Crítica à Vale na primeira edição de O Passarela resulta em demissão de Feliciano Brugnara, mas ele resiste e mantém o jornal por mais de meio século

Fotos: Carlos Cruz/
Reprodução

O contador e jornalista Feliciano de Almeida Brugnara, decano da imprensa itabirana, conta como Itabira teve perdas incomparáveis com o regime militar por ser governada pela oposição, no triste período da ditadura militar (1964-85). Perdeu investimentos do governo estadual e da União, pois diziam que o município não precisava, por ter a Vale.

O seu jornal, O Passarela, é o mais antigo hebdomadário itabirano, com mais de meio século de existência, completado em junho de 2021. Ainda hoje, a publicação segue o dístico: “Um jornal que propugna pelo progresso de Itabira”.

No início da publicação, havia muitos sócios e colaboradores, mas hoje Felício divide a sociedade apenas com sua esposa, Wilma de Lellis de Almeida. Na produção editorial, o jornal conta com colaboradores fixos e esporádicos que ajudam a compô-lo. O Passarela já foi quinzenal, mas atualmente é mensal.

O tempo passou devagar em Itabira, como testemunha Felício Brugnara. Nesta entrevista, ele revela como a cidade foi perdendo seus direitos ao longo do tempo, enquanto muitos observavam a vida passar devagar, acreditando que a mineração era eterna. “Até hoje há quem acredite nisso, que o minério nunca vai acabar”, disse o entrevistado.

Felício conta também como era difícil fazer jornalismo na época da ditadura militar o que incluía a vigilância que beirava à censura por parte da então estatal Companhia Vale do Rio Doce. Desde 1942 até sua venda a preço de banana em 6 de maio de 1997, a Vale representava a presença onipotente do Estado na cidade.

Feliciano sofreu retaliação logo na primeira edição de O Passarela, em 1971, ao criticar a poderosa Companhia Vale do Rio Doce durante o período mais virulento da ditadura. Como consequência, ele e seu sócio no jornal, Marcos Gabiroba (atualmente dono da rádio Pontal), foram sumariamente demitidos da então estatal.

Embora não tenham sido preso durante a ditadura, os jornalistas de O Passarela foram chamados algumas vezes para dar “explicações” ao Departamento de Ordem Política e Social (Dops), o famigerado órgão de repressão, extinto em 1983 com o início da redemocratização do país.

Mesmo sendo da oposição e eleito vereador (“não remunerado”, ele frisa, o prudente edil e jornalista tomava muito cuidado para não “pegar pesado com os militares no poder”.

Confira na entrevista a seguir. Boa leitura!

(Carlos Cruz)

Me diz seu nome completo e idade.

Feliciano de Almeida Brugnara. Eu já passei dos 80.

Antes de virar jornalista ao fundar o jornal O Passarela, há mais de meio século, você foi contador?

Sim. Eu trabalhava na Vale, onde fiquei por nove anos e três meses. Entrei em 1962, saí em 1971.

Você foi demitido por causa do jornal?

Fomos, Gabiroba (Marcos, dono da rádio Pontal) e eu, logo depois de termos fundado O Passarela, em maio de 1971. Na primeira edição, criticamos a Vale por ter cortado as gratificações que concedia nos finais de ano, que se somavam aos décimos terceiros salários. Fizemos uma dura crítica a esse corte e a empresa não gostou.

Para compensar essa perda, ela ofereceu um churrasco de fim de ano aos empregados. Foi quando publicamos que muitos empregados não queriam churrasco, mas o dinheiro para saldar os compromissos que haviam sido feitos para pagar com essa gratificação no fim do ano.

E como foi essa demissão, foi uma reação imediata à crítica?

