Muito mais que incentivar o agronegócio, Itabira deve incrementar a agroecologia para se diferenciar no mercado
Carlos Cruz
Pelo programa semanal que o prefeito Marco Antônio Lage (PSB) mantém pela rede social, o bate-papo nessa quinta-feira (22) foi com o engenheiro agrônomo Mauro Lúcio Ferreira, funcionário da Emater cedido à Prefeitura de Itabira para ocupar a Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento.
Para o prefeito, que é fazendeiro, é hora de Itabira sair das boas intenções e passar para a ação, implementando uma política agrícola para um melhor aproveitamento das propriedades rurais na produção de alimentos, com o incremento do agronegócio no município.
A designação talvez não seja a mais apropriada, pois o agronegócio no país está inteiramente voltado para a produção em larga escala, com uso intensivo de agrotóxicos, inclusive de muitos que estão proibidos em outros países. Isso enquanto o mundo busca por alimentos mais saudáveis, livre de pesticidas e de outras substâncias tóxicas.
Além disso, pela estrutura fundiária bastante fragmentada existente em Itabira, assentada em pequenas propriedades, inclusive com muitos sítios voltados somente para o lazer, é preciso pensar modelos alternativos de produção.
Isso porque, pela topografia bastante acidentada, o que dificulta a mecanização da lavoura, fundamental para a produção em escala, é hora de Itabira pensar diferente para tornar a produção local mais competitiva não pela produtividade em escala, mas pela qualidade e diversificação de suas culturas.
O secretário Mauro Ferreira, assim como o seu antecessor na pasta de Agricultura, está bastante focado na produção de bananas. Como diz Willian Gazire, ex-secretário na administração passada, a cultura desse fruto é migratória e caminha para Itabira. Daí que é hora de incrementar ainda mais o seu cultivo no município.
Nada contra, até pelo contrário. Mas esse cultivo de bananas pode ocorrer também em pequenas propriedades, mesmo com relevo acidentado, consorciado com outras culturas.
Ensinamentos
Nesse sentido, a agrônoma Anna “Primavezi” Conrad (1920/2020), pesquisadora da agroecologia e da agricultura orgânica, tem propostas bastante interessantes para o manejo ecológico do solo – e que são perfeitamente factíveis de serem colocadas em prática em Itabira.
Para ela, a diversificação das culturas é importante não só no aspecto econômico, mas também por possibilitar o consórcio de culturas, sem exaurir o solo, com controle natural de pragas e doenças.
É assim que ela entendia que o segredo do bom cultivo, com qualidade e sem emprego de agrotóxico, está nesse controle do solo. Para isso, entre as suas dicas de manejo, inclui também a rotação de culturas, o que ajuda no controle de pragas e doenças.
De acordo com Primavezi, com a agroecologia a água volta a brotar nas grotas e nascentes. Os seus ensinamentos podem ser úteis também para a necessária política de recuperação de solos degradados pela pecuária extensiva.
São áreas que podem ser reaproveitas para a agricultura ecológica, que privilegie a atividade biológica do solo com um alto teor de matéria orgânica, com a substituição de insumos químicos pela “adubação verde”, quando ocorre o controle biológico das pragas.
É bem possível que para o pragmatismo agronômico, muito mais voltado para a produção em escala do agronegócio, as ideias e propostas de Ana Primavezi podem ser rechaçadas e classificadas como utópicas.
Mas são das utopias que surgem novas ideias para se sair da mesmice e fazer diferente. Nesse caso, o fazer diferente pode ser perfeitamente consequência de uma política de desenvolvimento de uma agricultora orgânica, com base nas pequenas propriedades familiares.
Essa proposta de agricultura orgânica pode tornar o município competitivo pela qualidade certificada de sua produção no futuro, isenta de agrotóxicos e de outros contaminantes. Trata-se, pois, de uma utopia que faz caminhar, seguir em frente e buscar o novo, para se diferenciar no mercado.
Estrutura fundiária
Segundo dados do Incra, das unidades municipais de cadastramento rural, a predominância em Itabira é de propriedades com extensão entre 10 hectares, a maioria, até 200 hectares. Poucas são as propriedades com área acima de 500 hectares – e contam nos dedos as que têm mais de 1.000 hectares.
