A desumanização das tradições norte-americanas
Veladimir Romano*
Acumulando derrotas na sua estratégia política tanto internamente como no plano internacional, o presidente norte-americano vem construindo um dos mais degenerados programas políticos e sociais jamais vividos pelo povo dos EUA. Entretanto, é estranho saber que o Tribunal Supremo com nove juízes, cinco votaram pela desastrosa lei da separação de filhos dos país, o fim da racionalidade aprovada pelo máximo dos tribunais.
Não deixou dúvidas a ninguém de qual jeito seriam as políticas praticadas pelo novo líder responsável da Casa Branca. Se Washington se interrogou, o resto do mundo ficou impávido perante a situação estilizada do maioral dos negócios imobiliários, casinos e campos de golfe, pela primeira vez ocupando legado político norte-americano, iria perturbar todo o planeta.
Líderes internacionais europeus, asiáticos, africanos ou latino-americanos, não se entendem com o luxuoso presidente Donald Trump. Em tão pouco tempo, sem se importar como o mundo vê a suas decisões, elas têm provocado reações profundamente divisionistas no âmbito da população e nas organizações humanitárias. A separação de pais e filhos [desde abril até junho: mais de três mil], demonstra novamente propósitos racistas do governo, liderado por um homem estranho, arrogante, imprevisível, disposto a tudo para fazer prevalecer pontos de vista pessoais e sem ética.
A própria família Bush criou canal público onde elevou críticas severas contra o presidente. Efetivamente, foi em 2008, que o então presidente republicano George W. Bush organizou, assinou e garantiu prisão temporária para imigrantes ilegais na fronteira com o México. Porém, não havia separação das famílias e a Patrulha de Fronteira [Border Patrol], respeitava inclusivamente experiências do histórico movimento cívico: American Civil Liberties Union [União Americana pelas Liberdades Civis, UALC, com mais de cem anos e mais de dois milhões de membros ativos, atentos em 50 Estados federais, reclamando dos Direitos como nenhuma outra: www.aclu.org]; mantendo orientações, acatando também parcerias pontuais.
Na presidência do democrata Barack Obama se aplicaram algumas reformas beneficiando aqueles que mais há anos já viviam nessas condições irregulares na nação norte-americana, apoiando gerações mais jovens, filhos desses imigrantes, nascendo oportunidades, esperança e justiça a quem procura soluções favoráveis para suas vidas.
No presente, e em maio último, a UALC emitiu documento acusando abertamente maus comportamentos das autoridades federais responsáveis pela guarda fronteiriça, metendo esta mão dura nos imigrantes indefesos com violência verbal, física, abuso sexual sobre menores desacompanhados, deixando campo aberto aos traficantes.
Por outro lado, vendo-se atacado por quantos lados, Donald Trump, desesperado, mais uma vez usa e aplica velhas estratégias cínicas, onde já não cabe mais velhacaria, acusando os Democratas como culpados por essa lei discriminatória, que atenta contra princípios da Constituição norte-americana. Mentiras sucessivas do presidente Donald.Trump embaralham tudo quanto possa ter bom senso.
Separadas 45 crianças por dia dos seus pais, famílias vítimas da chantagem, sem nenhuma defesa possível, aqui, raro fica como o Supremo Tribunal dos EUA, suportando inexplicável desumanização sobre Direitos Cívicos, abandonando a boa maré da velha tradição humanitária norte-americana vinda de tempos remotos, quando a nação precisava de imigrantes, matéria prima ao seu desenvolvimento. Aliás, tipificada na famosa “Bill of Rights” [Declaração de Direitos, escrito pela primeira vez pelo Parlamento inglês em 1689], emenda aperfeiçoada na Constituição americana em 1946 justamente para defesa, favorável assistência, acolhimento e aconselhamento daqueles que em território americano procurem apoio humanitário.
Está bem claro na agenda da American Academy of Political Science [Academia Americana de Ciência Política], a primeira instituição a reclamar contra ordens executivas da Casa Branca, que a separação de crianças de tenra idade até aos dezessete anos é uma irresponsabilidade. Assim como reclamou das saídas precipitadas dos acordos comerciais, do nuclear com Irã/Irão, da Unesco, e agora do abandono da agenda dos Direitos Humanos. Hipocrisia, egoísmo… qual assombrosa incoerência.
