A essência esquecida da CPLP e a volta do xenofobismo em Portugal
Veladimir Romano*
Ora, justo quando o secretário-geral da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Francisco Ribeiro Telles, apresenta planos sobre a mobilidade entre nações comunitárias, estudantes da Faculdade de Direito da capital alfacinha (Lisboa) tratam de convidar seus colegas no átrio do centro universitário para remessarem pedras sobre estudantes brasileiros.

Triste episódio que nos leva a constatar a essência esquecida da CPLP, que é o respeito entre os povos, vendo ressurgir a xenofobia em Portugal. Se fosse Carnaval ou primeiro dia de abril, diria até ser brincadeira de mau gosto.
Mas infelizmente, não foi, justo quando dias antes se comemoraram 45 anos sobre o final do Estado Novo e o arrumar fascista no arquivo das lamentações. Trata-se do mesmo local onde alguns dos políticos de hoje e responsáveis sentados na diplomacia da CPLP reclamaram em mais de meio século por Liberdade.

Pois é nesse mesmo ambiente onde se clamava por liberdade que agora se absorvem silêncios estranhos, incluindo a própria Associação dos Estudantes Acadêmicos.
Estudantes brasileiros são agredidos hoje – amanhã serão os demais, que por direito e acordo internacional confiaram nas autoridades lusas, com as escolas acadêmicas absorvendo o grosso em percentagem dos estudantes nacionais [mais de 60%]. Não se entende tão repentina xenofobia e surpreendente preconceito abrindo escusada crise.
Naturalmente a Imprensa brasileira segue atentamente o problema, nada escapa nos pormenores. No entanto, Portugal, com muita dificuldade nesses momentos onde a bruta realidade sopra alto algum mau gosto de cidadãos mal formados, fica de todo absorvida pela situação venezuelana, canalizando jogos informativos do jeito ocidental.
Paradigmas esquecidos
A espécie baralhada do tema com notícias drogando a mente de quem não conhece ou nem sabe como certa classe jornalística sabe e pode manipular informação. Pois a CPLP igualmente esquece pormenores que dizem respeito à comunidade.
Perde assim, enorme e oportuno momento para demonstrar seus princípios fundamentais, mandando mensagem aos povos de Língua Portuguesa de como essa comum ideia existe com válidos valores sem fantasia. Ou será que essa essência ficou esquecida?

Não é a primeira vez, não será a última e será mais uma oportunidade dedicada às lembranças desta existência às vezes sofrida do que representa a realidade dos povos unidos pelos valores do idioma.
Quanto isso verdadeiramente comporta, entusiasma, solidariza, se afiança como afinidades são em maior número entre cada povo dos falantes de língua portuguesa. Vamos desde Macau, passando por Timor como ainda hoje por Malaca até Goa ou viajando por ambas partes geográficas africanas, chegamos ao território sul-americano abraçando o continental Brasil.
É sempre com demasiados paralelos idealistas, sonhos em fila de espera, vontade criadora entre outros epigrafes a jeito festejando ou comemorando novo secretariado organizando evento da CPLP, a famosa sigla hoje marcando presença no planeta quando ficamos como paralisados, esperançados para escutar o melhor.
No entanto, no final das múltiplas conferências, sentimos frustração, pelo vazio do tanto que fica por resolver, solucionar, reformar, avançar em linha reta. Isso sem fazer conta das questões frontais mais uma vez guardadas na gaveta, em vão, passadas ao próximo secretariado.
Cabo Verde, liderando a presente Secretaria-geral dessa Lusofonia até junho próximo, chegou com força. Seu representante discursou bem na cerimônia de posse. Tudo formal, até a novidade da Guiné Equatorial em exterminar tão malfadada “pena de morte”, ainda em vigor no país.

Tudo isso atrapalhando a boa convivência do clube das nações preocupadas pelo não cumprimento das promessas anteriores do governante guinéu-equatoriano, Teodoro Obiang.
Nem um naco da tão desejada democracia mudará para sempre a imagem duma nação, por demais rica que seja para ficar nas mãos apenas de poucos. Bem até que poderiam ser construídos passos favoráveis na construção desta comunidade no âmbito intencional, satisfazendo meios, publicitando valores, cortando limites, destruindo acanhamentos, instruindo almas, alcançando objetivos, criando fortunas doutrinadas pela experimentação dentro das relações entre povos.
Respeitável o número de nações observadoras que acrescentam responsabilidade na organização, como igualmente injusto algum esquecimento ou provocando explicações, depois conduzindo outras vontades a modestos resultados, quando as populações não encontram muita utilidade nos eventos, iniciativas e promessas da CPLP.
Ela tem dentro do sistema a essência, mas ela, de todas às vezes, tem andado totalmente esquecida. É um mundo com duas realidades falando idioma comum.
Sem discussão, sobram ainda bastantes escolhos, transtornos, equívocos no espírito dos organizadores políticos, na obediência dos diplomatas conduzindo administrativamente destinos dos caminhos de cada um dos membros.
Ficamos todas as horas, de anos trás anos, separando os menos otimistas ou crentes das coisas boas e da verdade quando ela pode ser suprema.
É o que aliviaria tanta dor de quantas mulheres, homens cortejando bons conselhos em ensaio a uma mobilidade realista sem barreiras, justa, criativa, completamente mais humanista, traduzindo argumentações em prática comprovada dos projetos prometidos pela CPLP, incumbidos de traduzida legitimidade.
Se criamos sonhos, queremos concretizá-los. Isso se faz conquistando esse caminho dos povos que se sentem unidos, irmanados, como a demonstrar que a CPLP é bem diferente. E que é de nível humanista, evitando tentações de políticas reacionárias, discriminatória ou alimentando tendências xenófobas.
Povos que procuram duplas vantagens, mas que apresentam argumentos energéticos em que todos já descobriram ser possível manter afinidades mais entendidas do que qualquer animalidade procurando separatismos, ensaios relativizando mandatos burocráticos.
Que diga o governo de Malabo com seus mais de 150 mil habitantes dessa capital. País onde se albergam agora mais de um milhão e duzentas mil almas nos seus pequenos 28 mil quilômetros quadrados, teimosamente mantendo pena jurídica radical contra regras da própria CPLP.
Até ao presente, presidente Teodoro Obiang nunca respeitou palavra, nem parceria com a CPLP. Entretanto, promessas ficaram: falta agora o rigor ser aplicado, recuperando tal essência positiva.
*Veladimir Romano é jornalista e escritor luso-caboverdiano
Tenho uma conhecida que reside em Lisboa já há 1 ano e que relata ter vivido algumas agressões por parte de Portugueses.
Penso com isso que falta ao mundo HUMANISMO. A guerra híbrida onde não precisamos de armas, mas o ódio mata todos.
Hora pois pois!