A dependência ao carvão mineral provoca reflexos estratégicos nas políticas ambientais
Veladimir Romano*
Qualquer cimeira tem hábitos próprios e postura. Como na política, quando existem decisões diretas, rapidamente compreendemos os reflexos desenhados pelos grupos representativos das missões de cada nação invadindo corredores e gabinetes, preparados que ficam para vencerem diferenças, ajustando finalidades estratégicas. Uma curiosidade impossível de não justificar quando esperamos ansiosamente pelo melhor dos mundos.
O final de 2017 foi agitado. Na última grande reunião das nações discutindo o problema climático, oportunamente apoiada pelo governo alemão [Bona se engalanou de preceitos favoráveis ainda que sendo criticada pelas tomadas negativas do governo conservador, favorecendo sua produção industrial, aumentando desmesuradamente a utilização do carvão] todos não deixaram de elogiar a iniciativa.
O carvão mineral alimenta 45% da energia elétrica consumida em território alemão; isto pelo país ter uma das maiores jazidas do mineral em alta qualidade [seguidamente vem a Polônia/Polónia, Ucrânia e Rússia]. Pelo meio das apresentações, representantes da casa, prometeram aumentar os investimentos na energia solar, parques eólicos, hidrelétricas/hidroelétricas, para assim a Europa permanecer no topo dos recordes em energia renovável.
Sendo alemã a maior economia europeia, a ministra não deixou de ocupar seu lugar, prometendo igualmente para 2018, um plano para o abandono desta utilização exagerada do carvão. Estratégia contudo somente válida depois de 2030. Outros queixumes, que mesmo não sendo novidades, confirmaram a birra burocrática com qual muita decisão e soluções se complicam.
A FIDIC [Federação Internacional e de Consulta dos Engenheiros], apresentou projeto sobre o cumprimento dos acordos. E apresentou orientação aos países que os seus governos apresentem complicações ou afastamento relacionado nos compromissos assumidos em Bona. Isso, embora sabendo que em dezembro, o COP24 influenciado pela França, irá ser exigente, incluindo desta vez a presença do renegado anti-ambiental presidente Donald Trump, que terá de se confrontar com seus fantasmas em Catovice.
A presente realidade, trouxe a FIDIC [com sede na Suíça], hoje, uma das vozes mais importantes de nível global bastante escutada e respeitada, como líder no ajuste de acordos, monitorando objetivos, assim como estuda implementar projetos apoiando e encontrando soluções; realiza oficinas em mais de setenta países de três continentes, canalizando investimentos a nações com fraco rendimento financeiro.
Outras propostas das mais interessantes foram apresentadas pelo Canadá, que procura criar liderança positiva contra o carvão, em parceria com o chamado “Grupo do Banco Mundial”; versão equivalente ao Banco Mundial numa agenda financeira de apoio a países de menor economia. A ideia se concentra numa aceleração crescente os países menos industrializados e que buscam o crescimento econômico.
Por obrigação, no final, não faltou o prefeito da capital [província Alta Alsácia]: Marcin Krupa, responsável de Katowice (Catovice), declarando que a próxima reunião… “Será para refletir o problema polonês sobre energia e a dependência do carvão…”. É aqui nesta região onde ficam as maiores jazidas do carvão onde em 1990, eram extraídas mais de 120 milhões de toneladas, descendo para 60 milhões em 2015, deixando igualmente o país de ser o maior exportador tanto quanto a energia depende ainda em 100% do carvão.
Novamente pelos corredores, não faltaram conversas, com trocas de impressões sérias, acabando como opiniões de carteira. Reafirma Joanna Mackowiak, ambientalista, criticando a baixa qualidade do ar do seu país tão rico culturalmente mas tão pobre ambientalmente e como a situação ecológica cria pressão no governo. Retifica seguidamente o jornalista Wojciech Jakobik [também economista], dizendo de como o povo vive apreensivo desde então, desconfiando da insegurança e da economia energética, mas mantendo o povo na consciência como a nação de Chopin vive tão dependente do carvão… “Como foi possível ninguém ter compreendido o crescente vício e acomodação ao mineral…?!”.
O esperado COP24, titulado de “Acordo de Katowice”, sendo o mais recente protocolo, marcará em dezembro o calendário de 2018, quando serão bem-vindos todos e quantos inovadores pensamentos, ações, vontade criativa, outras soluções favoráveis.
Despachados devem ser os amigos de má ocasião sempre trazendo ou descobrindo obstáculos e fraca ambição. Na mente, deverá permanecer a vergonha que foi o COP19 de 2013, realizado na elegante e cultural Varsóvia, quando poloneses se mantiveram ausentes aplicando o truque da “neutralidade”. O que mais tarde desfavorece relações com a União Europeia, estabelecendo até hoje vários períodos de enorme perturbação diplomática.
Descontando o assalto dos ambientalistas e de outros movimentos sociais [mais de cinco mil pessoas], que embaraçaram o dia na maior mina de carvão europeia a céu aberto [Hambach, na Renânia, buraco com 85klm2 de superfície por 350m de profundidade, produzindo 120 milhões de toneladas/ano com 90% para energia elétrica e restante 10% ao aquecimento das habitações], enquanto no momento, Sarney Filho, chefiando a delegação brasileira, dava notícias vigorantes, otimistas, em longa apresentação criticando também subsídios favoráveis para empresas petrolíferas; mais adiante elogiou os “avanços” da política ambiental e dos resultados positivos sobre estratégia florestal aplicada desde os governos de Lula da Silva.
Uma das últimas observações foi feita pelo responsável da Greenpeace, Stefan Krug, acusando a boa minoria e nem só, [alguns membros do capitalismo selvagem não sabem como lidar com o desenvolvimento da presente para a futura geração] aplicando velhas estratégias cínicas contra a implementação das oportunidades renováveis. Utilizam alguns dos derrotistas de chantagens sujas contra outras estratégias possíveis favorecendo boas oportunidades ambientais.
O certo porém, será esperar com muita paciência pelo final do ano e ver o que acontece em Catovice… pelo caminho vai o planeta no entanto perdendo, mas mais ainda será a derrota humana caso a realidade não levante consciência, rapidez e muita eficácia na solução dos problemas climáticos que se vão agravando a cada dia.
* Veladimir Romano é jornalista e escritor luso-caboverdiano, colaborador deste site Vila de Utopia
Seria o caso de a Alemanha tomar do próprio remédio que vaticina na Comunidade Europeia.