Ou seja, tem-se no município uma estrutura agrária bem distribuída – e quase não há grandes propriedades rurais. Mas há alguns poréns, que precisam ser observados e considerados.
Com um extenso território que ocupa área de 1.253.704 quilômetros quadrados, menos de 5% correspondem à área urbana. Mas essa área rural é, predominantemente, ocupada pela pecuária extensiva e semi-extensiva, segundo o censo do IBGE de 2017.
No total, dos 63.331 hectares ocupados por unidades agropecuárias, distribuídas entre 1.665 propriedades rurais, nada menos que 31.141 hectares estão ocupados por pastagens.
Isso enquanto 25.778 são matas e florestas naturais e revegetadas, incluindo reservas legais e de preservação permanente.
Já a área destinada à lavoura é de apenas 1.531 hectares, o que explica também a ainda baixa produção de alimentos no município.
Retorno ao campo
O prefeito Marco Antônio Lage acredita que, com o incremento de uma política agrícola intensiva e adequada, é possível até mesmo incentivar o retorno do homem do campo que migrou para a cidade.
Isso no caso de se oferecer a ele a condição de produzir e assegurar o sustento próprio e de seus familiares com o incremento da produção rural.
Otimista, o prefeito reforçou a importância do retorno da Patrulha Agrícola, dentro de novos conceitos, beneficiando, sobretudo, o pequeno agricultor. “Antes, o trator ficava dois, três meses a serviço do grande produtor, enquanto o pequeno ficava sem esse apoio”, criticou o prefeito em sua live semanal.
Segundo o secretário Mauro Ferreira, o serviço de aragem do solo para cultivo e pastagem com a Patrulha Agrícola retorna em julho. Ele se referiu ao uso desse instrumento, inclusive, na melhoria de pastagem para o incremento da pecuária de leite e de corte.
O ideal é que se dê mais ênfase à agricultura familiar, de preferência à produção orgânica de alimentos nas pequenas unidades produtivas. É o que pode, repita-se, tornar o município de Itabira competitivo nesse segmento comercial que tem crescido em todo o mundo.
Outra boa ideia é reaproveitar os prédios de antigas escolas rurais desativadas no passado, quando o município adotou o modelo de unidades nucleadas, para servirem ao beneficiamento de parte da produção rural. “Nesses prédios abandonados podem ser instaladas pequenas indústrias de beneficiamento cooperativadas”, propõe o secretário.
Em parceria com o programa Agrowin, da Acita, a secretaria de Agricultura quer incentivar também as compras coletivas de insumos, como forma de baratear os custos. Caminhões já disponíveis na secretaria podem auxiliar no escoamento da produção agrícola.
Mercado pode ser assegurado com aquisições para a merenda escolar e por quem almeja consumir produtos de qualidade
Para a garantia de mercado, a proposta é ampliar o fornecimento da produção agrícola ao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que repassa às entidades assistenciais – e também para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).
“A lei obriga o município comprar da agricultura familiar no mínimo 30% do que é consumido nesses programas, o que ainda não foi possível atender”, disse Mauro Ferreira.
“Mas estamos discutindo como aumentar a aquisição da produção local para suprir esses programas”, adiantou o secretário, para quem a agricultura familiar tem uma produção diferenciada que precisa ser observada.
Ainda como mercado a ser explorado, tem-se ainda uma população macrorregional de 500 mil habitantes, que consome a maioria dos alimentos proveniente da Ceasa-BH.
Há, ainda, os grandes restaurantes industriais da Vale, que podem também consumir parte da produção local, caso seja realmente incrementada.
Produtores de água
Marco Antônio Lage anunciou que pretende reativar o programa Preservar para não Secar, que deixou de existir na administração passada.
“Além de dotar as propriedades rurais com poços artesianos, já que nossas fontes estão secando na estiagem, vamos reativar o programa para reabilitar nossas nascentes”, prometeu o prefeito.
Itabira tem uma zona rural extensa e improdutiva, realmente o município não precisa ir até o ceasa. Temos como fazer, só precisa fazer.
Te desejo sucesso Mauro, acredito no seu potencial.