Falício conta como foi demitido da Vale, por criticar a mineradora: “mantivemos o que escrevemos, sem tirar uma vírgula”

A Vale nos interceptou no trabalho, por meio de uma correspondência interna, perguntando se a gente concordava ou não com a crítica publicada no jornal. Procuramos o advogado Ricardo Sampaio e ele nos disse:

“Agora vocês estão no mato sem cachorro. Vocês assumiram a briga que é do jornal. Se vocês confirmarem, vão ser demitidos como homens honrados, se desmentirem serão também demitidos, mas como moleques.” Seguimos a primeira recomendação, não retiramos nenhuma vírgula do que foi publicado. A empresa tomou a medida que achou conveniente e nos demitiu.

Foi em uma conjuntura de muita turbulência na política nacional e também em Itabira com o suicídio de Daniel, destruição da catedral, o diabo a quatro andava acontecendo em Itabira.

Sim, veio a política municipal em 1972, quando apoiamos Virgílio Gazire para prefeito, eleito pelo MDB, que era o único partido de oposição permitido pelo regime militar. Fui convidado por Chiquinho “Bicudo” para ajudá-lo a criar o diretório do partido em Itabira.

Não me filiei, mas o ajudei na organização do MDB, com ajuda de Jorge Ferraz (ex-deputado federal, que foi por muitos anos majoritário em Itabira). Eu já estava com o escritório de contabilidade montado e era lá que aconteciam as nossas reuniões.

Com o diretório organizado, Chiquinho, que era muito inteligente e bom de lábia, convenceu Virgílio a sair da Arena (partido situacionista, de apoio à ditadura militar) para ele ser o nosso candidato pelo MDB. E vencemos a primeira eleição de uma série em Itabira.

Edição de O Passarela, de novembro de 1982, com manchete para a segunda eleição de Virgílio Gazire

Foi com esse apoio que O Passarela ganhou prestígio com Virgílio, assegurando a continuidade do jornal até os dias de hoje? Conte como foi isso.

Com a campanha eleitoral, nós passamos a ter mais contato com Virgílio, contamos as nossas dificuldades para continuar editando O Passarela. Ele nos prometeu apoio caso fosse eleito. “Podem estar certos de que vamos prestigiar o seu jornal”, Virgílio prometeu e cumpriu.

Ele me convidou para participar do governo, mas não aceitei. O Marcos foi trabalhar na Contabilidade da Prefeitura. Sem o apoio da Prefeitura, o jornal não sobreviveria só com a publicidade do comércio local. Muitos comerciantes nos apoiavam, mas eram poucos e insuficientes para manter os custos com a edição, pagamento da gráfica e distribuição do jornal.

Você, antes de virar jornalista, foi vereador em Itabira. Como foi essa experiência de edil itabirano?

Fui vereador na época de Daniel, de 1967 a 1970, pela Arena, ainda não havia o MDB em Itabira e os antigos partidos foram extintos. Naquela época, vereador não era remunerado; trabalhava pelo gosto de ver Itabira melhorar. Muitas vezes, gastávamos dos nossos próprios bolsos para ajudar os mais necessitados que procuravam ajuda.

Você fazia oposição a Daniel? Dizem que ele sofreu muito com a oposição a tal ponto que acabou se suicidando. Fale sobre esse momento conturbado na história de Itabira.

Eu apoiava Daniel, um homem idealista, muito inteligente. Foi de fato um momento muito conturbado e havia muito sensacionalismo e denúncias de corrupção não comprovadas contra ele. O seu gabinete era aberto, atendia a todos que o procuravam, sempre entusiasmado com os projetos para o desenvolvimento de Itabira.

Não se provou nada contra ele, mas as denúncias o deixaram muito perturbado; ele se sentia ofendido em sua honra. Mas quem mais o perturbou não foi a oposição, mas gente que antes o apoiava. Ele não suportou a pressão e se suicidou em 19 de setembro de 1970.

Como era a sua atuação na Câmara?

Eu apoiava Daniel naquilo que trazia desenvolvimento para Itabira; era uma atuação muito desinteressada de todos os vereadores. Não havia salários e nem essa mordomia que tem hoje com os lanches servidos fartamente aos vereadores.

