Líder do Bela Vista acredita no fim da novela do esgoto que transborda no Pontal, mas ainda falta definir quem paga a conta

A presidente da Associação dos Moradores do bairro Bela Vista, Maria Aparecida Oliveira, solicitou informações na reunião do Conselho Municipal de Meio Ambiente (Codema), na quinta-feira (6), sobre o andamento das ações prometidas para resolver em definitivo o impacto decorrente do entupimento pelo “fino” do minério do sistema de drenagem e das redes de esgoto na região da barragem do Pontal, no bairro Bela Vista.

Maria Aparecida cobrou apoio do Codema na solução definitiva para o saneamento na região do Pontal (Fotos: Carlos Cruz)

“Só quem vive no bairro sabe o transtorno que isso provoca. A casa está limpa e de repente tudo é invadido pelo esgoto. Isso já ocorre há mais de 30 anos sem solução para os moradores”, descreveu a líder comunitária, que participa também como conselheira do Codema. “Nesta época de chuva o problema se agrava ainda mais.”

Ela disse que as esperanças para que ocorra uma solução definitiva se renovaram após a realização de uma audiência pública, no dia 18 de julho, no ginásio poliesportivo do bairro onde mora, com representantes da Vale, da Prefeitura, Saae e comunidades atingidas, o que inclui também o bairro Nova Vista.

“Acredito que estamos vivendo os capítulos finais dessa novela. Temos grande esperança de resolver em definitivo esse problema conforme foi acordado na audiência pública”, reiterou, pedindo apoio ao Codema para que acompanhe de perto a implementação dessa solução definitiva. “Conto com o apoio de vocês para que não ocorra mais atraso na solução do problema.”

Prazo

Audiência pública debateu solução para os problemas, mas não definiu quem paga as contas

Segundo assegurou a secretária de Meio Ambiente e presidente do Codema, Priscila Braga Martins da Costa, as ações acertadas na audiência pública estão sendo encaminhadas.

“Tivemos uma reunião recente com a Vale e fomos informados que o projeto executivo das obras fica pronto entre abril e maio, conforme foi prometido.”

A secretária lembrou que foi diagnosticado também que o esgoto de algumas residências é lançado na rede pluvial, o que agrava ainda mais o problema ambiental, prejudicando a qualidade de vida dos moradores. “É uma situação ao muito desagradável. O poeira de minério sedimenta e entope as redes”, concordou.

“O Saae já adquiriu a máquina necessária para saber de onde vem esses esgotos. Esse diagnóstico já era para ter sido feito, estamos atrasados”, disse a secretária, que prometeu cobrar urgência na realização desse levantamento.

Transtornos são antigos e solução é sempre adiada

Daniel Bastos, da Vale, disse que a solução para a drenagem é um sistema subterrâneo

Essa crônica situação é vivida pelos moradores há mais de 30 anos. É ocasionada pelo transbordamento das redes de esgoto e por insuficiência do sistema de drenagem pluvial, que se misturam, ocasionando impacto nas residências vizinhas.

De acordo com o representante da Vale presente na audiência pública, engenheiro Daniel Bastos, a solução para esses problemas só ocorrerá com a instalação de um sistema subterrâneo de drenagem.

Essa rede sairá do bairro Bela Vista, passando pela rua Ouro Preto, até desaguar em uma galeria pluvial, na avenida Mariana. “A solução definitiva é fazer a drenagem do fundo do vale”, explicou aos moradores.

De acordo com ele, não há como apressar a conclusão do projeto executivo, em decorrência do tempo necessário para fazer as sondagens dos terrenos por onde irá passar a drenagem.

Outra demanda que leva tempo é o necessário levantamento topográfico em vários pontos. Ficou acertado na audiência que o projeto executivo ficaria pronto em até maio de 2019.

Quem paga

Entretanto, a conclusão do projeto executivo não irá significar o imediato início das obras de saneamento do impacto em toda a sua extensão. É que falta ainda definir se é a Vale ou a Prefeitura que irá arcar com os seus custos.

Em entrevista a este site, Ronaldo Lott, secretário municipal de Obras, e que também esteve presente na audiência pública, disse entender que a responsabilidade pela drenagem é da Vale.

Vale fez a drenagem na lagoa Coqueirinho (Foto: Divulgação/Vale)

“Esse custo deve ser arcado por quem provocou o estrangulamento da drenagem, ocasionado pelo alteamento dos cordões que a Vale construiu na barragem do Pontal”, apontou.

Ele disse ainda que não tem como a Prefeitura arcar com esse custo, até mesmo por não estar previsto no orçamento municipal para o próximo ano.

Só que a solução definitiva do problema, como espera a líder comunitária, não se restringe às obras de drenagem. Há ainda o problema do esgoto que é lançado nesse mesmo sistema de drenagem – e que, ao entupir, retorna para as residências.

Pelo que se observa, a Vale deve ser responsável pelo dano provocado pelo fino de minério e pelo transbordamento da lagoa Coqueirinho. Já a questão do esgoto, a solução deve ser dada pelo Saae, que é responsável pela instalação e manutenção de redes de esgoto na cidade.

Afinal, a Vale não produz esgoto e sim o “fino” do minério. São, portanto, dois problemas distintos que precisam ser resolvidos simultaneamente, sob pena de a novela que tanto atormenta os moradores dos bairros Bela Vista e Nova Vista se arrastar por muitos outros intermináveis capítulos. s

São Tomé

Aparecida Coelho só acredita vendo a solução definitiva

Diante desse impasse financeiro ainda não resolvido, a moradora Maria Aparecida Coelho, líder comunitária no bairro Bela Vista, continua cética. “Sou igual São Tomé. Depois de tantas promessas, só vou acreditar quando essa obra estiver pronta. Outros acordos já foram feitos, mas, infelizmente, sem que fossem cumpridos”, lamentou.

Enquanto isso os moradores sofrem com a proliferação de pernilongos e de outros animais peçonhentos. E o mau cheiro torna-se insuportável, faça sol ou chuva.

Paliativos

Segundo relataram os representantes da Vale, Prefeitura e Saae na audiência pública, várias obras de saneamento já foram realizadas na região. São medidas paliativas para amenizar os incômodos provocados aos moradores dos bairros Bela Vista e Nova Vista.

Entre as medidas está a abertura de um canal para dar vazão à água acumulada na lagoa Coqueirinho, que transbordava no período chuvoso, invadindo as residências junto com o esgoto acumulado.

A Vale aumentou a sua capacidade de contenção, para que não ocorra mais o transbordo. E com duas bombas faz o controle do nível da água na lagoa.

“Desobstruímos uma caixa de drenagem na rua Antônio Germano Barbosa, no bairro Bela Vista, que devolvia o fluxo da água”, relatou o engenheiro da Vale. Além disso, a empresa desassoreou o córrego que passa ao lado, e que também transbordava, provocando mais transtornos aos moradores vizinhos.

 

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