedro Tierra, a obra traz histórias de vítimas da ditadura civil-militar brasileira (1964-1985) que foram assassinadas na Casa da Morte e tiveram seus corpos incinerados

O assessor especial de Defesa da Democracia, Memória e Verdade do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), Nilmário Miranda, lança, nesta segunda-feira (29), a partir das 19h, no Museu Abílio Barreto, em Belo Horizonte (MG), o livro Por Trás das Chamas — Da Casa da Morte aos Fornos da Cambahyba: práticas nazistas da ditadura e outros relatos sobre Memória, Verdade e Justiça’.

Aberto ao público interessado, o evento ocorre no mês em que o golpe de Estado que instaurou a ditadura civil-militar no Brasil completou 60 anos. “Este é um livro de combate e intervenção política e pedagógica, que reúne nove histórias sobre a ditadura e as lutas de várias organizações de esquerda para enfrentá-la e tentar derrubá-la. Confrontos quase sempre desiguais, com resultados dramáticos e cruéis para a militância”, conta Nilmário.

Lançado pela editora Expressão Popular e escrito em parceria com o jornalista Carlos Tibúrcio e o poeta Pedro Tierra — também conhecido como Hamilton Pereira —, o livro narra, dentre outras histórias, os casos de vítimas da ditadura que foram torturadas e assassinadas na Casa da Morte, em Petrópolis (RJ), e que posteriormente tiveram os seus restos mortais incinerados nos fornos da usina de açúcar Cambahyba, no município de Campos dos Goytacazes, também no Rio de Janeiro.

“Gerações que vieram depois desse período, principalmente a juventude atual, desconhecem grande parte desses acontecimentos. A emergência mais recente de movimentos de extrema-direita e neofascistas, não somente no Brasil, difundindo cada vez mais informações falsas e valores ideológicos antidemocráticos, torna esse conhecimento cada vez mais necessário e imprescindível”, complementa Nilmário.

São histórias como as de Fernando Santa Cruz e Eduardo Collier, dois líderes estudantis e amigos de infância, que militavam na Ação Popular Marxista-Leninista (APML) e foram sequestrados por agentes da ditadura, em pleno carnaval de 1974, no Rio de Janeiro.

Os relatos também incluem, dentre outros, os casos dos líderes populares João Massena Filho e Luiz Ignácio Maranhão Filho, integrantes do Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro (PCB), que também foram capturados pela repressão em 1974, na cidade de São Paulo, em ação que fez parte da chamada ‘Operação Radar’.

“O regime de exceção acabou formalmente em 1985. Lá se vão 39 anos, tempo suficiente para que o povo brasileiro já tivesse feito um pleno e total acerto de contas com os responsáveis pela violação da democracia em nosso país e por crimes bárbaros contra a humanidade, imprescritíveis, e até hoje impunes”, avalia Nilmário.

Além dos nove capítulos, o livro traz em seus anexos homenagens aos profissionais da Justiça, especialmente advogadas e advogados, que ousaram enfrentar o arbítrio daquela época; os resultados e as 29 recomendações da Comissão Nacional da Verdade (CNV), quase todas ainda não implementadas; exemplos de lugares de memória que podem e devem ser criados e divulgados em todo o país; gráficos e dados estatísticos detalhados sobre os mortos e desaparecidos políticos; e outras informações que certamente poderão contribuir para o debate em relação a esse período sombrio da história brasileira.

Serviço

O lançamento ocorrerá às 19h desta segunda-feira (29), no Museu Abílio Barreto (Av. Prudente de Morais, 202 – Cidade Jardim), em Belo Horizonte (MG). Na ocasião, Nilmário Miranda irá apresentar a obra e autografar exemplares do livro, que será comercializado ao preço de R$45,00.

Sobre os autores

Nilmário Miranda

A trajetória do jornalista de Belo Horizonte criado em Teófilo Otoni (MG) começou com ativismo social em instituições católicas e movimentos estudantis. Aos 17 anos de idade, na capital mineira, Nilmário ingressou em uma organização que enfrentava a ditadura militar, por convite da ex-presidenta da república, Dilma Rousseff.

Durante o ativismo político na ditadura, Nilmário teve que renunciar à convivência com a família e ao emprego formal. Viveu na clandestinidade por quatro anos e meio, foi condenado como inimigo do país e ficou preso por três anos e meio pelos órgãos de repressão do regime.

Ex-deputado estadual e federal por Minas Gerais, Nilmário foi também Secretário Especial de Direitos Humanos, no primeiro governo Lula. Por Trás das Chamas é o sexto livro lançado por Nilmário.

Ele é autor de obras como Dos filhos deste solo: mortos e desaparecidos políticos durante a ditadura militar: a responsabilidade do Estado, Por que direitos humanos, Histórias que vivi na História e Teófilo Ottoni: a república e a utopia do Mucuri.

Carlos Tibúrcio

Jornalista, foi líder do movimento estudantil na Bahia e também combateu a ditadura civil-militar. Dirigente da Organização Revolucionária Marxista Política Operária (Polop) e do Partido Operário Comunista (POC), Tibúrcio foi preso político em São Paulo de 1973 a 1975.

É autor, juntamente com Nilmário Miranda, do livro Dos filhos deste solo: mortos e desaparecidos políticos durante a ditadura militar: a responsabilidade do Estado.

Pedro Tierra

Poeta, é também conhecido como Hamilton Pereira. Militante da Aliança Libertadora Nacional (ALN), Pedro Tierra foi preso e torturado pela ditadura, em 1972.

Foi secretário de Cultura do Distrito Federal em duas oportunidades e trabalhou no Ministério do Meio Ambiente. É autor de livros como Poemas do Povo da Noite, Água de Rebelião, Inventar o Fogo e A Palavra Contra o Muro.

 

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