Benedito Moreira era o presidente e servia cafezinho. Ele dizia antes da reunião: ‘vamos fazer uma vaquinha para comprar pão e salame para o nosso lanche’. E assim acontecia. Outras vezes, Luiz Menezes, que era também vereador, trazia laranja de sua chácara no posto agropecuário, quando tínhamos o suco para acompanhar o pão com salame.

Na edição de maio de 1982, O Passarela anuncia a inauguração do Centro Cultural de Itabira

Como surgiram as denúncias contra Daniel? Foram apuradas?

Foi aberto um inquérito militar para apurar denúncias de corrupção, mas não me lembro delas terem partido dos vereadores que faziam oposição a ele, que eram José Patrocínio Martins da Costa, Luiz Gonzaga de Macedo, Abílio Couto, Renato Sampaio, José Moura. Acho que ele foi traído mesmo por vereadores que eram da situação, descontentes por não terem algum pedido atendido por ele.

Vieram então agentes do Dops (o temível departamento de investigações do regime militar), que investigou também denúncias de que estaria havendo desvio de recursos do diretório de estudantes, arrecadados com as confecções das carteiras estudantis. Mas nada foi comprovado. E o inquérito contra Daniel foi arquivado com a sua morte.

A ditadura, assim como fazem ainda hoje muitos políticos e jornalistas de direita, fazia uso de denúncias de corrupção para desgastar seus opositores, quase sempre sem provas, coisa de udenistas.

Sim, fizeram isso também contra o ex-prefeito Wilson Soares (já falecido), que na ocasião da revolução (leia-se, golpe de Estado) era também presidente do Sindicato Metabase e foi da mesma forma que Daniel investigado por denúncia de corrupção.

Ele teve que se afastar da Prefeitura e assumiu o vice José Machado Rosa (também já falecido). Como nada foi comprovado contra Wilson, ele retornou à prefeitura, ficando até concluir o seu mandato.

Nessa ocasião, já com o jornal O Passarela circulando, fomos chamados a depor no Dops, em Belo Horizonte. Chegando lá, nos ofereceram cafezinho, suco e o delegado veio falando: ‘sei que vocês são pessoas idealistas, mas é preciso mais atenção com o que escrevem. Cuidado que o sistema agora está meio perigoso, não fiquem assim escrevendo qualquer coisa, pensem bem nas consequências’, disse ele nos intimidando.

E daí ficou instituída censura prévia no jornal, na verdade, uma autocensura. Quando a Catedral foi destruída pela incúria das autoridades eclesiais e municipais, já tinha O Passarela?

Reportagem em dezembro de 1970, na revista O Cruzeiro, narra os graves acontecimentos que culminaram com a perda de um patrimônio histórico e religioso incomparável (Fotos: O Cruzeiro – Acervo: ABI – Pesq.: Cristina Silveira)

Ainda não. Aliás, Itabira ficou sem jornais de 1967, quando O Cometa, em sua segunda versão, havia fechado, até 1971, quando resolvemos lançar O Passarela. De modo que a queda (leia-se, destruição) da Catedral e a morte de Daniel foram episódios marcantes que não tiveram cobertura local, mas deram muita repercussão nacional.

Diziam que o capeta andava solto em Itabira

Pois é, teve isso também. Essas histórias a gente via publicadas em veículos de comunicação de fora. Depois que lançamos O Passarela, o Pena lançou o Sepulvo, que era um serviço de publicação volante, divulgava o comércio e também as mortes que ocorriam na cidade. Era o famoso Sepulvo informa, tendo uma música fúnebre como trilha sonora, e todo mundo ficava atento para saber quem tinha morrido.

Voltando à Vale, era famosa em seu jornal a coluna Marreta na Bigorna, tendo a mineradora como principal alvo. Como foi que a Vale passou a anunciar no jornal?

