Com seca prolongada, região abastecida pela ETA Gatos é a que mais sofre com a falta de água em Itabira, mesmo com o reforço emergencial do rio Tanque
População da região dos bairros Campestre/Bela Vista/ Nova Vista é a que mais vem sofrendo com a escassez hídrica na cidade
Fotos: Carlos Cruz
Assim como vem ocorrendo em diversas partes do país, em decorrência da estiagem severa e prolongada, tem faltado água nas torneiras de muitas residências. Em Itabira, que está há seis meses sem chuva, a situação se torna ainda mais grave, uma vez que as principais outorgas estão com a mineração, ficando as sobras para o consumo da população.
Na cidade, a única região que não tem sido afetada drasticamente pela falta desse precioso insumo é a que é abastecida pelas Três Fontes, com água captada de poços profundos, diretamente do aquífero Piracicaba. Já a Vale dispõe de 1,1mil litros por segundo para as suas atividades minerárias só com o que capta do aquífero Cauê, fora as fontes superficiais.
Era desse aquífero Cauê que viria o prometido “legado” para abastecer toda a cidade e ainda atrair novas indústrias, mas já não se fala mais nisso, tornando-se mais uma “perda incomparável” depois que a Vale decidiu depositar rejeitos e material estéril nas cavas exauridas das Minas do Meio, soterrando o que seria esse recurso subterrâneo.
Foi com essa promessa que a mineradora atrasou, em mais de 20 anos a transposição de água do rio Tanque, com a conivência e complacência dos prefeitos e vereadores que, durante todo esse tempo, nada fizeram até então para reverter esse quadro de escassez hídrica na cidade.
Situação essa que na presente conjuntura de mudanças climáticas chega ao extremo, faltando água até mesmo para a “gulosa” que minera Itabira há mais de 82 anos, depois de acabar com as “fontes do Pará”, como também do Borrachudo e Camarinha.
Resultado, as sobras que ficaram para Itabira, os mananciais da Pureza e o córrego Pai João, que abastece a Estação de Tratamento de Água (ETA) Gatos, pelo fato de os governos anteriores, o atual também, não terem investidos na proteção de nascentes e sem recompor as matas ciliares, vêm ano a ano minguando – e hoje praticamente secaram.
A situação, segundo o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) está mais crítico atualmente na região abastecida pela ETA Gatos (Campestre, Bela Vista, Nova Vista), com um total de 11 bairros afetados.
Para minimizar essa situação de desabastecimento, emergencialmente a autarquia tem buscado água do rio Tanque, com reforço, até a semana passada, de cerca de 4 milhões de litros de água bruta para ser tratados na ETA Gatos.
E mesmo com esse reforço, e com as manobras necessárias, tem faltado água nesses bairros, mas a situação estaria muito pior se não houvesse essa gestão e captação emergencial.
Transposição só a partir de 2026, diz promotora
Já a transposição da água desse mesmo rio, a cargo da Vale por imposição do Ministério Público de Minas Gerais, via Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), somente deve ser concluída a partir de 2026, isso se não houver mais atraso na concessão de licença ambiental, a cargo dos órgãos estaduais. É o que informa a promotora Giuliana Fonoff Talamoni.
Antes, pelo projeto de parceria público privada, aprovado pelos vereadores da legislatura passada e sancionado pelo ex-prefeito Ronaldo Magalhães, o custo dessa transposição seria arcado pela população, com aumento entre 25% e 30% nas tarifas do Saae.
A responsabilização da Vale, por manter o quase monopólio das águas no entorno da cidade, só aconteceu com o TAC ministerial. Antes, a administração passada dizia que não havia como cobrar esse investimento da Vale.
Isso por considerar que estava cumprida a condicionante da Licença de Operação Corretiva (LOC), aprovada em 2000, mesmo tendo ficado muitas obrigações de fazer sem ser cumpridas por parte da mineradora, como é o caso da água.
Outras alternativas emergenciais
Ainda por força do TAC do rio Tanque, desde a sua assinatura em 2020, enquanto não se conclui a transposição com a construção de nova estação de tratamento na região do Pousada do Pinheiro, a mineradora Vale é obrigada a fornecer ao Saae, como reforço, 160 litros por segundo (l/s).
Além desse volume, desde 10 de julho a Vale passou a fornecer mais 30 l/s adicionais, distribuídos também por meio da alça hidráulica.
“A crise no fornecimento de água em Itabira só não está pior graças a esses reforços das outorgas da Vale e da captação emergencial do rio Tanque, além de outras manobras que temos feito”, afirma o presidente do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), Carlos Carmelo “Cac” Tôrres Bahia.
Entretanto, mesmo com esses reforços, com o agravamento da crise hídrica, muitos bairros ainda sofrem com a falta de água com a perda de vazão ocorrida em todas as fontes atualmente disponíveis para abastecer a cidade de Itabira.
ETA Pureza
O principal sistema de abastecimento ainda existente em Itabira, e que está definhando ano a ano, é o que supre a ETA Pureza, responsável por fornecerágua para 60% dos bairros de Itabira e 40% da população itabirana.
A estação tem capacidade de tratar 120 litros por segundo (l/s), mas só tem disponibilizado à população entre 85 e 90 l/s, mesmo assim graças aos reforços já encontrados para cobrir parte dessa queda.
Uma outra fonte alternativa que vem sendo utilizada, desde a segunda quinzena de agosto, é a captação de água em um córrego afluente do rio de Peixe. Desse afluente, o Saae tem bombeado 50 l/s 24 horas por dia, reforçando o sistema Pureza.
Outro reforço que vem sendo operado pelo Saae vem de uma captação emergencial no córrego Duílio, próximo do campus da Unifei.
Essa água está sendo encaminhada para uma lagoa existente no campus universitário, para de lá seguir por gravidade até a ETA Pureza para ser tratada. A expectativa com essa fonte é dispor de um reforço entre 40 e 50 l/s.
“Para a região servida pela Pureza, estamos com o abastecimento razoavelmente equacionado. Nosso desafio maior está sendo suprir a demanda nos bairros abastecidos pela ETA Gatos”, afirma o presidente do Saae.
Uso sem desperdício para evitar racionamento
Diante desse quadro de estiagem prolongada e seca severa, é imprescindível que a população faça uso racional da água, sem desperdícios lavando automóveis e calçadas com água tratada. Que seja feito o uso doméstico apenas para a dessedentação, higiene pessoal com banhos que devem ser também mais curtos.
Faça sua parte, não desperdice água, insumo imprescindível à vida humana e dessedentação de animais, muito mais que à mineração.