Itabira lança programa de arborização urbana para deixar de ser uma das cidades menos arborizadas do país
Loteamento sem arborização na cidade: condicionantes só no papel
Fotos: Acervo Vila de Utopia
“Tentamos proteger as árvores, esquecidos de que são elas que nos protegem”
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)
Carlos Cruz
Itabira Mais Verde é o nome do programa de arborização urbana que a Prefeitura apresenta ao Codema nesta sexta-feira (18) e que deve ser encaminhado à Câmara Municipal para aprovação legislativa, assim que forem concluídos os estudos técnicos e participação comunitária necessários.
Em entrevista, a secretária municipal de Meio Ambiente e Defesa Animal (SMMADA), Elaine Mendes, diz que sua equipe já está trabalhando na elaboração de um programa amplo e participativo. O objetivo é que, com o cultivo de espécies nativas e critérios técnicos claros, Itabira supere a condição de uma das cidades menos arborizadas do país.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 25,2% das vias públicas urbanas da cidade são arborizadas. Esse índice coloca o município na 4.980ª posição entre os 5.570 municípios brasileiros mais arborizados.
No estado, Itabira ocupa o 752º lugar entre 853 cidades. Apenas 101 cidades mineiras são menos arborizadas que a terra de Drummond. Na microrregião, é a 15ª mais arborizada entre 18 cidades vizinhas, ficando atrás de todas, exceto três.

Mineração desmata a Serra do Esmeril e destrói a Mata Atlântica local
Embora abrigue em seu entorno a maior mina a céu aberto do mundo, com impactos recorrentes de poeira, ruído e tremores que atingem diretamente o perímetro urbano, Itabira segue sem cortinas verdes que amenizem esses impactos.
Isso enquanto a mineradora Vale insiste em classificar sua operação no complexo minerador como situada na zona rural, apesar de os impactos recaírem sobre a cidade, que convive, dia após dia, com o pó de minério em suspensão no ar.
Em meio a esse cenário, após a abertura, em 1985, de uma ação civil pública para apurar a devastação da Serra do Esmeril, a mineradora deu início ao programa Verde Novo. Prometeu plantar 1 milhão de árvores nativas como medida compensatória por esse desmatamento. Não cumpriu. Sem ouvir os moradores e sem engajar a comunidade, a iniciativa fracassou e deixou como legado apenas a frustração.
Vieram mudas refugadas da reserva de Linhares (ES), sem padrão técnico, e não houve acompanhamento. O resultado foi pífio. Poucos são os exemplares ainda existentes, remanescentes do Verde Novo.
Essa carência de cortinas e bosques representa também uma dívida histórica. Isso pelo fato de, na década de 1980, a cidade ter perdido toda a cobertura de Mata Atlântica da Serra do Esmeril, devastada por corte raso para viabilizar as Minas do Meio, sem nunca ter recebido compensação proporcional por essa perda ambiental incomparável.
Esse é o quadro que precisa ser enfrentado com firmeza. Reverter o processo de desmatamento, restaurar a vegetação urbana e garantir a participação financeira da mineradora nesse programa são passos essenciais, como meio de reparar os danos ambientais acumulados ao longo das décadas e que alteraram drasticamente o microclima de Itabira, com consequências cada vez mais graves nos dias atuais, em tempos de mudanças climáticas.
O que se espera agora é que o Itabira Mais Verde siga caminho oposto: “que seja construído com diálogo, responsabilidade técnica e controle efetivo, para superar a insuficiência arbórea que marca o município”, conforme explica a secretária Elaine Mendes.