Publicávamos críticas à Vale também no editorial, depois que fomos demitidos passamos a criticar mais veementemente, chamando-a de Zelosa, mas com os seus interesses e não com a cidade, endossando o que dizia Aníbal Moura (personagem itabirano que, em vida, fez firme oposição à Vale).

O tempo foi mudando e a empresa nos procurou, assim que chegou à presidência o Fernando Roquete Reis, que era um homem da imprensa e chamou para a sua assessoria o Alberico de Souza Cruz, que era repórter da Globo.

Alberico nos procurou dizendo que a Vale tinha interesse em divulgar as ações positivas que fazia na cidade em nosso jornal, que, nessa época, já não estava sozinho na imprensa itabirana, tinha também o Folha de Itabira, do Zé Brás Tôrres Lage, tendo sido eleito depois vereador.

Reivindicação de elevado interligando os bairros Pará e Alto Pereira: projeto de Daniel Grisolia não foi executado por ser considrado obra faraônica

Em troca, a Vale pediu que vocês parassem de criticá-la?

Não foi essa a conversa. Alberico pediu que fosse apresentado o preço a cobrar por uma e meia página no jornal, que era para publicar notícias favoráveis à empresa nesse espaço. Deixei claro para ele que isso não ia impedir o jornal de continuar criticando o que a empresa fizesse de errado. Ele respondeu que não estava comprando o nosso silêncio. Foi assim que a Vale começou a anunciar no O Passarela e na Folha de Itabira.

Hoje a Vale continua anunciando na mídia de Itabira esporadicamente e seletivamente. Este site, por exemplo, no ano passado foi expurgado de sua mídia paga. O Passarela foi também?

Há muito tempo que não temos patrocínio da Vale e isso é uma grande perda, pois ela paga muito acima do que é pago no mercado local. Para se ter ideia, naquela ocasião, o que ela passou a nos pagar correspondia a mais do dobro do que era pago pela Prefeitura e anunciava em todas as nossas edições quinzenais.

Fale do esforço e das dificuldades para se ter uma emissora de rádio em Itabira.

Durante a ditadura, os militares impediram que Itabira tivesse uma emissora de rádio. Devido à presença da Vale, a cidade era considerada de importância estratégica para a segurança nacional

É uma longa história, mas vou resumir. Quem primeiro pensou em instalar uma rádio em Itabira foi Nazareno Bragança (comerciante itabirano, já falecido) e Ceomar Santos (falecido recentemente), que ia se chamar Rádio Educadora de Itabira.

Mas nunca saiu. Pedia autorização e era negada. Teve também o grupo da Arena, com Bebé Magalhães e João Bragança, mas eles também nada conseguiram, nem para a situação o governo estava concedendo. Devido à presença da Vale, a cidade era considerada de importância estratégica para a segurança nacional.

Quando saímos com o jornal, Marcos Gabiroba e eu entramos com o pedido de autorização. No início, Luiz Menezes (ex-prefeito) chegou a participar da sociedade, mas depois saiu, acho que por sermos da oposição, ele achou que não seria autorizado, como de fato não foi. Nesse ínterim, perdemos a concessão para a Rádio Notícias Brasileira, do grupo Vigorelli, de São Paulo, que caducou e nunca se instalou em Itabira.

Luiz Menezes passou para o PDS, sucessor da Arena, e com apoio do deputado Maurício Campos, majoritário em Itabira por muitos anos, em 1984, ele obteve a autorização para abrir a rádio Itabira-AM, a primeira da cidade.

Inauguração do Parque de Exposições foi manchete na edição de julho de 1984

Foi depois dessa concessão que ele se elegeu prefeito de Itabira, escrachando com o governo de Zé Maurício (1983-88).