Seduzidos pela aplicação radical da chamada lei “Tolerância Zero”, do secretário Jeff Sessions, usando pontos de vista bíblicos, fanaticamente racistas, denunciando algumas organizações destas práticas ilegais, incluindo dezessete Estados contra Donald Trump, acusado de ser “idealista desumano”. A ideia do presidente norte-americano de segregar as crianças de seus pais ultrapassa a própria lei de 1940, quando na Segunda Grande Guerra, o Estado californiano decidiu criar campos de concentração para controlar mais de 100 mil japoneses, mas jamais separando famílias.
Agora é hora de perguntar: «What country is this? Que país é este?», como um dia perguntou aí no Brasil um ex-senador biônico e ex-governador nomeado de Minas Gerais. Foi o que perguntaram também em cartazes manifestantes frustrados com decisões bizarras, dogmas genocidas duma administração sem soluções verdadeiras, que não pensa na primazia do significado “Direitos Humanos”, bem exemplificada quando da decisão pelo abandono de várias instituições internacionais relevantes.
É coisa deletéria, assuntos demasiados deploráveis nas posições dum governo com críticas desconexas, usando leis como instrumentos belicistas e severos contra populações indefesas. Tudo isso com «fortes violações dos direitos», «infração de leis internacionais» contra seres humanos, vítimas de nações inteiramente submissas aos caprichos dos Estados Unidos da América.
É na raiz de enormes equívocos de políticas antissociais, muita prática corrupta nas mãos elitistas de políticos desonestos por onde floresce toda a gigantesca injustiça contra povos latino-americanos, que sofrem angústias, discriminação, toda a humilhação domesticando migrações forçadas, caminhando desordenadamente à fronteira norte-americana.
O ato desatinado do governo “trumpista”, melhor que ninguém, sabe inverter críticas para não refletir. Quando a ONU julga um dos seus membros mais destacados nas decisões duma administração sem ética, adianta que regentes de Washington que eles estão «fora da lei, transgredindo regras internacionais, não respeita princípios?». Não se pode ficar indiferente a tanto desatino contra imigrantes, estampido querendo não só estrafegar imigrantes acreditando que ainda haja esperança, mas desejando igualmente sufocar a comunidade humana num planeta perturbado, bastante desarrumado. Entretanto, o bom das tradições humanistas nascidas com as populações do mundo, hoje, entre os norte-americanos está perdendo vitalidade ou pior: caminham para a desumanização em passos largos.
Se houvesse algum equívoco, Porto Rico é, depois de nove meses, território abandonado pelo regime de Washington. Mais de 40% da ilha continuam sem energia elétrica, em lenta agonia depois de tanto sofrimento após o terrível vendaval provocado pelo “Furacão Maria”. A ilha continua perdendo dinheiro importante para a sua sobrevivência quando o turismo não vem; são mais de US$ 12 bilhões que a economia local perde anualmente, anulados pela falta de condições.
São norte-americanos, sim, mas foram deixados para trás, como escreveu o “El Boricua”, mensário cultural reafirmando que com o desastre natural, cada cidadão da ilha ficou devendo US$ 17 milhões aos EUA. Porto Rico, com seus 4 milhões de habitantes alocados em 10 mil quilômetros quadrados, em onze anos de perdas financeiras sucessivas, viu sua economia acumular dívidas, que já alcançam 92.5% sobre o produto interno bruto, dos US$ 73 bilhões da sua dinâmica desfavorecida, mas que o Tesouro Nacional de Fort Knox não perdoa.
Não é complicado compreender como a velha essência humana dos valores, nas mãos do grupo mais recente ocupando o cadeirão grande da Casa Branca, deixou Washington nas ruas e praças com muita amargura. Vamos ver quanto tempo mais durará todo um teatro veloz pela destruição da maior consciência da sociedade civil que não chega só reclamar, mas antes eleger entre a defesa ou a perda dessa altruísta maneira de humanizar a emigração na boa tradição das nações desse “novo mundo”, onde todos nós desejamos um planeta de renovada esperança.
*Veladimir Romano é jornalista e escritor luso-caboverdiano, colaborador deste site Vila de Utopia
Este Mundo desses dias anda movido a divagações:
-as pessoas não estão sabendo mais se vão ou se ficam, ou melhor dizendo, se podem ir ou se podem ficar…