De mãos dadas, não nos dispersemos, é o que propõe o 4ª Arte em parceria com a comunidade itabirana
Mauro Andrade Moura
O encontro marcado de sábado (1), na praça José Máximo Resende, no bairro Campestre, mostrou que ainda há esperança de se construir um país melhor, mesmo com as nuvens de fumaça da obscuridade que provocaram as chamas que consumiram o nosso Museu Nacional do Rio de Janeiro, na noite desse trágico domingo.
São as perdas incomparáveis que se espalham por todo o país e que a juventude participativa e consciente de seus direitos – que não podem sofrer mais retrocessos – tem o relevante papel de recuperar, ainda que tardia.
Na busca do tempo perdido, há se persistir na construção de uma sociedade fraterna, na qual possam conviver democraticamente os desiguais, com respeito mútuo, sem misoginia e tolerância zero com todas as formas de preconceitos.
Em Itabira, a desprender dos jovens reunidos na pracinha do Campestre, esse sonho está vivo. Foi um encontro de paz, de gente feliz que valoriza a nossa cultura – e que admite a diversidade como inerente ao ser humano.
Foi esse sentimento que prevaleceu na programação do 4ª Arte Especial – Celebrando a Diversidade, em parceria com o coletivo de artesãos e artistas itabiranos Tô na Praça e com os Engenheiros Sem Fronteiras, núcleo de Itabira.
O 4ª Arte é um programa de extensão da Universidade Federal de Itajubá, campus de Itabira. Nesse grande encontro, alunos e professores da Unifei estiveram juntos numa só alegria com a comunidade itabirana.
E foi uma tarde que se estendeu até à noite com muita gente feliz, convivendo num clima de paz, harmonia e respeito.
O que se observou foi que em Itabira, pelo menos na pracinha do Campestre, não existe xenofobia, que é a aversão ao estrangeiro, um sentimento comum entre conhecidos nacionalistas advindos – e sobreviventes – do eixo do mal nazifascista. E que ainda, infelizmente, sobrevivem e se espalham por toda parte como ervas daninhas.
No desenrolar da programação do 4ª Arte Especial ocorreu uma interação saudável dos “nativos” (se assim podemos chamar os itabiranos) com os “alunos e professores estrangeiros”.
Afinal, somos uma grande nação aberta para o mundo e para as pessoas que aqui vêm morar e construir os seus destinos.
E que certamente ajudam Itabira a sair da mesmice, do marasmo da Cidadezinha Qualquer, ao criar alternativas, sobretudo educativas e culturais, para que a derrota não se torne inevitável. E incomparável.
Foi sem dúvida, repito pra frisar, uma tarde e uma noite de festa. Houve de tudo, ou de quase tudo, um pouco: oficinas de slackline, yoga, bioconstrução, amigurumi (crochê) para adultos.
Para o público infantil, destaque para a oficina de cofrinhos, porta-retratos, máscaras e uma gincana (organizada pela Atlética da Unifei).
As apresentações musicais foram espetáculos que agitaram jovens e os mais velhos que sabem conviver – e bem – com a juventude, sem preconceitos.
A batida forte da da bateria Calangodum, formada por jovens universitários, Marcos Macarra e as bandas Rivotrio, além da discotecagem com a Casa de Jah e Camila Borges foram as atrações para a música só parar de tocar por um pequeno intervalo.
Só o tempo necessário para o padre celebrar a santa missa na simpática e agora bem iluminada igrejinha do Campestre.
Houve ainda batalha de poesia, com a temática abordando a desigualdade social, racismo, violência policial, homofobia, machismo, intolerância religiosa. Todos condenando os atos discriminatórios que precisam ser eliminados da convivência social, por uma sociedade mais justa, feliz e fraterna.
Nessa batalha, sem balas, vence a paz entre os iguais desiguais
Houve batalha de poesia autoral. Os participantes usaram apenas seu corpo e sua voz. Nessa poética batalha, sem balas, vencem aqueles que acreditam e se esforçam para manter a paz entre os iguais desiguais.
“A nossa proposta é contribuir para humanizar a escola de engenharia e aproximar a Unifei de Itabira”, resume o professor João Lucas da Silva, um dos coordenadores do coletivo 4ª Arte.
Destaque também para a leitura do manifesto do coletivo, que condena todas as diferentes formas de discriminação e preconceito. É assim que se trava o bom combate para isolar o sentimento de ódio e aversão às diferenças que vem sendo perigosamente propagandeado em nossa sociedade na medida em que se aproximam as eleições.
“Qualquer cidadão, minimamente atento, consegue identificar elementos de uma onda retrógrada que atinge nossa sociedade. Nós do coletivo 4ª Arte escolhemos um caminho: a transformação a partir da arte. Temos uma bandeira? Não, temos várias: somos contra qualquer tipo de intolerância, por isso somos feministas e lutamos contra a LGBTfobia, o racismo, a intolerância religiosa, o preconceito social, a xenofobia e qualquer sentimento que nos separe como humanos.”
As consequências de encontros como esse de sábado na pracinha do Campestre são o enriquecimento cultural, o sentimento de pertencimento, de convivência democrática e participativa em sociedade.
Que venham outros encontros marcados entre docentes e discentes da Unifei. Essa bonita festa só faz bem para todos, para Itabira, para professores e estudantes. E para a comunidade itabirana.
Unidos somos fortes e podemos transformar a cidade e o país, mesmo com todas as forças retrógradas e reacionárias agindo em sentido contrário.
As nuvens cinzentas de um passado autoritário, e que ainda insistem em pairar pelo azul anil desse país grande, não passarão. “O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas”, já propôs o nosso poeta maior.
Que assim seja.