Isso mesmo. Depois disso, nos associamos, Marcos e eu, com o João Bragança e Délio Bragança. Foi em 1982, na primeira eleição direta para governador, quando Tancredo do PMDB derrotou o candidato do regime militar, que foi Elizeu Resende. João era um trem de doido para trabalhar, ele conseguia tudo o que queria. Mas dessa vez não conseguiu, não foi dessa vez que conseguimos abrir a rádio.

Só conseguimos autorização do Dentel (Departamento Nacional de Telecomunicações, atual Agência Nacional de Telecomunicações), com Sarney na presidência, quando obtivemos autorização para abrir a rádio Pontal-FM. Nisso, tivemos o apoio do deputado Zé Geraldo Ribeiro (PMDB), que tinha bom trânsito no Planalto, sobretudo com Roseana Sarney (filha do então presidente) – e isso facilitou bastante.

Quem também nos ajudou foi o publicitário Ulisses Nascimento, da agência Republicar, que foi quem nos apresentou ao deputado Zé Ribeiro. Ele pediu o número do nosso pedido protocolado no Dentel e, daí a 30 dias, ele nos ligou, contando: ‘Vocês ganharam a concessão’. Aí, quando o Cácio (Guerra) soube que nós ganhamos, ele ficou bravo e foi atrás de Maurício Campos. Pouco tempo depois, ele abriu a rádio Caraça FM.

A rádio Caraça hoje pertence ao empresário Emerson “Gui” de Alvarenga Barbosa. Você ainda é sócio da rádio Pontal?

Não, vendi a minha parte para o grupo de Li (Guerra, ex-prefeito entre 1993-96). Como Li não conseguiu eleger o seu sucessor, Leopoldo foi um candidato muito pesado, eles acabaram vendendo a parte deles para o Marcos, que hoje é o único dono. Para instalar a emissora, a Vale nos apoiou, depois de muita dificuldade, doando a torre para a rádio funcionar, mas aí já foi com o superintendente Ricardo Dequech.

Diziam naquela época que Itabira tinha um prefeito de direito que era o Li e o prefeito de fato, que era o Dequech.

Ricardo Dequech, ex-superintendente da Vale (Foto: Marcelo Prates/acervo do Cometa)

Foi mais ou menos isso mesmo. Dequech preparou a Vale para a privatização, doou uma porção de rabo de foguete para a Prefeitura, inclusive o hospital Carlos Chagas, que era bancado por ela para atender aos seus empregados.

Dequech era um bom marqueteiro, gostava de se relacionar com a imprensa, inclusive oferecendo homéricos almoços regados a uísque na Fazenda Conceição.

Isso mesmo, foi em um desses almoços que conseguimos autorização para instalar a torre para colocar a rádio Pontal em funcionamento. Era entre um uísque e outro que ele ia ajeitando as coisas para todo mundo da imprensa falar bem da Vale.

E adicionalmente, com a farta contribuição por meio dos publieditoriais regiamente bem pagos.

Nesses almoços, Dequech deixava todo mundo feliz e alegre, pelo uísque e também pelo apoio que ele dava à imprensa itabirana. Ele gostava de saber qual era a opinião dos jornalistas sobre a Vale e todo mundo, claro, elogiava, salvo um ou outro que criticava um pouco, mas nada que comprometesse a continuidade do relacionamento.

Eu dizia que a Vale era importante para Itabira, mas que a cidade foi quem tornou a empresa grande. Ele concordava e dizia que ia ajudar a trazer indústrias para Itabira, para garantir o futuro da cidade sem a mineração.

Dequech até tentou trazer uma usina de pelotização da Vale para Itabira e depois uma fábrica de MDF, do grupo Eucatex, do Maluf, ex-governador de São Paulo. Mas, como sempre, deu em nada, só promessas.

Itabira sempre perdeu muito, até o governo do estado não investia no município, pois achava que não precisava, por ter a Vale. Eu sempre defendi no jornal que Itabira deveria constituir um Fundo de Reserva, pegar parte dos impostos e dos royalties da mineração e depositar nesse fundo.

