Uma obsessiva neurose a Ocidente

Ilustração: Fsolda, via
Wikimedia Commons

Veladimir Romano*

As diferentes tendências neuróticas, e absurdas do caráter social, têm conduzido europeus da região ocidental em conivência com influências oportunistas de ordem estratégica colocados no terreno da geopolítica dos norte-americanos que nunca escondem os seus intentos em relação ao Leste, agora com a maturação dentro do espaço supostamente unificador desta mesma Europa a 27, onde certas relações histéricas, espécie de astasia coletiva, tem alimentado fraquezas impróprias, embora situações negativistas, um dia, anunciaram a implosão e o crepuscular de conflitos ou mesmo a guerra.

A Europa não se farta de provocar estragos depois de Jean Monnet (1888-1979), ideólogo da unidade geográfica econômica europeia, ter anunciado o fim dos conflitos, quando finalmente viu o sonho realizado através dos primeiros seis países  coletores da Comunidade Económica Europeia [C.E.E.]; agora, se estivesse vivo, por certo, morreria com desgosto ao testemunhar tamanha brutalidade, loucuras, fanatismo bélico onde a modalidade traumática doutros tempos, não servindo essa lição, pelo menos serviria a sensatez.

Temos vivido o complexo de “Antigona”, o maldito narcisismo geral impondo orgulhos desumanos, agressivos, primitiva maneira de incidir como se os líderes atribuíssem a vida e, pudessem escolher a morte alheia. Em síntese: uma obsessiva posição no Ocidente renunciando o traçado democrático, preferindo dançar masoquismo em arquétipos repressivos, reprodução de acontecimentos acumulados ao longo de gerações, voz do desastre. Já nada é discutível e o filme terrorista, está feito.

Fracassamos. Atitudes que são avareza repetida, chantagens e outras fixações emocionais originando variáveis sintomatologias depois de várias semanas de pensamento analítico, anos de viagem em permanente aprendizagem, residências, trabalho, compromissos sociais, políticos, ambientais e até culturais, perdem-se no tempo.

Mas deixaram marcas dessa experiência; porém, não posso resistir, sendo preferível partilhar estas linhas seguintes deixadas pela sapiência do grande Eça de Queiroz das suas cartas escritas em Évora [edição da Presença em 1965, “Prosas Esquecidas III”, página 35, texto V, 20 de Janeiro, 1867], referido texto observa: «Pesa sobre nós uma imensa tristeza. Quem olha ao longe e ao largo por este triste país vê só indiferença, tristeza, apatia. Perto de nós a Espanha morre também em agonias ásperas e dolorosas… A decadência é íntima, estéril, destruidora. Todas as feições de decadência se enraizaram em nós. Quem nos salvará?».

É real. E certamente não serão aparatos nucleares e Jean Monnet, como homem sério, culparia o Ocidente e suas irresistíveis façanhas, servindo interesses, sim, contudo, menos referentes aos povos. Essas palavras do escritor e símbolo da Língua portuguesa, até nossos dias, levam guardadas 155 anos, entretanto, exemplifica em absoluto a realidade que se estende aos nossos olhos a diário na Europa e num mundo preferindo o lado politicamente catastrófico, delirante, ganhando fobias, derrotando valores simplesmente enterrados.

Porolongam-se assim ódios, vinganças, estabelecendo tempos a uma outra catalepsia onde alergias relativamente àquilo que os Estados Unidos gostam de ver, simbolizar e objetivar, dessa sensatez perdida, aprendeu a criar tormentas.

*Veladimir Romano é jornalista e escritor luso-cabo-verdiano.

 

Posts Similares

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *