Inverno tem início em Itabira com o céu carregado de fumaça de queimadas nesta manhã de sexta-feira, prenúncio de que dias piores virão

Fotos: Reprodução

Nesta sexta-feira (21), segundo dia de inverno, Itabira amanhece com o céu encoberto de fumaça, tornando o ar ainda mais rarefeito com a baixa umidade – e irrespirável para muitos.

A reportagem tentou contato com 4o Pelotão de Bombeiros Militar para indagar se havia algum incêndio florestal no município, mas as sucessivas chamadas não foram completadas, por certo toda a guarnição devia estar ausente, no atendimento de alguma ocorrência.

Procurado pela reportagem, o secretário municipal de Meio Ambiente, Denes Lott, não confirma a existência de incêndio florestal no município, descartando de pronto a notícia de que algum sinistro tenha ocorrido nas proximidades da Mata do Bispo/Parque Natural Municipal Ribeirão de São José.

“Não temos registro de incêndio florestal no município de Itabira. Pode ser que a fumaça tenha vindo de algum incêndio em município vizinho”, disse ele.

“Aqui na cidade temos os registros de queimadas no bairro Bela Vista e em outras localidades, mas já foram debeladas”, conta Denes Lott, que disse ter checado pessoalmente as condições atmosféricas na cidade, subindo para o Alto do Pinheiro. “Agora à tarde, o céu em Itabira está limpo, sem fumaça”, assegurou.

Fumaça inalável

Com a fumaça encobrindo toda a cidade pela manhã desta sexta-feira, o ar estava irrespirável

Independentemente de onde tenha vindo a fumaça que encobriu Itabira na manhã desta sexta-feira, é certo que o município de Itabira, mais ou menos que outros municípios brasileiros, tem sofrido bastante com incêndios florestais, como os ocorridos na Serra dos Doze/Pontal, no Parque Estadual Mata do Limoeiro, em Ipoema – e também na região da Serra dos Alves.

As queimadas proliferam por toda cidade, uma vez que esse meio arcaico e criminoso tem sido usado por parte da população itabirana para limpeza de lotes vagos. São também provocadas por vândalos, os piromaníacos que sentem prazer ao ver a mata pegar fogo, mesmo que às custas de tornar o ar ainda mais irrespirável.

Acometimentos

A fumaça encobria a cidade nesta sexta-feira pela manhã de norte a sul, leste-oeste: depois dissipou-se com o vento, mas não sem antes fazer estragos nas vias respiratorias do itabirano

Quem mais sofre as consequências com esse ar rarefeito, e coberto por fumaça, é a população acometida por doenças respiratórias (asma, rinite, sinusite), agravadas também pelo tempo frio e pela poeira contendo minério de ferro e sílica, proveniente das minas da Vale.

Com o organismo debilitado, essas pessoas se tornam mais sucessíveis às infecções virais, que podem lesionar o trato respiratório, criando-se condições propícias para as infecções bacterianas que podem causar doenças mais graves, como é a pneumonia.

Além de dificultar a respiração, a fumaça contém materiais particulados, que são partículas finas e ultrafinas, que podem percorrer o sistema respiratório e atingir a corrente sanguínea.

As consequências, nesse caso, são mais inflamações que podem acarretar complicações cardíacas e pulmonares. Além disso, o monóxido de carbono (CO) presente na fumaça se liga à hemoglobina, o que dificulta a oxigenação das células e dos tecidos do corpo.

Danos ambientais

É difícil encontrar um lote vago em Itabira que não tenha passado por queimada, uma prática criminosa que precisa ser punida na forma da lei

Para o meio ambiente os danos são igualmente enormes. Além de sucumbir com a vegetação, as queimadas empobrecem o solo,  matam os micro-organismos que tornam o solo fértil, ressecando-o e provocando erosão, com o consequente assoreamento de cursos d’água.

Tudo isso, além de impactar a biodiversidade, com se viu no incêndio da Mata do Limoeiro, com a morte de muitos animais silvestres, afetando a fauna e a flora.

As queimadas e os incêndios florestais provocam também a emissão de gases poluentes, como o dióxido de carbono (CO₂) na atmosfera, o que contribui para o aquecimento global e as mudanças climáticas, com as trágicas mortes e destruições com os eventos extremos.

Campanha educativa urgente

Outro ponto da cidade tomado pela fumaça

A Prefeitura de Itabira, por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, precisa promover urgente campanha de esclarecimento por todos os meios disponíveis (outdoors, busdoors, rádios, sites, jornais, revistas).

Para isso, deve também envolver as escolas, igrejas e associações comunitárias, mostrando os malefícios da fumaça e das partículas em suspensão, assim como a legislação aplicável que considera crime provocar incêndios e queimadas não autorizadas.

Combinação perigosa

Sem isso, pode-se esperar pelo agravamento da saúde da população, uma forte pressão na rede de saúde, com o aumento da procura por atendimento nos hospitais e postos de saúde na cidade.

Combinação imperfeita que vem por aí: fumaça de queimadas e partículas de minério em suspensãoSituação epidemiológica que certamente será agravada assim que ventos fortes, vindos de todas as direções, começarem a soprar a poeira carregada de partículas de minério de ferro e sílica para a cidade, penetrando nas vias respiratórias do itabirano, com o agravamento da poluição a partir de agosto.

Definitivamente, não tem sido fácil respirar em Itabira, que já foi do Mato Dentro – e hoje é uma das cidades menos arborizadas do país, segundo o IBGE, sem dispor de hortos florestais e ilhas verdes nos bairros.

As autoridades municipais precisam tomar urgentes providências não somente com campanhas educativas, mas também punindo exemplarmente os que colocam fogo em lotes para fazer “limpeza”, poluindo o ar que todos respiram, tenham ou não dificuldades adcionais.

 

 

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