A ideia era ter recurso até mesmo para se montar uma grande indústria em Itabira, algo de grande porte, para garantir os empregos e impostos depois que a mineração chegar ao fim.

Anúncio do fim de minério em Itabira é recorrente, com o fantasma da exaustão assustando moradores ainda nos dias atuais

Marco Antônio Lage está falando nisso agora, que ele chama de Fundo Soberano, conforme ele anunciou em coletiva de imprensa e na Câmara Municipal.

Sim, antes tarde do que nunca. Só não sei se haverá mais tempo, Itabira está muito atrasada na diversificação da economia, todos os prefeitos falam que vão ter políticas para atrair indústrias, mas nada disso até agora aconteceu.

O que temos no distrito industrial, a maioria é de empresas que prestam serviços à Vale, portanto são também dependentes da mineração, como continua sendo Itabira, que precisa de uma indústria pesada para substituir a mineração.

A Vale deve isso para Itabira. Eliezer Batista levou uma indústria de ferro silício para Nova Era, Itabira chiou e ele trouxe a usina de ferro-gusa para o distrito, que não se compara em porte e valor agregado com a usina de Nova Era.

Promessa de duplicação da rodovia estadual que liga Itabira à BR262/381 ainda não saiu do papel

Antes havia a desculpa de que não havia água disponível como gargalo para atrair novas indústrias, uma vez que a Vale praticamente monopoliza as outorgas. Com a água do rio Tanque não se terá mais essa desculpa. Você acha que Marco Antônio vai conseguir atrair empresas para Itabira, promessa ainda não cumprida desde o seu primeiro mandato?

Vamos ver. Mas, para isso, ele vai ter que abrir um novo distrito industrial, pois o que temos hoje está ocupado com as empresas que prestam serviços à Vale, majoritariamente, e o outro ficou para Unifei.

A questão da água também é uma luta antiga de Itabira, mas não sei se a água do rio Tanque vai ser suficiente para abastecer a cidade e servir de atrativo para uma grande indústria e ou mesmo para pequenas e médias empresas. Tenho minhas dúvidas. Mas sem uma grande participação da Vale, com aporte de capital vultoso, não vejo como isso vai acontecer.

Felício Brugnara ainda preenche boletos bancários e guias de pagamento na velha Olivetti, mas edita o jornal pelo computador

O que você acha que vai ser de Itabira quando o minério acabar e as luzes da Vale se apagarem de vez, sem ter o que processar nas plantas de concentração? Vai virar uma cidade fantasma?

Não, fantasma eu acho que não. Ela vai continuar existindo, sua população com certeza vai diminuir. Quantas cidades sobrevivem e se desenvolveram sem a mineração? Temos muitos exemplos, Itabira também pode dar a volta por cima e encontrar outros caminhos.

Sem os royalties e o ICMS, que a Vale não paga quando exporta, mas há compensação pelo Estado, a Prefeitura não terá como pagar os salários dos servidores e nem para recolher o lixo na cidade.

Isso é verdade, mas não creio que chegaremos a esse ponto. As novas gerações são mais inteligentes e, por certo, vão descobrir novos caminhos que as gerações passadas não descobriram, apesar de todas advertências.

Eu acredito na juventude, que é muito criativa. A mentalidade é outra, inovadora e empreendedora. Eu acredito nisso. Acabar, Itabira não acaba.

 

 

 

 

Posts Similares

2 Comentários

  1. Brugnara é meu amigo de mais de 40 anos. Algumas vezes publiquei matérias em seu jornal. Ele é uma pessoa séria e competente. Persistente e batalhador sobreviveu as todas os intempéries e registra até hoje fatos importantes da nossa história. Sou sua admiradora inconteste e desejo que ele continue abençoado e com muita saúde para continuar na carreira que tanto ama. Parabéns, Brugnara! As grandes decisões estão sempre presentes na vida e no coração de grandes homens. Receba o meu abraço e minha admiração, caro amigo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *