Prefeitura lança manual de arborização para Itabira deixar de ser uma das cidades do país com menos verde no perímetro urbano
No destaque, rua sem árvores no bairro que só tem ipê no nome
Fotos: Carlos Cruz
Nessa quarta-feira (21), no Dia da Árvore, a Prefeitura de Itabira, por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMA), lançou o Manual de Arborização Urbana, contendo diretrizes de como deve ocorrer a arborização no perímetro urbano, com definição de critérios de escolha das espécies e locais adequados para o plantio.
Entretanto, embora tenha ocorrido o lançamento oficial, com concursos e prêmios de fotografias (A natureza e suas interações), o manual ainda não está disponível para consulta. Ou seja, “passaram o carro na frente dos bois”.
“O documento passará por algumas adequações e estará disponível em breve no portal do Meio Ambiente, no site oficial da Prefeitura”, avisa a assessoria de imprensa da Prefeitura, que distribuiu nota à imprensa para divulgar o que ainda não foi concluído.
Menos verde

O manual é uma exigência do Plano Diretor do Município, mas só agora está sendo elaborado, ainda na fase de conclusão. Com o plano, a cidade minerada poderá reverter uma triste realidade: a de ser uma das cidades com menos árvores no perímetro urbano, segundo o IBGE.
Embora os dados sejam contestados pelo secretário municipal de Meio Ambiente, o que consta no registro oficial é de dispõe de apenas 25,2% de suas vias públicas arborizadas. Em decorrência, a cidade ocuparia a 4.980ª posição entre os 5.570 municípios brasileiros no ranking dos mais arborizados no país.
Confira aqui https://cidades.ibge.gov.br/brasil/mg/itabira/panorama.
Ou seja, somente 581 municípios brasileiros contariam com menos árvores no perímetro urbano que Itabira, a cidade que um dia já foi do Mato Dentro e que tem em sua encosta a maior mina a céu aberto do mundo tão próxima da cidade lançando poeira, agravando as doenças respiratórias.
No estado de Minas Gerais, Itabira estaria na 752ª posição nesse mesmo ranking de cidades verdes, entre as 853 cidades mineiras. Com isso, apenas 101 cidades mineiras seriam menos arborizadas que a terra de Drummond. E na microrregião, somente três cidades teriam, proporcionalmente ao número de habitantes, menos árvores que Itabira no perímetro urbano.

Contestação
No entanto, para Denes Lott esses dados não condizem com a realidade, já que foram levantados pelo censo de 2010. Ok, mas não se tem notícia de nenhum plano ou mesmo ação municipal de envergadura de plantio de árvores que tenham alterado essa realidade.
“O que falta é atualizar esses dados junto ao IBGE. Itabira não é uma cidade sem arborização”, sustenta Lott, para quem basta olhar as fotos aéreas da cidade para verificar o quanto se tem de árvores no perímetro urbano.
De fato, existem ainda muitos quintais na cidade, mas não se observa o “verde” nas vias urbanas, mesmo nos locais propícios à arborização, que poderiam virar ilhas verdes em meio ao asfalto e ao concreto armado das construções verticais que aumentaram nos últimos anos na proporção inversa da arborização.
“Não estão incluídas nesses dados do IBGE as unidades de conservação urbanas, como a Mata do Intelecto, os parques Belacamp. Água Santa que são áreas verdes urbanas”, exemplifica o secretário de Meio Ambiente, em recente entrevista a este site. “Infelizmente ainda não temos em Itabira um sistema de informações com esses dados”, lamenta.
Novos loteamentos

Ainda segundo Denes Lott, com as atuais legislações urbanísticas e ambientais, novos loteamentos para serem aprovados em Itabira são obrigados, por força de condicionantes, a arborizar as ruas e as avenidas.
Isso teria, segundo ele, alterado esse índice de área verde por habitante em Itabira, melhorando a sua posição no ranking nacional de cidades arborizadas.
De fato, essa exigência consta da legislação municipal, mas não é o que se observa na maioria dos novos bairros. Se ocorreram plantios de espécies arbóreas pelos empreendedores, não se observa o desenvolvimento e a manutenção dessas espécies.
De nada adianta plantar se não houver manutenção e reposição das perdas. Com isso, as mudas acabam sucumbindo pelas queimadas e por animais soltos, que estão por quase toda a cidade. E mesmo por vandalismo de moradores que não têm consciência da importância da árvore para a melhoria da qualidade ambiental e de vida.
Após a aprovação do loteamento, a responsabilidade pela manutenção e pelo replantio das espécies suprimidas passa a ser da Prefeitura, mas isso não tem ocorrido. É só percorrer os novos bairros para constatar essa triste realidade.
Percentual ideal

De acordo com recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS), no perímetro urbano deve-se ter um mínimo de 12 metros quadrados de área verde por habitante, sendo que o índice ideal é de 36 metros quadrados para cada pessoa.
Estocolmo, capital da Suécia, umas das cidades mais arborizadas do mundo, dispõe de 86 metros quadrados por habitante.
O secretário de Meio Ambiente não soube dizer qual é esse percentual na cidade de Itabira. Mas ele assegura o objetivo do manual de arborização é voltar a plantar na cidade com técnica e manejo adequado para reverter essa situação – e chegar próximo do índice ideal recomendado pela OMS.
Manejo adequado

Ainda de acordo com Lott, não vai sair plantando árvores a esmo, como foi feito no passado com o projeto Verde Novo, da Vale, que prometeu plantar 1 milhão de árvores nativas na cidade – e que redundou em um enorme fracasso.
Para melhorar o índice de arborização em Itabira, segundo o agrônomo Júlio Pessoa, que integra a equipe técnica da SMA, novos plantios devem ocorrer em áreas verdes e em ruas e avenidas que tiverem passeios mais largos.
Para isso, os passeios devem ter espaços suficientes para dispor de arborização com espécies apropriadas, sem que impeçam a passagem de pessoas, inclusive de cadeirantes. E o plantio deve ocorrer pelo lado oposto da fiação elétrica, exemplifica.
Com um plano de arborização adequado, a proposta deve ser criar hortos florestais em áreas verdes, naquelas que não foram leiloadas pela administração passada. Com isso, espera-se que Itabira atinja o percentual de áreas verdes por habitante preconizada pela OMS.
Mas enquanto isso não acontece, Itabira se mantém como uma das cidades do país menos arborizadas no perímetro urbano, lembrando que os quintais remanescentes do Mato Dentro não entram nessa estatística do IBGE.