Plano será construído com escuta popular e critérios técnicos
De acordo com a secretária, o programa será estruturado a partir do programa que será apresentado primeiramente ao Codema – e que já reúne princípios de planejamento e execução. Terá validade de 20 anos, com revisões periódicas, e será desenvolvido por técnicos da secretaria, em parceria com moradores, entidades civis e parceiros privados. A expectativa é que se transforme em política pública institucional.
“A cidade já teve ações isoladas, como alguns programas da Prefeitura, mas todas sem controle e sem continuidade. Agora será diferente: vamos construir com participação popular e responsabilidade técnica”, afirma Elaine Mendes.
O plano será guiado pelo manual de arborização urbana elaborado em 2021, na gestão do ex-secretário Denes Lott. O documento traz diretrizes de plantio, poda e espaçamento, e será adaptado para incluir mapa de calor, sazonalidade de mudas, plano de tombamento de árvores e controle de espécies existentes. “Nenhuma árvore será plantada em frente a residências sem que o proprietário esteja de acordo”, tranquiliza a secretária de Meio Ambiente.

Canteiros centrais, praças e espaços institucionais serão prioridade
A secretária explica que o programa privilegiará áreas públicas amplas e sem resistência dos moradores, como praças, canteiros centrais e corredores de circulação, além de espaços destinados a áreas verdes, formando hortos florestais. Calçadas estreitas e locais com rejeição comunitária não serão ocupados.
“Não vamos repetir os erros do passado, como o plantio de espécies inadequadas em locais pouco acessíveis. Queremos sombra, permeabilidade do solo e identidade verde urbana, mas tudo com participação e cuidado”, detalha.
A proposta também prevê o tombamento de árvores históricas por idade, espécie ou valor simbólico, além da inclusão de espécies frutíferas em praças e hortos urbanos. “Por que não plantar jabuticabas ou mangas nos espaços públicos? Se for com planejamento, é possível e saudável”, afirma.
Plantio começa em setembro, antes mesmo da aprovação legislativa

Apesar de o programa ainda estar em elaboração, a Prefeitura pretende iniciar o plantio de mudas já em setembro, aproveitando o início do período chuvoso. Os primeiros produtos do programa serão entregues nesta etapa, com base nas decisões técnicas e comunitárias já em curso.
“A natureza tem seu tempo, e precisamos respeitar a sazonalidade. Não podemos esperar o plano estar todo finalizado para começar. Em setembro já estaremos plantando”, adianta Elaine Mendes.
A secretária não confirma metas numéricas, mas estima que o plano possa alcançar entre 60% e 65% de aproveitamento das mudas – índice superior à média estadual, que registra até 40% de perdas após o plantio. Também espera que a maioria da população abrace o projeto como compromisso coletivo.
Diagnóstico inexistente será enfrentado com controle técnico

Itabira não possui balanço oficial sobre árvores existentes, mudas plantadas ou cortes realizados nos últimos anos. Segundo Elaine, esse vazio será preenchido com monitoramento e controle técnico rigoroso.
“Ninguém sabe quantas árvores plantadas no passado vingaram em Itabira. No novo plano, vamos documentar tudo: o que foi plantado, onde, por que sobreviveu ou não. Isso é condição básica para que o programa tenha continuidade e credibilidade”, explica.
Ela concorda que programas anteriores, como o Verde Novo, da Vale, falharam por falta de planejamento e envolvimento popular.
Índice estadual reforça urgência do plano

Além dos dados do IBGE, que a Prefeitura diz estar defasado, a Portaria nº 01/2025 faz referência ao Índice Mineiro de Vulnerabilidade Climática (2024), que apresenta avaliação mais atual sobre a situação ambiental de Itabira.
Segundo esse levantamento, a cidade tem alta exposição às mudanças climáticas, sensibilidade moderada e elevada capacidade de adaptação.
Esse perfil reforça a urgência de ações estruturais para enfrentar ondas de calor, baixa qualidade do ar e desequilíbrio ecológico. Para a secretária, arborizar é uma forma direta de preparar a cidade para os impactos climáticos já em curso.
“Plantar árvore é preparar a cidade para o futuro. É saúde pública, é equilíbrio ambiental, é memória urbana. Agora será feito com planejamento, escuta e cuidado coletivo”, conclui Elaine Mendes.
Leia também: